FREDERICO MORIARTY – Agatha Mary Clarissa Miller nasceu em Devon (Inglaterra), em 1890. Sendo mulher, não pode estudar em escolas normais e sua educação foi fornecida pela mãe. Pegou gosto pela literatura de Charles Dickens, Lewis Caroll, Conan Doyle e Edgar Alan Poe. Prometeu à irmã que escreveria romances policiais. Em 1916, terminou sua primeira história: “O Misterioso Caso de Styles“.
Nele aparecia seu detetive mais famoso, o belga Hercule Poirot. Seis editoras recusaram a publicação e, somente quatro anos depois, ela conseguiu enfim lançar o livro. Casada desde 1914, Agatha adotou o sobrenome do marido: Christie. Entre 1920 e 1927, escreveu mais oito livros policiais. Entre eles, uma de suas 10 melhores histórias: “O assassinato de Roger Akroid“. Conquistara um pequeno mas fiel público no Reino Unido.

Em 1926, Archibald informa que estava saindo de casa e indo morar com a amante, muito mais bela e jovem do que ela (segundo palavras do traidor). Agatha simulou um sequestro. O resgate contou com investigações aéreas pela primeira vez no Reino Unido, afinal, a senhora Christie era uma quase celebridade no pais.
Duas semanas depois, ela é encontrada se divertindo num hotel do interior da Inglaterra, registrada como Teresa Neele (o nome da amante de Archibald e um anagrama de “teaser”). Divorciou-se em 1928. Casou-se novamente em 1930 com um arqueólogo, Max Mallowen. Adotou o sobrenome do marido, mas como escritora manteve o Christie grafado em seus mais de 80 livros e incontáveis contos e peças.
( para detalhes mais completos, leia no ” Safra Vermelha”:
https://terceiramargemorg.wordpress.com/2019/08/25/um-caso-de-agatha-christie/
Max lhe ensinou macetes da profissão e muitas técnicas de escavação que ela aproveitou nas histórias de detetive. Além disso, ao acompanhar o marido em sítios arqueológicos, conheceu quase todo o Oriente Médio, o Egito, Marrocos e partes da Ásia, dando a ela subsídios para a reconstituição dos lugares dos crimes, como o clássico Morte no Nilo (a nova versão filmada por Keneth Branagh estreou estes dias nos Estados Unidos).

O primeiro livro vendeu duas mil cópias no lançamento. Cem anos depois da publicação do “Caso de Styles”, ela só perde para a Bíblia e seu ilustre conterrâneo, William Shakespeare. Nada mais do que 4 bilhões de livros vendidos. Seus herdeiros recebem anualmente US$ 4 milhões, mesmo ela tendo morrido há 43 anos.
Escreveu, literalmente, o maior livro da história ao compilar todos os contos e 20 romances em que aparecem a senhora alcoviteira e solteirona Miss Marple, a detetive mais famosa da literatura. O livro Toda Miss Marple tem 4.300 páginas e 30 centímetros de largura. A edição em capa dura custa a bagatela de R$ 6.000 na Inglaterra.
Filmes baseados nas obras de Agatha Christie passam dos 60. Dentre eles os críticos elegem como melhores obras: O caso dos Dez Negrinhos, Cai o Pano (a morte de Poirot), Os Cinco Porquinhos, Morte na Praia, Testemunha Ocular do Crime e o melhor de todos: Não sobrou Nenhum. Agatha virou filmes deTV e, recentemente, uma minissérie em streaming.

