
NILSON RIBEIRO – Meu quintal é um privilégio. Os flamboyants nos dão lindas flores vermelhas. As pitangueiras nos presenteiam com doces pitangas, as mangueiras, a seu tempo, ficam vergadas de mangas. Os pássaros nos alegram com todos os cantares…
Recordo-me da parábola dos talentos, proferida pelo Mestre Jesus. O patrão distribui os talentos aos empregados e viaja. Quando retorna, agradece e celebra com aqueles que multiplicaram os talentos recebidos, mas lamenta aquele que enterrou o seu talento com medo de perdê-lo. Tudo deve dar de si o quanto tem, que é a ordem da vida. Pitangas, flores, cantos, mangas… Há quem diga: “não tenho nenhum talento que valha a pena”! Não é verdade. Lembro-me de uma linda história que ouvi de um de meus mestres:
Conta-se que Maria, Nossa Senhora, anunciou que visitaria um belo monastério, em razão da grande fé de todos os homens santos que lá oravam dia e noite. Os monges todos se prepararam para receber a maravilhosa visita. Todos treinaram alguma apresentação. Havia, contudo, entre eles, um monge muito humilde, mal sabia ler, sem voz para o canto.
Preocupados que o tal monge – considerado abobalhado – viesse a envergonhar todo mosteiro, os demais irmãos pediram a ele que ficasse em algum lugar fora da vista da milagrosa visita.
Eis que Nossa Senhora chegou. Mas não sozinha. Para espanto e exultação de todos, Nossa Senhora trouxe o menino Jesus no colo!
E os monges, tomados de emoção, iniciaram as apresentações preparadas. O primeiro declamou lindos poemas à Virgem, outro entoou um canto angelical, outro ainda proferiu as escrituras de cor.
Enquanto os eruditos se apresentavam, o menino Jesus apontou para um mongezinho escondido entre as colunas. Era o tal monge mal letrado. Enquanto a Virgem e menino Jesus se aproximavam do mongezinho, a comunidade segurava a respiração, com vergonha antecipada. O pobre monge, que pouco sabia fazer além de orar e amar, tirou da batina três limões e passou a fazer um malabarismo. Os limões subiam e desciam sob o olhar curioso do menino no colo da mãe. Foi a única vez que o menino Jesus sorriu. E foi a único irmão a ter a honra de carregá-lo ao colo…
Qual é o seu talento? Seja qual for, espalhe-o. Fazer bolos, malabarismos, fazer sorrir, ensinar, ajudar, tocar um instrumento, consolar, costurar, cozinhar, ouvir, dançar… Todos os talentos importam. Não deixe enterrado esse talento.
Quanto a mim, só sei semear palavras e canções. Nasci poeta e peço a Deus o dom de poder inspirar alguns corações em busca do que realmente importa nessa vida. Acho que, dessa forma, não enterro o talento que me foi concedido.
Bom Dia, Vida!
nilribeiro63@hotmail.com
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