Todos a Bordo – Diário de um Pandemônio (Blog Coletivo)

14 DE NOVEMBRO DE 2020

#somostodosmaricas

FREDERICO MORIARTY

“Maricas, todos os dicionários concordam, significa “um homem efeminado ou homossexual”, se for usado como substantivo. Os mais recentes dizem que é também adjetivo, para um homem ou mulher que tem medo de tudo, é demasiado cauteloso (um/a medricas). Mas esta ideia de maricas ter dois gêneros não é nova: Primo Basílio, de Eça de Queirós, dá o exemplo, quando diz a Luísa: “Tu eras uma maricas, tinhas medo de tudo”.

Quando surgiu a primeira definição em 1716, no Vocabulario portuguez e latino de Rafael Bluteau, maricas e maricão não queriam só dizer alguém medroso, mas também alguém que se sentia à vontade no meio de mulheres e, ironicamente, um mulherengo – não sei qual era o heterossexual que não quisesse ser visto como um maricas.

Mas qual é a raiz de maricas? A resposta é unânime: é um diminutivo de Maria (nome próprio). Como outros: maricotas, maricocas ou mariquinhas, os dois últimos sendo igualmente calão para alguém medroso, picuinhas ou efeminado. E já agora, o dicionário Houaiss apresenta como válida a variante afeminada – adamado ou afemeado também podem ser usadas.

Ou seja, maricas é um insulto para quem achar vergonhoso ser comparado com uma mulher, uma Maria – por achar que as mulheres não são fortes e corajosas…” (do blog Esqrever)

Quem dá força às palavras são os homens. Maricas não é só um antigo apelido pejorativo e transfóbico, mas na sua origem está o medo perante à força inerente de todas as mulheres. Fracos de moral, caráter e respeito são os homens que temem as mulheres e os maricas. Quero ver o energúmeno explicar o que é poltrão.

(Foto da capa e deste post/Crédito: Revista IstoÉ)


2 DE NOVEMBRO DE 2020

Um 2021 sombrio se anuncia (e o que faremos para evitá-lo)

FREDERICO MORIARTY

As notícias não são nada promissoras. Todas as mais avançadas vacinas em fase final de testes ainda não atingiram o patamar de 50% de eficácia. Segundo os cientistas, mais do que isso só em outubro do ano que vem. Já seria um recorde, afinal a vacina mais rápida elaborada pela ciência levou 7 anos pra ficar pronta. A anti-Covid levaria 1,5 ano apenas.

Artigo nos jornais de hoje dão conta de que a vacina só chegará ao Terceiro Mundo em 2024. Como sempre os pobres passarão três anos rezando e sendo considerados os culpados pela permanência do vírus entre nós.

A última notícia diz respeito à segunda onda de Covid, muito mais rápida a infecção. Tudo indica que o vírus sofreu mutação, diversificou seus alvos e atinge principalmente os mais jovens. Esta semana a França teve 30 mil casos ao dia, mais do que o Brasil. Nove países europeus decretaram lock-down.

E porque poderemos ter um 2021 mais sombrio:

I. O vírus mutante europeu já está no Brasil. Muitos brasileiros e europeus têm voltado a viajar;

II. Como convencer uma população que passou quase 4 meses trancafiadas de que é necessário voltar a se fechar?;

III. Se 40% dos brasileiros não cumpriram o 1° isolamento, incluindo o irresponsável presidente, como esperar que um 2° isolamento tenha uma adesão massiva?;

IV. Como convencer país, alunos e professores que poderemos ter mais 6 meses de aulas online?;

V. Como enfrentar a brutal recessão que virá após uma segunda parada? Não haverá mais dinheiro para auxílio emergencial. As empresas que sobreviveram à pandemia queimaram toda a gordura. O caos econômico poderá levar a um descontrole social.

2021 pode ser pior, muito pior do que 2020. Eu acordo todo dia pensando: Moriarty você é um catastrofista. Nada disso vai acontecer. Oxalá esteja equivocado.

a tendência de queda irá persistir? Folha de 02/11

26 DE OUTUBRO DE 2020

E vi os mortos, grandes e pequenos sobre o Trono

FREDERICO MORIARTY

Pinochet, o ditador chileno entre 1973 e 1989, sofreu alguns atentados. Num deles, o MIR (Movimiento de Isquierda Revolucionaria) tinha certeza de que poria fim à vida do sanguinário Augusto, o homem que mandara matar 30 mil socialistas em duas semanas. Tantas que as águas do rio Mapocho, que atravessa a capital Santiago, tornaram-se rubras por dias. Descendo a serra rumo a um descanso em Viña del Mar, a comitiva de 8 carros do presidente foi ao encontro dos cerca de 30 revolucionários.

Um delator lhes informara qual dos 8 carros levava Pinochet. Metralhadoras em punho, eles pararam em frente ao carro indicado e começaram a metralhá-lo. Os vidros de trás se abaixaram. Era Pinochet. Quando os membros do MIR prepararam a nova saraivada, Pinochet agarra o neto de 2 anos e o ergue bem em frente à sua face.

O demônio é um ser sem escrúpulos, sem sentimentos, tem apenas as mãos cheias de sangue e sofrimento dos inocentes. Ontem, o Chile expurgou seu Anticristo e levou junto com ele um pouco do Rei dos Infernos e seus tanques.


16 DE OUTUBRO DE 2020

Nádegas a declarar

FREDERICO MORIARTY

Freud dizia que entre 1,5 ano e 3 anos a criança estaria na fase anal do desenvolvimento intelectual. Esfíncter, bexiga e os excrementos são grandes descobertas. Quando estudamos história aprendemos que o “governo dos demos” nasceu na Atenas entre os séculos V e III a.C. Os cidadãos – que eram pouquíssimos, pois excluíam-se mulheres, menores de 21 anos, escravos e não proprietários – passaram a exercer o comando e decidir as medidas administrativas para melhorar a vida na cidade-estado ou Pólis (em grego).

Daí o nascimento do conceito de Política, qual seja, o de participar e decidir ativamente das decisões e soluções para a cidade, estado ou nação. E como essa decisão era aberta livremente a todos os cidadãos que viviam nos 3 demos de Atenas (litoral, morro e campos), o regime em que temos a participação politica dos cidadãos passou a ser conhecido como Democracia.

E a democracia grega era Direta. Os cidadãos reuniam-se na Ágora (praça pública) e debatiam todos os assuntos relativos à administração da Pólis. Todos tinham o direito de expor suas ideias e ao final fazia-se uma votação popular para decidir qual a medida mais aceitável e que iria ser adotada por Atenas. Os oradores precisavam estudar muito, conhecer história, filosofia, oikosnomos (economia), estratégias militares, gramática e claro, retórica, para aprender a capacidade de convencimento. Outro detalhe, a política distanciava-se cada vez mais o mundo dos deuses e mitos da coisa pública.

