Uma noite que não tem mais fim

GERALDO BONADIO – Não votei nele.
Razões para isso não faltavam. Qualquer pessoa cujo raciocínio crítico estivesse funcionando à época as teria percebido. Infelizmente, a maioria desligou aquela função essencial e se deixou levar por medos e rancores infundados.
Como dele não esperava e não espero nada de bom, imaginei que não me espantaria com seus desatinos. Me enganei. Seu toque de Midas às avessas tem a força do pior dos vilões da Marvel. Seu ministério é um circo de horrores cujos integrantes somam incompetência, ignorância crassa e firme determinação de nos reduzir à condição da pior entre as piores republiquetas das bananas. Os primeiros duzentos dias de trevas vividos sob o seu jugo nos prometem uma noite sem fim.
A nojenta submissão do país à besta apocalíptica chamada Trump agigantou-se. Entregamos aos ianques parte do território nacional – a Base de Alcântara – na qual, agora, brasileiro, mesmo que seja o presidente, só entra com licença deles. Fizemos concessões escandalosas aos fazendeiros norte-americanos, face aos brasileiros, sem contrapartida alguma. Estamos comprando, em dólar, gasolina refinada no exterior, embora disponhamos de matéria-prima e capacidade ociosa nas refinarias da Petrobras para aqui produzi-la. O que sobreviveu à razia do quadrilhão temeriano está sendo destruído agora, com fúria ainda maior. E ainda passamos pelo vexame sem precedentes, de ver uma aeronave a serviço da Presidência funcionar como aeromula do tráfico.
Nosso futuro embaixador em Washington nem chega a ser chapeiro: a lanchonete em que trabalhou, quando intercambista, não vende hambúrguer. O trocador de palavras encaixado no Ministério da Educação trai a nossa juventude e trama a aniquilação das universidades federais. O repasse de recursos federais para as creches está ameaçado; as farmácias populares não mais vão disponibilizar alguns medicamentos. O supostamente capacitado ministro da Economia ensaia um tiro de misericórdia na indústria da construção civil com a liberação geral do FGTS.
O que foi feito do Brasil que canta e é feliz? Até quando aceitaremos que o auriverde pendão de nossa terra, como ocorria nos navios negreiros, seja usado como mortalha da dignidade brasileira em celebrações de ódio?
Quero o meu país de volta!

O Triunfo da Morte, Pieter Bruegel, o Velho

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