

NILSON RIBEIRO – Aconteceu numa tarde dessas. Eu estava em casa com Arthur, meu menino, quando deu a hora da soneca dele. Contei uma história e ele logo adormeceu. Como eu estava por conta de cuidar do meu pequeno, fiquei no quarto, velando o sono do meu filho.
Velar é uma palavra linda. É tornar-se vela, iluminar, espantar a escuridão. E quem não quer um caminho de luz para os filhos, mesmo nos sonhos?
Enquanto eu olhava para ele, me dei conta de que ele estava crescendo. Não uma percepção lógica de que os filhos irremediavelmente crescem. Mas a percepção absurdamente incontestável de que naquele mesmo momento ele estava crescendo, sob as minhas barbas. É uma verdade cristalina. Eu sei porque toda vez que medimos o garoto ele cresceu um pouco mais. Contudo, por mais que eu olhasse, não via esse milagre acontecer diante de meus olhos.
Eu só sabia, sem a menor dúvida, que isso estava realmente acontecendo. Um milagre, diante de meus olhos, mas eu não podia enxergar.
Percebi! Quantos milagres são assim? Estão acontecendo agora mesmo, neste instante, e a gente não pode ver. Talvez todos os verdadeiros milagres sejam exatamente assim…
O coração bate, a respiração respira, água vira ar e vira nuvem e vira água, a grama cresce, uma estrela nasce, uma estrela morre, um amor se renova (porque – não se engane – aprendi que amor, amor mesmo, incondicional, que é único modo de amor possível , nunca morre). Um sorriso brilha puro em meio ao absurdo, um choro lava a alma coberta de dor, um grilo pulsa a noite, um pássaro desenha o céu, um novo universo em algum lugar de uma galáxia distante que a gente nem imagina, e….. Deus. Está aí, diante do nosso nariz.
“Quantos milagres são assim? Estão acontecendo agora mesmo, neste instante, e a gente não pode ver. Talvez todos os verdadeiros milagres sejam exatamente assim…“
Apenas ocorre que nossos olhos tão destreinados não conseguem captar. Só o confiante coração atento perscruta. Como o suave crescimento de Arthur, tão certo, tão milagroso e tão imperceptível pelo sentido comum. É preciso um coração silencioso e abundante em gratidão para reconhecer (e agradecer) a cada minuto os tantos milagres que ocorrem à nossa volta.
De repente, entendi o sentido da frase do célebre escritor Walt Whitman: “Quanto a mim, só conheço milagres”.
Bom Dia, Vida!
Nilson Ribeiro é Psicanalista
#coletivoterceiramargem
#umanjopassouporaqui
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