Ágora grega (Foto: Arquivo)

O tempo passa, as permanências convivem com a transformação. Hoje temos uma democracia representativa e muito mais ampla. O Brasil, por exemplo, tem 155 milhões de eleitores ou mais de 70% da população (os cidadãos atenienses correspondiam a 2%). A representação se dá por diversos cargos políticos, do legislativo ao executivo. A capacidade de convencimento está presente, mas não mais pela retórica e valor das ideias e sim pelos conchavos, as trocas de cargos e dinheiro.

A palavra Parlamento significa “lugar onde se fala”. Mas a gramática dos dias atuais é tudo menos fala. Yasser Arafat discursando na ONU, no dia em que a Palestina foi reconhecida como nação, segurava uma arma numa mão e um ramo de flores na outra. Disse o líder da OLP: “Qual mão eu irei utilizar a partir de agora são vocês que irão decidir.” Nossos políticos atuais sobem à tribuna com a Bíblia numa mão e o revólver na outra e dizem, descaradamente: “Eu atiro, mas é Deus que mata.”

Yasser Arafat (1929-2004) na Onu, em 1974 (Foto: Wikipedia)


Vivemos em tempos de retrocesso inexplicável no país. O governo nega uma doença que matou 155 mil brasileiros e mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo. O ministro da saúde gasta zilhões num remédio que não serve nem pra matar rato. Dezenas de milhões de pessoas acreditam na terra plana. A ministra da agricultura afirma que o melhor remédio para a preservação do maior santuário ecológico em planície de todo mundo é a expansão da criação de gado. Contra as queimadas que já atingem 27% do Pantanal, a devastação da boiada.

Mas complicado mesmo é a fixação na questão da homossexualidade e do discurso que adora utilizar metáforas anais. Talvez seja relacionado à capacidade mental dos integrantes da nossa cúpula política, como diria Freud. Lembrando que para governar um país não é necessário conhecimento algum. Basta a truculência na maioria dos casos. Átila era analfabeto. Hitler mal terminou a oitava série e teve como seu primeiro emprego o de chanceler da Alemanha (aos 53 anos). Dutra era uma porta.

Nada mais irônico do que a porno-político atual ter um líder do governo no Senado preso com 30 dinheiros enfiados no meio do fiofó. Assim como Freud nos manda tomar cuidado porque as crianças irão engolir as moedas na fase anal para ver se ela sai por algum lugar; um senador da república, que recebe 40 mil reais por mês, tem 2 carros á disposição, 42 assessores pagos pelo estado e benefícios que fazem sua renda mensal passar dos 120 mil, resolveu enfiar as belas notas novas de 200 provenientes de fontes ilícitas, literalmente no rabo. E não era qualquer um, era o homem de confiança que o presidente outro dia disse ter uma união estável com ele.
Não há limites para a desfaçatez no país.


09 DE OUTUBRO DE 2020

80 anos de John Lennon

MARCELLO FONTES

John Lennon hoje estaria completando 80 anos, se não tivesse nos deixado em 1980. E se 40 anos após sua morte tantos lembram-se dele, certamente isso é representativo do que ele significou. Irrequieto desde a infância, abandonado pelos pais, compositor genial após começar a tocar violão faltando uma corda e achando normal, “inventor” dos Beatles, amigo leal ainda que por vezes mordaz, sarcástico ao extremo, machista arrependido, pai ausente e depois mais que presente, amante de mulher improvável contra tudo e contra todos, pacifista inveterado, sonhador mesmo ao dizer que o sonho acabou. Um homem extraordinário e ao mesmo tempo terrivelmente falho. Um verdadeiro artista. Fez e faz muita falta em tempos de tamanha irrelevância, coisa que ele jamais conheceu.


26 DE SETEMBRO DE 2020

Conversa de Bar

FREDERICO MORIARTY

Bar reaberto na pandemia. Horário restrito. Mesas espaçadas. Todo mundo de máscara. Tem mais álcool em gel nas mesas do que cerveja. É o tal do Novo Normal. Dois Mil e Vinte saboreia uma porção de batatas fritas, afinal, a tábua de frios tá proibitiva. Passa um senhor alquebrado. Dois Mil e Vinte reconhece:

  • Vc não é o Oitenta e Nove?
  • Mil Novecentos e Oitenta e Nove, eu mesmo.
  • Cara, há quanto tempo?
  • Três décadas.
  • Parecem uma vida
  • E foi.
  • Novidades?
  • Nada não. E vc: como tá a Amazônia?
  • Devastada, cara. O triplo da sua época.
  • Num brinca?! Mas o Pantanal tá bem né?
  • Nada. Ardendo. Nunca queimou tanto. Um fogaréu bonito. Precisa ver.
  • O louco. Mas o desemprego caiu. Esse eu lembro que encontrei o Dois Mil e Dez…
  • Caiu nada. Tá uma farra. Tem 60 milhões na rua ou fazendo bico. Uma maravilha o empreendedorismo.
  • Roubalheira acabou pelo menos?
  • Que é isso amigo… O negócio agora é família. Todos roubam juntos!
  • E as mulheres? E as mulheres? Ganharam o devido respeito?
  • Tá doido. Isso é mimimi de mulher feia ou mal comida. Ou os dois..
  • Os homossexuais agora tem mais direitos não é?
  • Por mim eu matava tudo os viados. Essa aberração.
  • Mas tá na constituição!!!
  • Que constituição Oitenta e Nove? Já fizeram 114 emendas. Tiraram tudo que era direito social
  • Como assim?
  • Chega de comunismo no Brasil!
  • Mas que comunismo??
  • Esse que vcs inventaram. Súcia maldita.
  • Rapaz. Nem o futebol salva? Vi que ganhamos mais dois canecos…
  • E tomamos de 7 a 1 da Alemanha, no Mineirão.
  • A CLT ficou??
  • Uma parte, daqui a pouco a gente acaba com esse entulho autoritário. Não é meu amigo? (E apontou para o senhor ao lado dele, o Sessenta e Quatro, que concordou).
  • E a Pandemia?
  • Que pandemia? Tudo mentira da Globo na grande conspiração comunista chinesa.
  • Nem os cuidados vc tá tomando?? (Pois viu que Dois Mil e Vinte estava sem máscara).
  • Pra quê, idiota, tem cloroquina.
  • E a educação?
  • Vai ficar na mão dos setores privados que entendem do negócio.
  • Mas na Universidade vcs tão seguindo os ideais do Paulo, do Darcy, da autonomia?…
  • Universidade? Só sexo, putaria, maconha e professor doutrinador. Tem de fuzilar essa gente
  • Meu Deus e a carestia?
  • Sabe quanto tá o saco de arroz ? Cinquentão. Um salário mínimo compra 20 sacos. Tá bom, depois engorda se comer demais.
  • O dólar tá caro?
  • Um arraso. Nunca esteve tão alto. Assim a gente salva o agronegócio.
  • E a cultura?
  • Essa eu acabei de vez. Coisa de gayzistas, pervertidos e comunistas.
  • Rapaz , mas assim ninguém vai gostar de vc.
  • Vc que pensa. Hoje tenho 40% que me ama e 30% que me acha legal. Vou ficar mais um tempo por aqui.
  • Não é possível?
  • É, sim. Isso aqui sempre foi terra de canalhas e reacionários.
  • Não acredito.
  • O papo tá bom, mas chegou meu amigão, o Trinta e Três.
  • Trinta e Três? Esse não conheço.
  • É que ele vem da Alemanha.
1989

