JOSÉ SIMÕES – Uma cidade do tamanho populacional e relevância política de Sorocaba não poderia ter somente dois teatros em funcionamento – Teatro Municipal Teotônio Vilela e Teatro SESC. Isto é, espaços teatrais com equipamentos, conforto técnico adequados aos artistas e ao público.
O Teatro do SESI está fechado para manutenção e a sala FUNDEC tem como objetivo prioritário atender a música e a orquestra.
O SESI iria construir outro teatro em Sorocaba, no terreno que lhe foi doado pela prefeitura no Mangal. Entretanto desistiu. Trocamos seis por meia dúzia. O SESI irá apenas reformar o teatro que já existia. Não irá mais construir um novo teatro para a cidade. Essa desistência foi ratificada pelo poder publico. Os dois desistiram.
Para além disso temos no município auditórios improvisados utilizados para apresentações de teatro, da música e da dança. Mas nenhum deles têm as condições técnicas mínimas para receber espetáculos profissionais.
No meio desse processo os artistas da cidade, cada qual ao seu modo, seguem produzindo e colocando metaforicamente o “bloco na rua”. Ocupando e transformando os espaços possíveis. São músicos, poetas, performers, atrizes, atores, dançarinos, bailarinas e artistas das artes visuais produzindo muita coisa na cidade, em espaços que não são próprios para a apresentação dos seus trabalhos artísticos.
O edifício (ou sala teatral) não é a mesma coisa que um auditório ou uma sala vazia. São necessários requisitos técnicos, tais como: Iluminação, sonorização, camarins, palco e plateia (nos mais diversos modelos).
É certo que os artistas se apropriam do espaço e o transformam. Mas a que custo?
Principalmente porque para muitos este “lugar outro” não foi uma escolha e, sim, foi falta, ausência, carência.
Não se pode improvisar o espaço “teatro” o tempo todo
Não é à toa que observamos todo ano uma “disputa acirrada” pela agenda do único teatro no município de Sorocaba. Pois o outro teatro – teatro do SESC – tem uma agenda própria, com poucas possibilidades para os grupos da cidade.
Imaginemos que tenhamos quarenta escolas/academias (são muito mais) de dança buscando duas datas, no final de semana, no teatro municipal?
Ao mesmo tempo que trinta grupos de teatro da cidade busquem, também, um final de semana para apresentar uma única vez a sua montagem?
E dez produtores outros, também, quisessem trazer espetáculos da capital ou de outro estado ou mesmo da região para se apresentar em Sorocaba?
Sem falar nas ações da própria secretaria e da prefeitura que, também, querem “brilhar” no palco do teatro municipal.
Pois bem, o ano tem somente 52 duas semanas.
Não cabe todo mundo nesse espaço. Desse modo, obviamente, não há agenda para todos.
Daí começa uma briga fratricida.
Afinal quem teria o direito de ocupar este espaço? Quais seriam os critérios?
E por aí seguem os questionamentos.
O modelo de ocupação do teatro municipal não colabora na formação de públicos
Apesar da agenda lotada do teatro não há formação de plateias ou públicos. Isso porque são públicos específicos daquela ação ou espetáculo no teatro. Por exemplo, os pais e amigos que foram ver o filho ou a filha num dado espetáculo, lá estão somente com este objetivo e não são estimulados a consumir e vivenciar mais espetáculos.
Não se desenvolve, com este tipo de ocupação, o habito de se ir ao teatro.
Estes e outros fatores enfraquecem as artes produzidas na cidade. Deixam-na refém da precariedade.
A situação atual pode ser traduzida como uma falta de política pública de fomento a formação e fidelização de públicos.
Mas este é outro assunto.
A questão, aqui, é a necessidade de mais teatros na cidade. Mais edifícios teatrais.
Nós temos uma lei que obriga a criação de teatros no município
Se não há dinheiro publico para isso que tal uma lei que fomente e estimule a criação de teatros no município? Isentos, por exemplo, de impostos? Por que não?
Pesquisando sobre o assunto descobri que já existe uma lei, desde 2010, para o estimulo e criação de teatros em Sorocaba.
O vereador Martinez (PSDB) propôs e aprovou uma lei nº9371/2010, semelhante a outra lei da então ex-prefeita da cidade de São Paulo Luiza Erundina (ainda no PT) em vigor até os dias de hoje, no qual os grandes centros comerciais (shoppings centers) são obrigados a construírem teatros em seu interior.
É bem por isso, que na capital temos vários novos teatros nos shoppings.
LEI Nº 9371, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2010
DISPÕE SOBRE A OBRIGATORIEDADE DE CONSTRUÇÃO DE SALA DE CINEMA E TEATRO EM CENTROS COMERCIAIS DO MUNICÍPIO DE SOROCABA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
….
Art. 1º Fica estabelecida no Município de Sorocaba a obrigatoriedade de construção de no mínimo 1 (uma) sala de cinema e 1 (uma) de teatro, para toda edificação de centro comercial com área construída acima de 30.000 m² (trinta mil metros quadrados.
…
Art. 2º A capacidade mínima e cada sala de cinema e teatro, deverá ser de 150 (cento e cinqüenta) lugares.
…
Art. 6º As edificações beneficiadas pelo disposto no artigo anterior, não poderão, alterar a destinação de uso relativo ao teatro sob pena de multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), renováveis a cada trinta dias, enquanto perdurar a irregularidade.
Os centros comerciais da cidade de Sorocaba têm cinema.
Mas por que não tem teatros. Por que?
Olhando para o futuro
A Cultura é estratégica para uma população.
Metaforicamente as estruturas físicas da Cultura são como canos do saneamento de uma cidade. São subterrâneos, custam caro e pouco visíveis pela população. Porém eles trazem enormes benefícios com o passar do tempo.
Diferente dos denominados eventos culturais que se assemelham as caixas d’água pois trazem visibilidade, chamam a atenção, mas, ao final, se esvaem e desaparecem ao termino do evento.
Nossa cidade precisa de mais teatros.
Leia também:
https://terceiramargem.org/2019/04/24/perigo-teatro/#more-3966
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