
MARCO MERGUIZZO (Aquele Sabor Que Me Emociona) – Sobre a mesa não há comida. Não há vinho. Não há confraternização. Não há alegria. O Brasil está em luto. Negra, a toalha estendida, como a tarde-noite sombria desta segunda-feira, 19 de agosto de 2019, virou bandeira de alerta contra a morte, clamando por socorro. A Floresta Amazônica e o Pantanal estão em chamas. Nossas consciências também ardem. Não vamos nos calar. O Brasil está matando o Brasil. #AmazôniaEmChamas #SOSAmazônia #SOSPantanal #ColetivoTerceiraMargem
“ESTOU CHEIO DE REVOLTA. É PRECISO ELEVAR O TOM.”
O fotógrafo Araquém Alcântara registra toda a sua indignação com o que está ocorrendo na região amazônica sob o atual governo. Em marcha, uma devastação sem precedentes que pode levar a um desmatamento irreversível, segundo o cientista Paulo Artaxo, doutor em física atmosférica pela Universidade de São Paulo (USP) e estudioso da Amazônia desde 1984, em entrevista concedida nesta terça-feira, 20/8, ao site da BBC Brasil (para ler a entrevista completa, clique aqui), Confira, a seguir, o testemunho e o desabafo do premiado craque das lentes e a galeria de imagens com alguns de seus cliques mais chocantes e devastadores

“Eu estive lá e vi. E fotografei. Sou testemunha ocular. A Amazônia é a minha matriz criativa. Já foram mais de cinquenta viagens e expedições. Não de avião, mas andando, de mochila nas costas, de barco e de carro. Já subi o Pico da Neblina duas vezes, já pisei onde ninguém pisou, já fiz quatro livros sobre a floresta e seu povo, já ganhei o (prêmio) Jabuti, já publiquei centenas de reportagens nestes 49 anos de jornalismo e fotografia. E agora, com os recentes acontecimentos estou cheio de revolta. É preciso elevar o tom.
Como pode o presidente do país suspender apoio financeiro de Noruega e Alemanha – o Fundo Amazônia – que já aprovou 103 projetos no valor de R1,86 bilhão, e já desembolsou R$1,3 bilhão, desde 2008 quando foi criado? O pior é que esse fundo é gerido pelo governo brasileiro. Dinheiro europeu, de graça, sob controle do Brasil. Não dá para entender: o Brasil não tem dinheiro para pagar bolsas de estudo e pode não ter dinheiro nem para a alimentação de recrutas.
A Imprensa noticia que o desmate na Amazônia cresceu 15% (5.054 km2 em um ano), segundo o SAD (Sistema de Alerta do Desmatamento) da ONG Imazon. O Deter, sistema do Inpe ( Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) adotado oficialmente, indica uma porcentagem muito maior: 50%, uma área de 6.833 km2.

A intensificação do desmatamento é real, é coisa objetiva feita por satélites. E o cara diz que os dados não são reais, que não precisamos de dinheiro estrangeiro. Desmatamento livre é o que ele quer. Assim, como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade, ‘não haverá dia seguinte… o vazio da noite, o vazio de tudo será o dia seguinte.’ Assim, não haverá mais país.” (Araquém Alcântara)
GALERIA DE (TRISTES) IMAGENS
(Crédito das fotos: Araquém Alcântara)









Querelas do Brasil
(Aldir Blanc Mendes / Mauricio Tapajos Gomes)
O Brazil não
conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapi, jabuti, liana, alamandra, alialaúde
Piau, ururau, aquiataúde
Piau, carioca, moreca, meganha
Jobim akarare e jobim açu
Oh, oh, oh
Pererê,
camará, gororô, olererê
Piriri, ratatá, karatê, olará
O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Gereba, saci, caandra, desmunhas, ariranha, aranha
Sertões, guimarães, bachianas, águas
E marionaíma, ariraribóia
Na aura das mãos do jobim açu
Oh, oh, oh
Gererê, sarará, cururu, olerê
Ratatá, bafafá, sururu, olará
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Tinhorão, urutú, sucuri
O Jobim, sabiá, bem-te-vi
Cabuçu, cordovil, Caxambi, olerê
Madureira, Olaria e Bangu, olará
Cascadura, Água Santa, Pari, olerê
Ipanema e Nova Iguaçu, olará
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
QUERELAS DO BRASIL – ELIS REGINA (1978)
Um índio
(Caetano Veloso)
Um índio descerá de
uma estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor
Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará
Não sei dizer assim de um modo explícito
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio
UM ÍNDIO – CAETANO VELOSO (1977)

MARCO MERGUIZZO é jornalista profissional especializado em gastronomia, vinhos, viagens e outras coisas boas da vida. Escreve neste coletivo toda quinta-feira. Me acompanhe também no Facebook e no Instagram, acessando @marcomerguizzo #blogaquelesaborquemeemociona @coletivoterceiramargem
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