21 DE SETEMBRO DE 2020

A volta do coronavírus na pátria dos ogros e dos sem-senso de humanidade e empatia

MARCO MERGUIZZO

E eis que já chegou, como já era previsto, a segunda onda da Covid-19. Ou seja, o coronavírus não só não desapareceu como ressurgiu e se propaga novamente nos países onde a transmissão estava controlada, e a doença, aparentemente erradicada. Caso da França, Espanha, Inglaterra e Itália que voltam às manchetes com novas ondas de contaminações e mortes. Desta terra em chamas governada por gente indiferente, desvairada e inconsequente, o vírus nunca se afastou e, a cada dia, vai se fartando com novas vítimas, cujo número ainda deve aumentar muito.

Soube neste final de semana por meio de um colega jornalista, que teve acesso a documentos sobre o grave problema de subnotificações país afora, que há pelo menos o dobro de vítimas em relação aos números divulgados, hoje em torno de 140 mil pessoas. Ou seja, o Brasil já teria hoje cerca de 280 mil mortos, uma coisa estarrecedora e impactante em qualquer lugar do mundo.

Mas nem informação cientifica e estatísticas sérias e verdadeiras, que se misturam na cabeça de muitos brasileiros à contrapropaganda disseminada por robôs digitais e pela solerte e voluntária tropa bolsonarista através das fake news das redes sociais e do WhatsApp, importa para essa legião de zumbis que hoje povoa o país e se comporta como gado.

Charge / Crédito: Maringoni

O Brasil tem 2,7% da população mundial e oficialmente 14,1% de todas as mortes pelo coronavírus até agora.

Em geral, quem pertence a esse grupo nega a pandemia, acha as medidas exageradas e acredita que está imune ao contágio. Essas pessoas, como sabemos, se inspiram em alguns modelos políticos bem conhecidos e exóticos para seguirem esta linha de pensamento. Uma ograda “anticomunista”, cega, surda e muda que se diz neoliberal e “nacionalista”, ao contrário dos cientistas, humanistas e todo aquele que é sensível às coisas coletivas e ao bem comum.

Portanto, a única coisa a se fazer por ora, enquanto não passa esse torpor ideológico e miopia de mercado, é continuar a nos cuidarmos e aos nossos, usando máscaras, mantendo o distanciamento, lavando as mãos e higienizando-as com álcool em gel quando e onde não for possível a lavação e nos policiarmos a todo instante para não cairmos na vala comum daquela cantilena de que “voltamos à normalidade”. Que normal, cara pálida?

Coletividade não existe pra essa gente míope-distópica-reacionária-biblista-incivilizada-e-desumana que não vê o outro ou sequer o óbvio e enxerga só o próprio umbigo. Em vez de nos protegermos, o isolamento social, que começou por aqui há quase sete meses, e com essa volta temerosa à normalidade de agora, autoconcedida e sem lastro científico, só escancarou lamentavelmente nosso atraso, diferenças e mazelas sociais.

19 DE SETEMBRO DE 2020

Teste

FREDERICO MORIARTY

Passados exatos 6 meses da Quarentena apresento-lhes uma lista de sandices.
Se vc zerou na lista, parabéns! Vc está pronto para a segunda onda.
Se fez entre 1 e 3 pontos não se preocupe, errar é humano
Se fez entre 4 e 7 pontos. Procure um psiquiatra ou melhor, volte para a sala de aula já pra não perder o ano
Se fez 8 ou 9 pontos terá direito a diploma de asno
Fez as 10? Parabéns!! Já pode ser presidente!

  1. Estocou papel higiênico
  2. Falou que era conspiração Chinesa ( comunista)
  3. Falou que era conspiração da Globo ( comunista, ou vcs esqueceram que a Globo é aliada do PT)
  4. Defendeu a cloroquina
  5. Defendeu a ivermitina ( Sei lá como escreve essa treta). Pode trocar por água tônica
  6. Deu uma fugidinha escondido pra praia. Vc e metade do estado de São Paulo se encontraram no litoral.
  7. Não usa máscara. Odeia máscara. Ou já brigou com alguém que te pediu pra por máscara
  8. Chamou o Mandetta de herói, depois o Reich ou Taisch de herói e depois o interino ( não lembro o nome do milico).
  9. Tirou sarro da vacina russa, afinal, assim como Maria os cientistas são imaculados e as pesquisas só querem o bem da humanidade, da mesma forma que Noé quis ao botar um casalzinho de cada bicho na arca
  10. Quando começaram a relaxar vc correu pro xópim, pro barbeiro gourmet, pro cabeleireiro e pra fila do big mac.

Repescagem

  1. Chamou Doria de herói
  2. Vc que nnca pisou numa sala de aula, mas é especialista em educação, defende que é fundamental o convívio social entre os alunos faltando 2 meses pra começar as férias e coincidentemente na época de matrículas escolares

16 DE SETEMBRO DE 2020

Enquanto o Pantanal queima e a Amazônia é desmatada, o Governo se esquiva e o Brasil se cala

MARCO MERGUIZZO

Charge: Ribs (Fonte: chargesonline.com.br)

Dramáticas, as cenas são de esmagar o coração e calcinar consciências: imensas áreas do Pantanal mato-grossense, um dos biomas mais preciosos do país e que eu tive o privilégio de conhecer a fundo nos meus tempos de repórter dos Guias 4 Rodas, arde em chamas, com milhares de animais e aves silvestres sendo impiedosamente carbonizados. Sem contar o desmatamento apocalíptico em marcha na Amazônia, principiada pelo atual governo e denunciada internacionalmente há tempos pelo Greenpeace e por ONGs independentes, desde os seus inícios.

Enquanto isso, o mal-intencionado e omisso ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (aquele mesmo que sugeriu em uma reunião ministerial aproveitar a distração da opinião pública durante o auge da pandemia para “passar a boiada” e aprovar reformas para simplificar e facilitar os processos de desregulamentação de áreas de preservação ambiental), indagado por jornalistas sobre a sua responsabilidade e a do (des)governo ao qual representa, exime-se de qualquer culpa na maior cara-de-pau do mundo.

Com sua já conhecida inépcia, Salles nega esforços e negligencia qualquer tipo de ação para combater de forma minimamente efetiva e articulada a maior queimada jamais vista naquela região, e cuja autoria, segundo as primeiras apurações da PF, apontam para um grupelho de latifundiários criadores de gado.

