Perigo: teatro

JOSÉ SIMÕES –  Toda vez que a sociedade se encontra em crise o teatro se torna algo perigoso para aqueles que estão no poder.

Nesses tempos os artistas são fortemente atacados, desqualificados profissionalmente e economicamente.

Já assistimos a este filme em diversas partes do mundo. No Brasil, por exemplo, durante o período da ditadura militar as artes e, especificamente, o teatro sofreram uma barbaridade.

Ao mesmo tempo, nesses tempos ruidosos é que o teatro se faz necessário. Afinal o teatro é o espaço de conexão com o outro, do coletivo. O teatro não acontece sem o outro, sem a relação com este outro. O teatro não é uma atividade solitária. Exige presença.

Durante as crises – econômica, moral, ética – o “ cada um por si” se aflora na sociedade e o outro passa a ser o inimigo a ser combatido e/ou ignorado. Nesse contexto alguns parecem querer resolver tudo a partir do seu ponto de vista ou na bala ou no grito. Os olhares se tornam enviesados. O teatro, portanto, como local do encontro se torna algo perigoso.

É bem por isso que se falam uma mar de bobagens acerca do teatro e dos artistas. Por exemplo: os artistas desviam dinheiro. Pode até ser que exista algum artista que desvie algum mas quantos artistas brasileiros milionários você conhece? Você acha, por exemplo, que a Fernanda Montenegro é milionária? Toda vez que ela pensa em montar uma peça precisa sair atrás de patrocínio. E você não imagina a dificuldade que é a prestação de contas.

Outra afirmação comum aos ataques a profissão é que os artistas são uns imorais. Apenas lembro que a ida ao teatro é uma ato voluntário. Você não é obrigado a assistir algo que não concorda. Não concorda, não vai. Livre arbítrio. Ponto. Os artistas no palco devem ser livres para dizerem e fazerem o que quiserem. Mesmo que em desacordo com a cultura vigente.

É justamente esta liberdade que assusta aqueles que tem o poder. E se as pessoas gostarem de ser livres?

Realmente o teatro é perigoso.

Faz pensar. É capaz de reunir pessoas. É um ícone da liberdade. Sim, no teatro as escolhas são suas.  Não há nada mais emocionante do que nos vermos ou sermos provocados por uma cena. Respiração, olhar, gesto, carne, sangue, voz presentes no aqui agora. Sem mediação. Simples assim.

É bem por isso, que o teatro nunca vai morrer. Nem ser domesticado. Nalguns tempos ele pode até ficar retraído. Mesmo acuado. Entretanto, seja, nos porões, sótãos, galpões, onde cada jovem atriz ou ator resiste fazendo teatro ou, seja, em cada texto teatral escrito, na esperança de ganhar a cena, é que o teatro se fortalece para emergir forte e vigoroso.

Onda vai, onda vem.

Sinto que vem por aí a mudança desta maré.

Esta para emergir o teatro que ira marcar esta geração. Conectado com este tempo.

Um aviso do tempo vivido:  o teatro, na mudança, também não perdoa e nem poupa os seus. Nem os acomodados e os amigos do rei.

Realmente o teatro é um perigo.

Um comentário em “Perigo: teatro

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  1. Tema super oportuno, professor – bravo! No Brasil de hoje, mais do que nunca, o teatro é o espaço perfeito para se promover a reflexão, o debate de ideias e colocar uma luz poderosa sobre aquilo que é obscuro e quer permanecer por lá ad infinitum. Já passou da hora de separarmos o joio do trigo, os atores dos impostores, a vida da morte. Vamos ao teatro! Merda pra todos nós! Merda pro Brasil!

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