
NILSON RIBEIRO – Oggi apareceu do nada aqui em casa. Um filhotinho muito simpático, vira-lata, que chamamos inicalmente de Doddy porque ainda não entendíamos direito o nome que nosso pequeno Arthur, com então dois anos, havia escolhido. Parecia Doddy, mas podia ser Toddy ou até George… Mas é Oggi. Teoricamente ele pertenceria aos tios de meu filho Arthur, Daniel e Brenda, porque foi lá na frente da casa deles, no mesmo terreno aqui do sítio, que ele se instalou numa noite de sábado. Depois de devorar duas vasilhas de ração e uma de água, e ganhar uma casinha quente e aconchegante para dormir, decidiu que aqui era um bom lugar para ficar.
E foi amor à primeira vista para todos. Mas, ainda mais, para Arthur, com direito a rolar no chão, mordiscadas (de ambas as partes!) e até lambidas e beijos. Então, os tios concordam: Doddy é de Arthur. Hoje Arthur tem seis anos, e Oggi, quatro. E são amigos inseparáveis.
Não é coincidência. No mesmo dia eu havia conversado com Mônica, mãe de Arthur e minha amada companheira, que estava pensando em dar um cãozinho para o menino. Não que não tenhamos cães aqui. Temos quatro – Noel, Palito e Edmundo, três vira-latas, e Fumaça, Dog Alemão que é mais vira-lata que os outros três. Mas é que eu penso que toda criança deve ganhar um filhote de cão que seja seu. Penso que é uma das melhores coisas que pode acontecer na vida de uma criança. Eu não tive um cãozinho quando criança. Gostaria de ter tido.
“demorei quase uma vida inteira para compreender que a essência da plenitude está em aprender a amar, muito mais do que em se sentir amado”
Nós nos esforçamos tanto todos os dias para sermos amados e aceitos. Queremos sentir que somos importantes para alguém – pai, mãe, companheiro, amigos. E concordo que neste mundo é consolador se sentir acolhido. Mas demorei quase uma vida inteira para compreender que a essência da plenitude está em aprender a amar, muito mais do que em se sentir amado.
O amor verdadeiro, incondicional, é difícil e exigente. Aprendemos muito cedo que amar pode ser dolorido. Então criamos certas restrições do tipo “só vou amar quem retribuir esse amor”. Aqueles que amamos podem nos machucar, nos trair, partir de uma hora para outra. Podem não retribuir, não compreender, não aceitar o nosso amor… Mas em algum momento na minha jornada compreendi que ainda assim devemos continuar amando, sempre mais.
Os mais difíceis são os que mais nos transforam, quando temos a necessária paciência e a indispensável perseverança. Em algum momento, vamos vivenciar a verdade (e a verdade nos liberta!) de que quando amamos incondicionalmente, nada nesse amor pode nos ferir. Porque não criamos expectativas sobre o objeto desse amor. Apenas amamos e fazemos o nosso melhor. O próprio amor é nosso prêmio.
Por isso entendo, por exemplo, que crianças especiais tornam seus pais – e todos em volta – pessoas especiais. Porque exigem um amor diferente, exigente, transformador. E quando devotamos sinceramente nossa energia no aprendizado (ou descoberta) desse amor dentro da gente, encontramos o maior tesouro escondido no coração. Os cristãos podem chamar de “Reino dos Céus”, os budistas chamam “Iluminação”. Há ainda outras palavras em outras tradições: Moksha, Sartori, Êxtase Espiritual. Eu gosto de “Amor Verdadeiro” mesmo.
Assim, Oggi é um presente de Deus para Arthur e para nós. E assim ele foi e sempre será tratado aqui neste lar. Como um enviado, um anjo cheio de lições para enriquecer a jornada de meu menino e de nós todos aqui. Porque esse filhote só precisa de uma única coisa em troca desse infinito tesouro de sabedoria que vai nos ensinar: ele só precisa ser amado. Aqui ele é.
Bom dia, Vida!
Nilribeiro63@hotmail.com
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