Ou seja: a floresta derrubada virará em breve, se nada for feito via institucional ou por instâncias legais, uma enorme área de pastagem. Para os patrocinadores dessa tragédia anunciada (“Não vim para construir, e, sim, para destruir!”, quem se lembra da frase e de seu autor?), permanece tudo tranquilo e normal no “novo normal”.

Segundo o Inpe, o insuspeito Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em relatório divulgado no começo deste semana, as queimadas na região do Pantanal aumentaram 210% este ano, com a gestão desastrosa de Salles, em comparação ao mesmo período no ano passado. Entre 1º de janeiro e 12 de setembro de 2019, as ocorrências de focos de incêndio triplicaram na região, subindo de 4.660 para 14.489.

De acordo com o órgão, quase 25 mil hectares dos 815 mil do Pantanal já foram devastados pelas queimadas ocorridas durante a gestão do atual ministro. Em julho, o Pantanal bateu o recorde para o mês de focos de incêndio desde o início das medições do instituto. Já em agosto, houve o segundo maior número de queimadas para o mês nessa histórica e trágica série.

Charge / Crédito: Daniel Lafayette, Lafa

Somando Pantanal e Amazônia, o Brasil perdeu 53.019 km² de mata nativa devido às queimadas até 31 de agosto. O número é equivalente a 34 cidades de São Paulo ou quase a totalidade dos territórios de Sergipe e Alagoas juntos.

A Amazônia também já registrou mais focos de incêndio até o 16º dia deste mês do que em todo o período do ano passado, segundo o órgão. Em setembro de 2019, foram 19.925 focos de incêndio; neste ano, até quarta-feira (16), houve 23.277 focos, uma alta de 16,8%. Há, ainda, uma alta no total anual de focos. De janeiro até 30 de setembro de 2019, haviam sido registrados 66.749 pontos de fogo na floresta. Neste ano, de janeiro até o dia 16 deste mês, eram 67.290.

Além das queimadas, o Pantanal também enfrenta uma seca histórica – o maior período de estiagem em 47 anos — isso é fato. Porém, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o delegado da Polícia Federal Alan Givigi, diz que vê indícios de queimadas propositais. “Elas começaram dentro de algumas fazendas da região, em espaços inóspitos, onde não há nada perto, o que nos faz entender que não pode ser acidente. Teoricamente, alguém foi lá com o objetivo de colocar fogo”, apontou Givini.

Ou seja, um crime triplamente qualificado: ambiental, de lesa-pátria e lesa-humanidade. A biodiversidade impactada e destruída está perdida. Diante de tamanha tragédia nacional e planetária, o Governo irresponsavelmente se esquiva e as instituições inexplicavelmente se calam. O Brasil bolsonarista promove um verdadeiro strike civilizatório: além de incendiar nosso patrimônio ecológico e ambiental, carboniza consciências e nossa cidadania, comprometendo por extensão o presente e o futuro do país.

Definitivamente, o Brasil – e todos nós, brasileiros – não merecemos o Brasil.


10 DE SETEMBRO DE 2020

Acabou! Acabou!

FREDERICO MORIARTY

Foto: Arquivo

Vamos combinar uma coisa: 128 mil mortos depois, quase 4 milhões de infectados, panes no sistema médico-hospitalar do Brasil inteiro, maior recessão de nossa história, com arroz mais caro do que carne e os bilionários 10% mais bilionários, a pandemia acabou por auto-decreto no Brasil.

Depois de 6 meses de políticas públicas federais irresponsáveis pregando o negacionismo e agora o movimento anti-vacinas pra completar o quadro. Com pessoas batendo em médicos e enfermeiras, se recusando a usar máscara, etc. Com boçais argumentando: ” se pode abrir xópins, por que não abrir escolas”. Simples: porque não poderíamos ter abertos os xópins.

As grandes corporações empresariais do ensino conseguiram: voltem as crianças para a sala de aula. Pra quê? 100 milhões de brasileiros passaram 5, 10, 15, 20 anos num banco escolar e dão sinais claros que não aprenderam nada de ciências, biologia, matemática, história, química, geografia e, principalmente, nada aprenderam sobre o convívio numa sociedade, sobre relações humanas, respeito ao próximo.

Pergunto: o que essa massa de pizza podre fez na escola? Aprendeu nada ou aprendeu a cuspir sandices 24h por dia? Daí a gente convive com esse discursinho capenga do novo normal, do amanhã melhor, dos novos tempos. O depois de amanhã será um sapato surrado e furado da vulcabrás, o velho 752.

Imagem / Crédito: Jornal Zero Hora


Xópins lotados, bares lotados, picanhas e cervejas em falta, praias entupidas até o bico num setembro de muito sol. O brasileiro decidiu celebrar a morte. Na cabeça deve estar “não fiquei doente até aqui, não fico mais, sou forte, sou onipotente”. E, junto a isso, um sentimento de “foda-se o resto”. Ao que tudo indica o novo normal será bem pior do que o velho normal, que já não era grandes coisas.

Logo logo surgirá um coquetel de cachaça, água tônica e cloroquina pra tomar na praia. Vão apelidá-lo de Covidinho, porque temos essa mania de diminutivos. Logo logo tem vacina, afinal já vi isso em filme do Bruce Willys. Logo logo vem o novo hit do verão com muito sexo e pouco português. Logo logo vem as igrejas lotadas e os dízimos em dia, afinal Deus não tava de Quarentena. Logo logo vem as arquibancadas lotadas e mais uma final de campeonato. Logo logo vem o patrão te azucrinar: “Vai faltar só por causa de uma gripezinha? Tá demitido”.


3 DE SETEMBRO DE 2020

Violência doméstica em Sorocaba e o papel do CIM Mulher em tempos de pandemia

GERALDO BONADIO

Foto: Pixabay (Banco de Imagens Gratuito)

Sorocaba tem experiência pioneira e vitoriosa no enfrentamento de apoio às vítimas da violência doméstica. Um dos efeitos colaterais do confinamento social exigido pela pandemia da Covid-19 é o aumento – em número e gravidade – dos casos de violência doméstica. Esse fato, ecoa, em cada canto do mundo, a constatação de Sartre no Entre quatro paredes – peça apresentada aos sorocabanos em antológica montagem de Celso Ribeiro -: o inferno são os outros. Alongar o convívio forçado de casais que não mais se toleram só pode gerar maus resultados, fazendo crescer, de modo exponencial, episódios em que a mulher, espancada com diferentes níveis de brutalidade, muita vez perde a vida.

A despeito dos avanços viabilizados pela Lei Maria da Penha, falta, em praticamente todo o país, um equipamento indispensável para a proteção à mulher em situação de violência doméstica, assim como aos seus filhos: uma casa abrigo que assegure a ela o tempo indispensável a entender a situação que vivencia e a reorganizar-se, psicológica e profissionalmente, para seguir em frente, cuidando de si e de sua prole.

