Kerouac: a pérola de liberdade que nos é ofertada

LUIZ PIEROTTI – A primeira vez que segurei um livro de Jack Kerouac nas mãos, tinha apenas 19 anos, vivia numa pequena cidade do nordeste paulista e sonhava em ser um escritor. Costumava caminhar por horas pelas pequenas e poeirentas ruas que circundavam minha casa, ostentando um caderninho de bolso e uma caneta, objetos que sempre levava comigo, e que jogava sobre as mesas dos bares por onde zanzava a buscar qualquer tipo de inspiração. Parágrafos mal acabados entre um copo e outro.

Kerouac me serviu como uma luva. Assim que observei a capa amarelada daquela versão de bolso de “On the Road”, senti que algo ali falaria comigo (apesar dos quase 50 anos que separavam o jovem escritor americano fã de jazz, do jovem sonhador tatuiano, que curtia punk rock).

Foto do autor americano

Maior ícone da geração beat, nome esse introduzido pelo próprio escritor ao se referir ao grupo de jovens anti-conformistas nova-iorquinos no final dos anos 40, Kerouac se posiciona como um pilar da contracultura de sua época. A temática, recheada de rebeldia, viagens (físicas ou não), filosofia e de uma constante busca por liberdade, refletia um desejo latente de mudança e autoafirmação que cresciam entre os jovens americanos da metade do século XX. Mas sabem como é, mudam-se os tempos, mas as vontades nem tanto assim… Fui fisgado.

“Qual é a sua estrada, homem? – a estrada do místico, a estrada do louco, a estrada do arco-íris, a estrada dos peixes, qualquer estrada… Há sempre uma estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância. Como, onde, por quê?”

Jack Kerouac

Aos poucos, já na faculdade, percebi que não era o único que havia me afogado nas páginas do artista beat. Outros companheiros, que caminhavam no mesmo ritmo que eu (on the beat), também o adoravam. O isolado e quase místico Jack Kerouac, que datilografava semanas a fio, num compasso narrativo alucinante, em grandes folhas de papel manteiga, de forma ininterrupta. Muitas vezes sem se preocupar com a cadência de sua escrita ou com a devida acentuação de suas sentenças, seguindo apenas o fluxo criativo de uma mente que explodia de empolgação, desejo e substâncias estimulantes.

On The Road, seu livro de maior sucesso, foi posteriormente apelidado de “Bíblia Hippie”, mas essa não é uma alcunha justa, ao meu ver. On The Road ultrapassa os limites da contracultura dos anos 50 e 60. É uma mensagem atemporal, que faz e fará sentido para todos aqueles que buscam, em algum lugar do mundo, um significado para seu vazio. Que refletem a liberdade que existe em longas estradas, ou a empolgação das batidas de um bom jazz. Para mim, On The Road será sempre a materialização literária da voz de toda a juventude.

Leitura de trecho da obra “On the Road”

2 comentários em “Kerouac: a pérola de liberdade que nos é ofertada

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  1. Oi Luiz. O Kerouac é mesmo fantástico e marcou também minha vida. Ótimo poder ler sobre ele logo pela manhã. Abraços.

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  2. Muito bom. Adorei a análise e o trecho escolhido. Realmente Kerouac está muito acima da contracultura, embora a tenha inspirado em grande parte. Parabéns, Pierotti. Sempre um ótimo conteúdo.

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