NILSON RIBEIRO – Há muitos lugares considerados sagrados no mundo todo. O Ganges para os Hindus, o Caminho de Santiago de Compostela para místicos e buscadores, Meca para os muçulmanos, Lhasa para os budistas, o Monte Sinai, Jerusalém, e tantos outros pontos de peregrinação, meditação, purificação e oração. Todos eles lugares especiais para quem assim os considera. Me ocorreu falar disso recentemente visitei dois locais em que sinto mais forte minha conexão com o “Aberto”, a “Graça”, a “Presença”.
Estive com minha família na praia de Barequeçaba (em São Sebastião) onde minha amada Mônica passou a infância e a adolescência, onde eu mesmo me reuni em doces tardes de música e papo com amigos na minha juventude, e onde agora levo meus filhos para caminhar na areia limpa e se banhar nas águas claras desse ponto pequenino do Atlântico. Depois fomos para Carrancas, no interior de Minas Gerais, cidade que aprendi a amar, mas que me amou primeiro, e me apresentou à exuberante beleza das coisas simples: flores do cerrado, uma nascente em meio às pedras, o olhar do povo simples e valente. Baraqueçaba e Carrancas são lugares onde me sinto mais fortemente conectado com a beleza e a vida.
Mas meus verdadeiros lugares sagrados são outros dois. O primeiro, este exato lugar onde meus pés pisam, este nada de terra que sustenta o equilíbrio deste corpo, que vive neste tempo e neste espaço seu sopro de história. E que se estende pelo resto do planeta, tornando cada pedaço desse chão um solo sagrado, desde que habitado com plena consciência. Disse o místico: quem caminha, sem meditar na jornada, apenas levanta poeira no caminho. E o mestre vietnamita Thich Nhat Hanh: “milagre é caminhar sobre a terra.” Esse primeiro lugar que me é sagrado é um lugar chamado “Aqui”.
O outro lugar sagrado eu só posso encontrar na quietude. São os recônditos do meu próprio coração, em cujo silêncio encontro minha verdadeira face e origem. Há um koan Zen que pergunta: qual era a sua face antes de seus avós nascerem? Pois neste lugar eu a reconheço! É onde sinto a “Presença”, a “Graça”, aquilo que “É” antes que eu seja. Onde ouço claramente a melodia do inominável, o som do incognoscível, daquele que habitamos e nos habita, e que podemos carinhosamente chamar de Pai, ou respeitosamente reconhecer como Deus. É um lugar que é, ao mesmo tempo, um tempo. Um lugar chamado “Agora”. Aqui e Agora. São lugares sagrados sempre à nossa disposição, graciosamente, mas que nem sempre visitamos com a devida frequência e com a plena atenção necessária para desfrutarmos de sua sacralidade.
Bom dia, Vida!
nilribeiro63@hotmail.com
Deixe uma resposta