No plano federal, só no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff a União começou a definir e implementar um programa para construir, equipar e colocar em funcionamento, em cada um dos 27 Estados, uma estrutura de tal natureza. O mandato da presidenta foi truncado pelo golpe batizado como impeachment e, nos governos que se seguiram ao dela, nada mais se fez com tal objetivo.

O que pouquíssimos sorocabanos sabem é que, destoando dessa indiferença generalizada, temos, em nossa cidade, funcionando há quase vinte quatro anos, inclusive agora, durante a pandemia, uma casa abrigo para mulheres em situação de violência doméstica, administrada por uma ONG – o Centro de Integração da Mulher (CIM Mulher). Ela resultou do trabalho de parlamentares de diferentes partidos e foi levada à frente em sucessivas administrações municipais. Acolhe, mensalmente, até 22 famílias – mães e filhos -, de Sorocaba e da região, que nela podem permanecer por até 90 dias.

Em 1992, a lei municipal 3925, gerada por um projeto da vereadora Iara Bernardi, determinou a criação de um albergue municipal para a mulher vítima de violência. O projeto deu origem a lei municipal nº 3925, mas as providências ali estabelecidas ficaram no papel por nada menos que 14 anos.Em 1996, aquela bandeira foi novamente empunhada, agora pela vereadora Cíntia de Almeida, tendo como objetivo, agora, concretizar o que antes se idealizara.

A fim de mantê-la a salvo das oscilações políticas, decidiu-se que o albergue seria gerido por uma ONG, o Centro de Integração da Mulher, com recursos repassados pelo Executivo municipal. No ano seguinte, com o estatuto devidamente registrado, o Centro, com diretoria liderada pela parlamentar, conveniou-se com o Município. Daí por diante, tem funcionado ininterruptamente, mediante a ação conjugada de profissionais e voluntárias.

Uma das pioneiras, Valquíria Rocha, hoje falecida, dá nome à Casa Abrigo. Com a pandemia, a situação agravou-se, mas a Casa Abrigo não se atemorizou face ao desafio. Como explica Cíntia de Almeida, a instituição se jogou, com empenho ainda maior, à tarefa de receber mulheres em alto grau de fragilidade, vítimas de lesões corporais e humilhações dentro do domicílio conjugal, onde o amor e a compreensão sucumbiram diante da agressão e da intolerância.

Instaladas na residência provisória, as mulheres e seus filhos recebem a atenção de que carecem. Técnicas da instituição cuidam do apoio psicológico e reforço escolar necessário às crianças. Isso torna a Casa Abrigo um exemplo pouco comum de trabalho entrosado da sociedade civil com o poder público, que, se replicado, contribuiria em muito para reduzir a extensão e a profundidade dos danos ocasionados pela violência doméstica.


2 DE SETEMBRO DE 2020

A vida nada fácil de um jornalista analógico em tempos digitais

MARCO MERGUIZZO

Ofício à moda antiga: uma velha Olivetti e cafezinho (Arquivo pessoal)

Nestes mais de seis meses de quarentena, o trabalho remoto ou o home office, como os moderninhos ultraconectados com o idioma de Shakespeare costumam chamá-lo, trouxe as videoconferências, calls, lives, webinares e meetings, entre outras ‘cousas’ do “novo normal” para o nosso cotidiano e, literalmente, para dentro de nossas casas, incorporando-os às nossas vidas privadas, hoje devassáveis pelas câmeras e os olhares invisíveis e solertes do Grande Irmão, aquele de George Orwell, sempre nos bisbilhotando em todo lugar.

É reunião o dia todo, todo dia, o tempo todo, a qualquer hora, com compromissos profissionais sem fim, durante a semana todinha (salve, salve, capitalismo!), como se vivêssemos em meio a uma horda faminta de greemlins insaciáveis (help me, help us, Spielberg!) Comprar um simples pãozinho francês quentinho na padoca ou escapar meia horinha para pagar um boleto qualquer no banco, pode se tornar hoje uma missão quase impossível diante dos compromissos inadiáveis das agendas profissionais dos dias atuais.

De “jornalista revisteiro” e analógico do século passado, sigo engatinhando e pisando firme (em ovos, claro) nesse Novo Mundo digital dos terabytes. A comparação entre um mundo e outro – o do olho no olho, o do cafezinho depois ou antes de uma entrevista e do telefonema do passado – foi substituído pelo da tela, dos fones de ouvidos e do das mensagens genéricas e impontuais pelo zap.

Jurassic digital world: qualquer semelhança não é mera coincidência

Um universo futurista que lembra ao da família Jetsons da minha infância, que parecia longínquo e praticamente inalcançável, e o qual, enfim, chegou pra quem quiser ver. Até carros voadores, quem diria, já estão ensaiando chegar às nossas ruas, ou melhor, aos céus. Embora essa sensação de ficção que virou realidade esteja por vezes presente no meu dia a dia, confesso que me sinto mais um Fred Flintstone – yabadabadoo!

É o caso, por exemplo, da minha profissão. No “velho mundo” do jornalismo e distante do fordismo atual das fake news, rezava na cartilha do ofício e dos bons modos que, numa coletiva presencial, todo jornalista deveria participar atento e discretamente da entrevista, ao lado de outros colegas, até chegar a sua vez e o momento de fazer suas perguntas, e assim obter as respostas e as informações de que precisa para escrever a matéria da melhor forma.

Home office: sentindo-se como George Jetson (Vídeo: Hanna Barbera)

Já nestes tempos cada vez mais virtuais, a educação digital prega que você aperte os botõezinhos de desligar do áudio e do vídeo. Quem se esquece disso e transgride inadvertidamente tais barreiras elementares da boa convivência à distância pode estar sujeito a levar um pito do host (o moderador ou organizador da call) ou de qualquer outro participante presente à transmissão habituado às novas regras da nova ordem digital.

Gafes, portanto, é o que mais acontece para dinossauros das pretinhas, como eu. Em verdade é um dos meus maiores temores, senão o maior pesadelo que me aterroriza toda vez que eu entro em uma videoconferência. Dias desses, o meu áudio ficou aberto durante quase toda a entrevista com um alto executivo de uma empresa.

Sem me dar conta na hora, senti depois, ao final do encontro, uma tremenda vergonha pela minha total inaptidão digital. Sorte minha que era um horário tranquilo e não ocorreu, digamos, nenhuma entrada familiar indevida, um grunhido de animal ou barulho constrangedor qualquer. Ufa.

Os Jetsons: de ficção improvável à nova normalidade dos dias de hoje

Em compensação, já flagrei, do outro lado da tela, gato atravessando e pulando na frente do meu interlocutor remoto, o “conge” enrolado na toalha saindo do banho, o cachorro latindo, o gato miando, a molecada gritando e aprontando sem parar, briguinhas de trânsito em frente de casa, com direito a palavrões e baixarias, e por aí vai.