Mas Agatha Christie é tratada como uma não-escritora ou “subgênero”. No mundinho da literatura, vender livros é pecado. Ter uma escrita simples e popular é sinal de doença. Bom mesmo é quem escreve de forma ininteligível, para ninguém e que será adorado daqui a 200 anos, quando todos estaremos mortos.
Em 1934, ela escreveu “Assassinato no Expresso do Oriente“, o seu livro mais vendido até hoje, que já ultrapassou os 120 milhões de exemplares. O Orient Express é um dos mais famosos e luxuosos trens da história. Sua travessia de Istambul, passando pelo leste europeu e desembocando em Paris é, com certeza, a rota mais charmosa entre as ferrovias.
Agatha Christie inspirou-se em um sequestro real ocorrido dois anos antes no famoso trem. Teve três versões cinematográficas. A segunda, de 1974, é a melhor. Foi dirigida por Sidney Lumet e contava com atrizes e atores magistrais: Albert Finney (como o detetive belga Hercule Poirot), as divas Lauren Bacall e Ingrid Bergman (que venceu o Oscar de atriz coadjuvante), Sean Connery, Vanessa Redgrave, Anthony Perkins (sim, o Norman Bates do filme icônico Psicose), Sir John Gielgud e Richard Widmark, como Hatchett (o assassinado).

Em 2017, Kenneth Branagh, nascido no Ulster, ator e diretor shakespeariano, refilmou o clássico de Agatha Christie. Um elenco também estrelado (mas não tão bom), contando com o próprio Branagh (como Hercule Poirot), além de Johnny Depp, Judi Dench, William Dafoe e Michelle Pfeiffer.
No livro, o trem parte em direção a Paris e para numa nevasca perto de Belgrado. Ali acontece o crime e Poirot, um homem que gosta das coisas retas, quadradas e duplas interroga um por um os doze passageiros e vai interligando os pontos de forma dedutiva. Numa de suas tiradas ele expõe seu método de análise:
” …como era possível tantas pessoas de classes sociais tão distintas e de países tão distantes estarem num mesmo trem de luxo… eles tinham algo em comum… e o único país onde isso poderia acontecer era os Estados Unidos”.
Ele apresenta tal explicação ao amigo e proprietário do trem para começar a elucidar o crime. É curioso perceber que a rota Istambul-Paris é uma metáfora (inconsciente) da Primeira Guerra. A viagem parte da Grande Porta (o Império Turco). A trama começa com um crime nos Bálcãs (assim como o assassinato do arquiduque Ferdinando nessa mesma região, em 1914, que foi o estopim da I Grande Guerra).
O trem nos leva aos limites das trincheiras francesas. Da Tríplice Aliança (com a Turquia) à Tríplice Entente francesa. Um detetive belga soluciona o caso que, em verdade, ocorreu em terras norte-americanas (decisivo na Primeira Guerra). Existe uma princesa russa (Entente) e uma cuidadora meio alemã (Aliança).
O trem, vez ou outra, seguia até Londres. Todos os personagens da Grande Guerra estavam ali. E não podia ser diferente: Agatha Christie foi enfermeira durante o conflito. Ali aprendeu sobre medicina e venenos, tão presentes em seus suspenses. A única profissão que aparece em todas as suas histórias é a de médico. Seu primeiro marido foi oficial da Royal Air Force (RAF).
Mas se Agatha Christie era genial em alusões (como a do assassinato lembrar claramente o de Julio César), Brannagh fez um Poirot caricato, lembrando mais o detetive do seriado Monk, do que o Hércules inspirado em Dickens, Poe e claro, Sherlock Holmes.
Leia o livro e, se possível, assista ao filme de 1974, e tente não ficar preso à trama de outro clássico da “Rainha do Crime”, na qual um assassino misterioso, que se identifica apenas como “ABC”, desafia Poirot ao enviar cartas que informam o detetive sobre os próximos assassinatos que ele irá cometer.
Aparentemente aleatórios, os crimes seguem apenas uma regra: são executados seguindo a ordem alfabética dos nomes das vítimas e das cidades onde acontecem. Os Crimes ABC viraram minissérie em 2019 da Amazon e BBC, tendo John Malkovich no papel do detetive. Assista, abaixo, ao trailer:
Ótimo perfil, Moriarty. Obrigado por compartilhar.
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Obrigado. Vou corrigir as falhas
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👏🏻👏🏻
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Obrigado Haliana
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