JOSÉ SIMÕES (SOROCABA) – Pré estreia do espetáculo “O Amor do Soldado” de Jorge Amado, com direção de Mario Pérsico e atuação de Matheus Caruso, Valéria Nastri, Jefferson Pereira, Pedro Sales, Davi Gemelgo, Rafael Alexandre, Emily Azous, Sérgio Bacetti, Michele Sonsin.
A pré estreia é o momento no qual o espetáculo encontra o público. O que foi ensaiado, sonhado, preparado, se concretiza e se revela. É quando os artistas envolvidos observam o desenvolvimento das cenas pelo olhar dos espectadores, realizam ajustes e nalgumas vezes alterações.
O texto o “Amor do Soldado” encenado pela Cia Clássica de Repertório foi escrito por Jorge Amado, sob encomenda, para ser encenado pela companhia de Bibi Ferreira. Entretanto o texto não chegou a ser encenado porque a companhia da atriz se desfez a época.
Trata-se da única obra do escritor Jorge Amado para o teatro. O texto teatral foi publicado em 1947 com título de ” O Amor de Castro Alves”, entretanto, em 1958 o nome da peça foi alterado para o “O Amor do Soldado”.
Uma das hipóteses para esta mudança esta no modo como Jorge Amado encarava a dimensão do ativismo de Castro Alves na luta abolicionista, como se pode ler na obra biográfica que Jorge Amado fez do poeta – ABC de Castro Alves.
Êsses que tomam partido contra o povo e vão ajudar seus carrascos, perdem a sua condição artistas porque é condição essencial da arte servir ao escravo contra o senhor. E aqueles que fogem e preferem fechar os olhos para o espetáculo da luta do mundo, são igualmente repugnantes por mais belos que possam parecer (JORGE AMADO, 1971:131).
O poeta Castro Alves é um dos grandes nomes do romantismo brasileiro. Autor de “O Navio Negreiro”e, também, de “Espumas Flutuantes”, no qual faz referência a atriz portuguesa Eugênia de Castro, paixão do poeta, retratada neste texto teatral.
O “O Amor do do Soldado” conta a história do conturbado caso de amor entre Castro Alves e a atriz Eugênia. Ao mesmo tempo a trama apresenta o “soldado” Castro no “front da luta” abolicionista. Em cena estão as questões do “amor a uma causa” e da felicidade individual no casamento. Ser livre no amor e nas lutas? Mas como? Se é preciso fazer escolhas: a atriz pelo teatro e o poeta pela república.
Uma das qualidades do texto é o de podermos ouvir ao longo da trama pequenos trechos da obra do poeta Castro Alves. Preciosidades poéticas.
Bem feliz quem ali pode nest’hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento…
E no mar e no céu — a imensidade!
A encenação de Mário Pérsico necessita de ajustes, seja, no ritmo e encadeamento das cenas, seja, nas questões técnicas como, por exemplo, na iluminação, que serão certamente realizados ao longo da temporada.
Os protagonistas Valeria Nastri e Matheus Caruso mostram desenvoltura nos papéis. Valeria constrói uma Eugênia permeada de pequenos nuances corporais. Nada de grandes gestos. Tudo emocionalmente contido. Deixa à mostra a paixão, o rancor, o amor e as suas oscilações. Ela ama o teatro e ama Castro, que ama a luta pela liberdade. É forte. Talvez falte uma explosão final diante de todo percurso vivido.
Matheus Caruso assume com responsabilidade a personagem. Gestos, também, contidos e olhar apaixonado. Nalgumas vezes infantil destoando da sedução juvenil e impetuosa que a personagem exige. Mas o ator rapidamente se recupera dessas situações e coloca em cena belas cenas de amor. Estão lá presentes o atormentado ciúme, a desejada luta pelos outros, o amor pela atriz e pela liberdade. Seu bom trabalho de interpretação ao longo do espetáculo fica visível. Por fim, há entre os dois atores a química necessária para esta história de amor.
Em tempos tão rudes e ásperos ir ao teatro e ver boas histórias de amor e, principalmente, do amor a liberdade faz bem a nossa alma.
Vale a pena conferir.
Serviço:
Espetáculo: O Amor do Soldado
Local: Teatro Escola Mario Persico
Endereço: Rua da Penha, 823 – Centro
Horário: 20h00
Data: 15/09/2019 (domingo)
Ingressos: RS 20,00 e RS 10,00
Telefone: 15 30351566
Muito bom ler sobre o teatro que wsta sendo feito agora.
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