Como costumo dizer: de perto, ninguém é normal e, nestes novos tempos virtuais, a tecnologia e a boa convivência digital, ainda em construção, vieram confirmar que nós, os “dinos analógicos” em marcha para a extinção, somos tão “anormais” quanto as novas e hábeis gerações do Novo Mundo dos botões, das lives e das selfies.

Não se engane: há sempre um Fred Flintstone que habita e vive em nós


30 DE AGOSTO DE 2020

Temos apenas duas mãos…

LUIZ PIEROTTI

Quanto podemos dizer em apenas dez segundos? Quão necessárias são as palavras para nos fazer entender?

O sentimento, as relações, a expressão e a poesia atravessam tudo e todos, poi, no fim, o que nos une é compartilhar o sentimento do mundo.

Assim, gostaria de compartilhar com vocês, em silêncio, e repleto de expressão, um trecho de Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade.

LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais, é, desde 2002, uma das línguas oficiais do Brasil. Aprendê-la é dar voz a quem tem tanto para dizer, e tão poucos com quem compartilhar.


28 DE AGOSTO DE 2020

Zanzando na letra Z

CARLOS ARAÚJO

Z de zabumba, Z de zebra, Z de Zumbi
Z de zoológico, Z de zodíaco, Z de Zona Norte
Z de amizade, de natureza, de vizinho
Z de verniz, de xadrez, de veloz
Z de canalizar, de realizar, de utilizar
Z de amorzinho, de colherzinha, de arrozal
Z de avestruz, de azulão, de Zulmira
Z de azulejo, de zero, de Zorro
Z de azeite na cozinha azul da vizinha azucrinada
Z de suave beleza, de escrota realeza, de infinita tristeza
Z de Zuzu Angel, de Cazuza, de Zeus


Adivinha só quem ficou mais rico com a pandemia?

25 DE AGOSTO DE 2020

FREDERICO MORIARTY

Bezos, o ilustre proprietário da Amazon, faturou US$ 48 bilhões, entre março e junho deste ano. Mais do que 6 meses de auxílio emergencial no Brasil. Em apenas um dia de julho, o carequinha ganhou US$ 1,8 bilhão. Isso, camaradas, o rapaz aumentou sua poupança em R$ 10 bilhões num diazinho somente. E neguinho acha que ganhar 1 milhão no Luciano Huck deixará ele rico.

O biliardário norte-americano Jeff Bezos: acima dele só as estrelas

Zuckberg lucrou menos. Só US$ 25 bilhões na pandemia. No total, os pouco mais de 600 bilionários norte-americanos aumentaram suas fortunas em US$ 434 bilhões com a Covid. Aproximadamente o PIB brasileiro em 4 meses.

Por aqui não foi diferente. A América Latina passou de 73 para 81 bilionários. Juntos, eles ganharam US$ 47 bilhões com o vírus. No Brasil os nossos 34 bilionários aumentaram suas pobres fortunas em US$ 41 bilhões. Tadinhos. Dá pena. Por isso o Guedes decidiu criar um imposto novo para os livros e desconsiderar a taxação dos ricos.

O capitalismo vive de crises sistêmicas para o rearranjo do capital. Sempre foi assim. Um economista russo, Nikolai Kondratieff, dizia ser a economia capitalista organizada em longos ciclos de ascensão e recessão de mais ou menos 50 anos. Toda uma forma de produção, de capital fixo (máquinas e tecnologia, por exemplo) e de relações de trabalho, se esgotam após cinco décadas. A recessão brutal vem acompanhada de desemprego, desesperança e muita acumulação para uns poucos.

Foi assim em 1873, com a Grande Depressão. Depois, em 1929, e o Crack da Bolsa. Seguiu com 1973 na crise do petróleo e, agora, a de 2020 e sua pandemia. Olha, que luxo: você poderá contar que sobreviveu a uma crise. Eu já aguentei duas, meu pai as três últimas. Seja otimista, o novo normal não vai mudar nada.

O economista russo Kondratieff: o dono das curvas

E sabe aquela babaquice de “seja resiliente”? Bobagem. Você não estará do lado dos que lucram cada vez mais. Tem é de rezar para não estar do lado dos que não perderam, afinal cerca de 100 milhões de pessoas perderão o emprego no mundo após a pandemia. Outros 300 milhões irão para a miséria.

Pior ainda é o discursinho “Não reclame, trabalhe”. A Avon perdeu num sei quantos, a Zara pediu falência, a rede hoteleira Accor pode fechar e o Cirque de Soleil, ah, o Cirque de Soleil… tá devendo. Meu nobre amigo, o nome disso é capitalismo. Ou você acha que o consumidor tem saco pra receber vendedor de batom ou perfume barato em casa? Que as mulheres não cansam de consumir roupa genérica que imita as grandes empresas de alta costura e utiliza trabalho escravo? Ou alguém pensa em lotar Paris pra fazer fila e tirar sélfi com a Mona sei lá o quê? E a pipoquinha gourmet de 75 paus do Cirque, você teria coragem de deixar de degluti-la? O mercado mundial é o da googlelização. As As novas tecnologias e seus códigos binários.

O resumo é esse: o que são 116.500 mortes perante aos lucros brutais que Pfizer, Moderna, Fontoura, Bayern e demais laboratórios irão obter vacinando 7 bilhões de pessoas duas vezes por ano.

É bora de comprar um terninho verde-amarelo na Havan.


20 DE AGOSTO DE 2020

Quanto vale a vida?

FREDERICO MORIARTY

CENTO E TREZE MIL mortos por Covid 19. Média de MIL mortes diárias há 11 semanas. Previsão otimista de DUZENTAS MIL mortes em outubro.

E o presidente foi do “gripezinha”, passou pelo ” E daí”, chegou ao desrespeito abjeto com ” Não sou coveiro” , para agora culpar os governadores. Se não bastassem as falas, tudo, simplesmente tudo, no comportamento do chefe do executivo, levaram ao desapego às normas sanitárias e ao negacionismo. Então é claro, muitas destas mortes poderiam ser evitadas não fossem o escárnio de quem deveria dar o exemplo.

Mas ele não está só. Médicos, desembargadores, políticos, alguns governadores e muitos prefeitos também estavam no barco dos insanos navegando em mar de sangue.

E milhões de brasileiros sem nenhuma empatia, sem nenhum senso republicano, sem nenhum respeito ao próximo, decidiram por conta própria desrespeitar a tudo e a todos e, egoisticamente, fingir que estava tudo normal e que a doença era invenção alienígena e da Globo pra destruir o presidente ou a liberdade de ir vir. Todos assassinos por omissão e vontade.

