Lembra-se de Homero Homem?

RUBENS NOGUEIRA – Um menino de asas, um cabra das rocas, um nordestino arretado, um jornalista atuante, um escritor popular, um poeta maravilhoso, um ser generoso, um homem de esquerda, um pai afetuoso, um marido apaixonado, um homem brilhante – Homero Homem de Siqueira Cavalcanti.

As reportagens semanais que ele assinava cobriam uma página inteira do “Diário de Notícias”. E os assuntos, invariavelmente, feriam a tecla dos interesses da população: os abusos do polvo canadense, o preço da carne, a escassez de água, a água no leite, o peso do pão.

Fundou o Partido Socialista, ao lado de João Mangabeira. Foi secretário da União Brasileira de Escritores da Guanabara (1960-1966). Era cidadão prestante, agrimensor da aurora, assessor da tarde lebloniana, paquerou Tereza Aragão, foi marido de Téia Carpen, Zaira Kemper e Alzira Figueiredo. Pai de Eduardo, Maria Elisa e Ana Maria.

Viúvo, Eduardo com apenas meses, desdobrava-se nos afazeres profissionais e domésticos e autodenominava-se “Mãe do Ano”.

Escreveu muito. Dezenas de livros. “O menino de Asas”, na década de 80, alcançava venda acima de um milhão de exemplares e continua em cartaz.

Nasceu em cinco de janeiro de 1921, no Engenho Catu em Canguaretama, Rio Grande do Norte. Publicou o primeiro livro em 1954 – um longo poema em prosa, em louvor da cidade maravilhosa. E nunca mais parou. Poesia, romance, conto, uma grande fieira de volumes que encantaram gerações, ganharam prêmios, versão teatral e aguardam a hora de aparecer na TV e no cinema. Deixou milhares de páginas inéditas. De repente, um Instituto Moreira Salles da vida cuidará desse acervo, como fez com a obra de Ana C.

Um dia, 27 de novembro de 2001, no secular Centro de Letras do Paraná, uma multidão de 40 pessoas viu e ouviu um conferencista desengonçado discorrer sobre a poesia de Homero e Ana Cristina Cesar – o autor de “ O rei sem sono”, a autora de “A teus pés”, sob o tema “Um Homem – Uma Mulher.”

Está no livro “Homero Homem, Zaira Kemper & poemas reunidos”, o que escreveu para Alzira, seu derradeiro amor:

Círculo de Giz

Por algumas mulheres transitei
Mas em nenhuma, juro, me detive.
Filha de Catanduva, de Nínive,
Atendesse por Ângela ou Maria,
Como não as amava, consolei
Em versiprosa que nada dizia.

Mas a você que eu afinal amei,
Me reflori e me tornei converso,
A você que eu amei e multiamei,
Ouro e sistema do meu universo,
A você que eu amei e multiamei,
Sonhei dar muito mais que amor em verso.

Duas vezes apenas me flori
na estação do amor. Círculo de giz
maravilhado, então, eu aprendi
que o verso é inútil quando se é feliz
e o poema só deflagra seus sinais
quando um dos dois murmura “Não dá mais”.

Adaga ardente que me crava o dia,
Penetra o sono, fere o coração,
Compreende agora, meu amor, porque
Temia tanto que, por minha mão,
Florisse em verso triste a dor tardia
Eterna e inútil desta confissão?

Homero morreu em …poetas morrem?
Ad Immortalitatem. É assim que se escreve?

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