Um texto para você que não vai gostar deste texto

NILSON RIBEIRO (Blog Um Anjo Passou Por Aqui) – Posso lhe dizer algo novo que faça você refletir. Ou posso dizer algo conhecido que você queira ouvir. Quando vou pela primeira opção, estou convidando você a conhecer novas possibilidades, abrir novas perspectivas, inusitadas janelas de reflexão. Quando apenas repito o que você deseja ouvir, mantenho tudo como está, sem possibilidade de um único passo à frente.

Ao optar por fazê-lo refletir, eu o incomodo. Quando digo aquilo que você quer ouvir, eu o acomodo. Como eu o acomodo, mantenho você na sua zona de conforto. Assim, conquisto sua simpatia. E até seu voto. E quando eu ouso confrontá-lo, sou antipático. Posso ganhar somente seu afastamento. A menos que você seja suficientemente capaz de abrir-se às novas possibilidades. De forma que àqueles que estão disponíveis para discutir novas possibilidades e ideias, chamamos de progressistas. Aos que, ao contrário, preferem manter-se na zona de conforto, sem pretender confrontar suas ideias e concepções com novas possibilidades, chamamos conservadores.

Essa linha de raciocínio segue indefinidamente. Mas foi essa descoberta que levou homens inteligentes e perversos como Goebells, o estrategista mediático por trás do nazismo alemão, a conquistar a mente e corações de milhões de cidadãos descontentes com novas ideias progressistas que confrontavam valores morais e religiosos que, em alguma medida, eram os alicerces dos conceitos retrógrados que alimentavam aquela grande e machucada nação.

 Dizendo exatamente o que aquele povo sofrido  queria ouvir, pela voz contundente de Adolf Hitler, o nazismo rapidamente alcançou seus objetivos, exterminando 7 milhões de Judeus, promovendo outros milhões de mortos em guerras justificadas pela ideologia ultranacionalista.

Da mesma forma, com menos inteligência e mais truculência, um grupo seleto de militares barrou as ideias progressistas de Jango no Brasil, promovendo um dos mais tristes capítulos da história do nosso país. Mais uma vez, mentindo e promovendo o terror entre a população menos esclarecida, foi relativamente fácil levar adiante um movimento ultranacionalista e reacionário, exatamente quando o país tentava respirar ares menos carregados e sombrios.

Os métodos para silenciar os rumores progressistas sempre são parecidos: tortura, violência, armamento, censura, religião fundamentalista, propaganda enganosa e todos demais recursos perversos e criminosos possíveis, desde que se façam suaves aos ouvidos desavisados.

Para conseguir tal intento, é necessário que os recursos opostos estejam calados, suprimidos, desativados – a arte, a cultura, a educação, as disciplinas pensantes (filosofia, literatura, sociologia, música e outras), as discussões sociais, ecológicas, humanistas, os direitos humanos, as ideias pacifistas e tudo que possa fomentar um aprofundamento crítico que dificulte as ações populistas e conservadoras. Qualquer fato em comum com o atual quadro no Brasil não trata-se de somente coincidência ou acaso. Infelizmente. E você faz parte dessa história neste exato momento.

Talvez por isso você possa não gostar muito de nossas artes, de nossa cultura sem censura, de nossas críticas a certas visões religiosas e a alguns conservadores posicionamentos estagnados. Talvez por isso você se incomode com amor entre humanos do mesmo sexo, da diversidade de gêneros, dos conceitos de igualdade de raças, cores e nacionalidade, ou da ascensão dos pretos na escalada social, ou da luta das minorias,  e mesmo da voz altiva  das mulheres (como ousam??!!) discutindo as questões fundamentais de seus corpos e escolhas ou decidindo assuntos importantes na rua, na casa, na empresa, no mundo.

E, certamente, se você ainda é um desses que discordam disso tudo, e chegou até aqui, não vai gostar ou sequer aceitar os argumentos deste texto. Mas se essas linhas chegarem até você, e o fizerem refletir, minimamente,… cumpriram sua sagrada missão.

nilribeiro63@hotmail.com

Nilson Ribeiro é psicanalista e escritor

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