Ato em memória dos 100mil óbitos. Rio. Fonte: Jornal O popular

Então não é estranho meu amigo me ligar para contar que a faculdade em que ele trabalhava decidiu ” vender” os alunos para outra instituição. Segundo consta, porque “eles não davam lucro suficiente “. O professor amigo já havia iniciado as aulas do semestre. Um zero à esquerda que quer ensinar e não dar lucros. A parcela de 20% de professores que não foram demitidos pela instituição recebeu uma bela redução de 50% no salário. Até aí a velha “mais valia” explica. O que o velho Marx não explicaria seria a tese de que a burguesia é a proprietária privada dos meios de produção. Professores virtuais utilizam o próprio computador, a energia elétrica da sua casa, o uaifai que eles assinam, fazem o Power Point pessoal e escrevem na lousa branca que compraram. Saudades do capitalismo antigo né, meu amigo?

Lemos assustados que a rede Carrefour, aquela que espancou um cachorro até a morte e dias atrás trancafiou um menino negro no refrigerador, escondeu um funcionário morto no meio de mercadorias para não fechar a loja por 4 horas. Claro, senão correria o risco igual ao da instituição de “ensino”: perder lucro.

E termina com a velha história do aborto numa menina de 10 anos, sistematicamente estuprada. Ninguém se lembrou que a menarca costuma aparecer depois dos 12 anos. A menina ficou grávida pela precocidade – de origem violenta e criminosa -, de seu útero. Seu corpo se adiantou no tempo não só pela violência, pela tortura física e psicológica, mas também pela brutal alteração na constituição orgânica advindas do estupro. E, oficialmente, SESSENTA E SEIS MIL meninas com menos de 10 anos são estupradas anualmente no Brasil. Milhares de pessoas foram às ruas culpabilizar a vítima. Defendendo o risco severo de causar duas mortes para salvar uma aberração. A vida pra muita gente nesse país nada vale. Como já disseram Gil e Caetano no música Haiti em 1993:

” o abominável cardeal que vê mais vida no feto do que no marginal”


17 DE AGOSTO DE 2020

Dica esperta para “laiveiros” iniciantes


16 DE AGOSTO DE 2020

Aulinha de Geografia

FREDERICO MORIARTY

A população economicamente ativa (PEA) brasileira está em 95 milhões. As mulheres representam 42% desse total, o mercado ainda é majoritariamente masculino. No mês de julho, o número de brasileiros desempregados foi de 13,5 milhões. Numa estatística familiar, isso representa 30 milhões de pessoas que têm um, dois ou o único (nas monoparentais, ou seja, naquelas em que o pai desapareceu muito antes do dia dos pais) chefe de família desempregado(a).

Os informais representam 40 milhões de trabalhadores. Como sabemos, com a pandemia e a quarentena, essa turma foi varrida do mapa. Cerca de 90 milhões de cidadãos que entraram na fila do desespero por meses. Não se esquecer de que numa sociedade machista, as mulheres são maioria entre os informais. Carteira assinada no Brasil é coisa de macho alfa. Adivinha quantas das 16 milhões de empregadas domésticas tem a azulzinha preenchida?

Cansou? Calma. Temos hoje 5,5 milhões de desalentados. Aqueles que já procuraram emprego por tanto tempo mas tanto tempo, e só encontraram sopapos, safanões e dá o fora, que acabaram por desistir de tomar xabu.

Soma aí. Esses três grupos representam 130 milhões de brasileiros. Cerca de 70% deles vivendo com auxílio emergencial do governo federal há 4 meses e que receberão o mesmo até o fim de ano. As mães chefes únicas de família recebem o dobro desse valor.

Daí, nego estranha a popularidade do Bolsonaro subir. Quando se vive numa bolha e acredita que o mundo é sua redoma de classe média, devidamente protegido pelos heróis revolucionários Felipe Neto, Anitta e outros lacradores de plantão, dá nisso.

E pergunto: quem menos apoia o Bolsonaro (mulheres) não é quem mais recebe o auxílio? Ah, mas ele fechou a Funarte. Funarte é nome de detergente pra maioria das pessoas. Bom mesmo é o Lima, Gustavo.
Ele está destruindo as universidades públicas! Sabem quantos alunos temos no ensino fundamental? Trinta e seis milhões. E quantos chegam à universidade pública? Por volta de 1,3 milhões (60% com renda acima de 30 salários mínimos). A universidade é pública só no nome.

E lembro do pessoal reclamando “Quem vota no Bolsonaro não estudou história”. Não, meus amigos, existe um negocinho desde o século XIX chamado interesse de classes, seja ela verde-limão ou mamão papaia.
“É burro”. Quem devia estudar história e GEOGRAFIA é você que acha que ele é burro. E o burro se aproxima do velho centrão e vai tirar 2022 de lavada.

P.S.: tem gente tão tapada que vai dizer que defendi o ómi.

Crédito: chargeonline.com.br

15 DE AGOSTO DE 2020

Em tempos de quarentena, uma mamadeira on the rocks por favor


14 DE AGOSTO DE 2020

A semiótica do presente

FREDERICO MORIARTY

Mikhail Bakthin foi filólogo, filósofo e pensador russo. Nasceu em fins do século XIX. Apaixonado pela literatura de Dostoiévski, Gogol e Tolstoi, é o primeiro teórico a valorizar o romance como a força motriz da literatura, superando as visões platônicas e aristotélicas ainda predominantes. Bakthin foi marxista também. Brigou com a psicanálise freudiana, com o funcionalismo de Saussaure. As palavras são signos somente e estes signos tem significados definidos pelo emissor. O ser falante não é tão simples. Seu ego também pouco diz sobre os diálogos.

Bakthin: muito além das palavras

Bakthin afirma que as palavras e signos só fazem sentido numa interação, num diálogo. Se estou numa feira de livro e digo “o que acha de Rosa”? Quem lê imediatamente pensa em Grande Sertão ou Manuelzão. Num cinema com uma possivel namorada digo “Rosa”, ela me dará os sinais corretos se devo pedi-la em namoro ou não? Um gramático vê a rosa como um substantivo.

Em resumo, quem dá o significado aos signos somos nós em nossa fala, nossos diálogos. Outra novidade de Bakthin: não só as palavras, mas os símbolos e os gestos também falam. Tão atual em tempos de redes sociais. Os traços da Nike são um símbolo universal hoje. Qualquer garoto ou garota o reconhece e deseja, muito mais do que uma cruz. E os símbolos envelhecem. Quer um diálogo mais sem sentido do que a foice e o martelo?

A foice e o martelo sobre o fundo vermelho da bandeira soviética…

Que jovem trabalhador atual se sentiria representado por duas ferramentas como essa? A Guerra Fria acabou em 1989 (apesar de Rocky Balboa não saber (leia aqui). Coincidência que o maior símbolo da exploração capitalista do trabalho, duma escravidão pós-moderna motorizada, se utilize do mesmo vermelho da libertação comunista.

Mas Bakthin foi além de qualquer outro na semiótica. Os signos, símbolos e palavras são produzidos, reproduzidos e impostos por uma classe social. A maneira como a classe diz a palavra ou a gestualiza, são suficientes para nos revelar a quem pertence. Vide o caso do entregador de comida negro em Valinhos e o rapaz branco e inchado morador de um condomínio fechado.

