
NILSON RIBEIRO – Como humanos, somos seres complexos. Na forma biológica e na latente necessidade de buscar respostas, sejam elas nos dadas pelas vias intelectuais e científicas ou pela espiritualidade.
Mas necessitamos visceralmente de sorver a essência lúdica para não sucumbirmos à aridez desértica que nos impõem nossas próprias questões eternas.
É preciso encarar bravamente os clássicos, enfrentar as poesias e suas loucuras, desafiar nosso intelecto com as provocações dos filósofos, desbravar as artes por caminhos nem sempre seguros, sofrer com Van Gogh, com Beethoven, com Lennon, com Criolo, com Rilke, com Graciliano, com Cazuza, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Ferrez e outros tradutores da alma. É preciso chorar ouvindo “Piu Jesu”, ou “Lakmé” na voz de uma soprano, ou ouvindo “A Carne Mais Barata do Mercado é a Carne Negra”, com Elza Soares.
Não se torna um ser humano completo sem essa aventura. Não se chega sequer perto disso. É essa ousadia que nos potencializa a sensibilidade de olhar o outro, de buscar com respeito essa alteridade, de enxergar além de si próprio, de reconhecer-se na pluralidade e na diversidade.
E para além disso, de não conformar-se apenas com a intelectualidade ou mesmo com as essenciais respostas científicas. Não entregar-se cegamente ao fundamentalismo religioso que nada tem de espiritual. Muito menos à sedução do poder e da riqueza. Nem da violência ou da truculência.
Sem essa aventura somos tão áridos como o deserto de uma existência sem cor, sem poesia, sem música, sem alma. Nos tornamos qualquer coisa a lembrar vagamente um potencial ser humano.
Não nos faltam exemplos desses seres que vagam tristemente pelo planeta, pelo mundo corporativo, pelas ruas, pelas comunidades religiosas, pelos gabinetes dos poderes do país, nos altos comandos. Seres melancolicamente apequenados, sem brilho, sem paixão, que escondem-se na ilusão de se acharem superiores enquanto chafurdam na miséria de suas almas ressequidas.
Viva a cultura, a filosofia, a poesia, a música e toda manifestação lúdica que nos faz humanos!
Bom dia, Vida!
Nilson Ribeiro é Psicanalista, escritor e músico.
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