… e o logotipo do ifood: com a mesma identidade cromática

– Você tem inveja de mim. Pode até ganhar dinheiro, mas jamais terá isso aqui…

E fez o gesto racista, conhecido por todos os brancos de apontar para o braço e subir e descer os dedos, gritando e dizendo sem falar uma palavra: “Seu preto! Jamais terá a minha cor!”.

Ou seja, o racismo existe no Brasil e vem da cor da pele, do tratamento preconceituoso e da certeza que os negros sempre saberão o seu lugar na sociedade: o de baixo. Sim, Bakthin foi perseguido por Josef Stalin, foi parar na Sibéria por seis anos, porque não abriu mão de suas teses. Elas valem tanto no capitalismo quanto no stalinismo.

Antigo cartaz da ex-URSS, de 1952

Ao olharmos para o atual governo brasileiro temos a certeza: é o despejar de tudo aquilo de asqueroso que pensávamos ter ficado parado nos anos 60. Não é à toa que eles acreditam na Guerra Fria. Mas, pelo jeito, muita gente ainda vê assim, com os óculos dos anos 50. Seja o nosso Putin com o lançamento talvez precoce de uma vacina contra Covid com o nome de Sputinik V (leia sobre a corrida espacial, clicando aqui), seja por pessoas de esquerda comemorando o feito como se fosse a vitória da União Soviética sobre os EUA. A mente envelhece rápido quando se é dogmático.


13 DE AGOSTO DE 2020

Meu reino por um mundo sem lives de vinho

MARCO MERGUIZZO

Saudades dos velhos tempos. De abrir uma garrafa de vinho e poder desfrutar da companhia dos amigos. Conversar sem parar e sem olhar pro relógio. Contar e ouvir histórias. Rir, chorar, lembrar das coisas boas do passado para, no final, nos embriagarmos de alegrias, sorrisos e nos embebedarmos, que seja, literalmente.

Sermos, enfim, felizes de verdade, como antes.

Coronavírus: quero o meu mundo de volta! Quero aquele meu “mundinho líquido”. Quero o meu “novo normal” sem lives que proporcionam “experiências sensoriais virtuais”!

Xô, maledeta Covid!

Xô às lives de vinho!


12 DE AGOSTO DE 2020

103.421 mortos: não vamos nos calar


11 DE AGOSTO DE 2020

No novo normal nem tudo é tragédia

MARCO MERGUIZZO

Noves fora a tragédia humana causada pela Covid-19, o vírus invisível e letal também proporcionou uma série de inflexões e um “cair a fichas” para muita gente, o que resultou em mudanças de comportamentos autodestrutivos que pareciam irreversíveis, e, quem sabe, de um bem-vindo recomeço para evitarmos no futuro um novo caos e o colapso do nosso maltratado planetinha.

O caso mais visível e emblemático talvez tenha sido a recuperação surpreendente e quase que instantânea do meio ambiente, com menos poluição do ar e produção de lixo urbano; o renascimento de rios e córregos que cortam várias cidades do mundo, como os canais de Veneza, com suas águas transparentes repovoadas de aves e cisnes, e cujas imagens correram e encantaram o mundo; e o retorno triunfal de animais silvestres e da cantoria barulhenta e festiva dos pássaros que pareciam ter sido banidos pela insanidade do homem.

Ou seja, mesmo diante do flagelo apocalíptico e da catástrofe cotidiana de vidas perdidas para o coronavírus, vale lembrar e invocar dois velhos clichês: “A esperança nunca morre” e “Nem todo mal é para sempre.”

A Covid trouxe cisnes e peixes de volta aos canais de Veneza: esperança

10 DE AGOSTO DE 2020

Vida de professor

Quase todas as instituições privadas de ensino superior demitiram professores durante a pandemia. O número é assustador. Os mestres foram obrigados a utilizar seu próprio computador, sua energia elétrica, seu wifi, seu celular. Sem nenhum custo para as empresas. Além das aulas online ao vivo, com clara invasão da vida privada, as reuniões – supostamente – pedagógicas foram multiplicadas por 10. Obrigaram os professores a criarem grupos de zapzap e atender alunos e pais dos mesmos 24h por dia.

Como as aulas não são presenciais, exigiram a elaboração de materiais diários não previstos em contrato de trabalho. Exercícios domiciliares viraram febre. E no possível retorno às aulas ouviu-se todo mundo, até o vendedor de pipoca da esquina, menos o professor. Além das demissões, muitos, como o meu amigo Martinho, tiveram o salário reduzido em 25% e uma junção de turmas com diminuição de 50% na carga e nas horas-aulas pagas. Mas nada supera o “novo normal”.


9 DE AGOSTO DE 2020

Salvem os pais e os filhos da floresta

 Homenagem dos blogueiros independentes do Terceira Margem, neste domingo (9/8), aos pais e filhos da floresta. Os índios, a Amazônia e as áreas de proteção ambiental ameaçados pela atual política governamental pedem socorro. Salvem os índios brasileiros. Salvem os pais e filhos da selva.

O Pai de todos

Dueto magnífico de violão e cello de Rosalind Beall e Anna Comellas da cantata 147, “Jesus, Alegria dos Homens”, de Johann Sebastian Bach.

Um feliz e tranquilo dia dos pais.


8 DE AGOSTO DE 2020

Agora, sim, entendi


7 DE AGOSTO DE 2020

Pré-candidato

FREDERICO MORIARTY

Um novo desafio!!

Eu, Frederico Moriarty, comunista, esquerdista, ecochato, escritor, blogueiro, professor de escola pública e privada, católico, fanático por hambúrguer, cachorreiro, pai de gêmeas, venho anunciar PUBLICAMENTE que, após alguns encontros, reuniões, debates e lives (sempre por vídeo online), feitos com meus amigos, militantes, familiares e, após a aprovação da minha esposa e das minhas filhas e analisar cada proposta, cada plataforma de trabalho, além de refletir muito sobre o grupo de apoiadores e ideologias afins, decidi, mesmo perante a dificílima tomada de atitude e luta de minha parte, não voltar mais atrás à escolha feita e buscar de forma ética, correta e transparente de atingir os objetivos prometidos. Pelo bem de toda a Nação.

Hoje, 7 de agosto de 2020, anuncio de forma IRREVERSÍVEL, nesta e noutras redes sociais, a minha PRÉ-CANDIDATURA a saborear um delicioso churrasco na casa de todos vocês, logo após o término da pandemia. Não pedirei muito, apenas uma boa picanha, linguiças, um ‘queijim’ de coalho, cerveja, cocão e maionese. Me informem a data no privado ou no zap para eu organizar a agenda de campanha.

Gratos pela atenção!
HASTA LA VICTORIA!!

P.S.: o tom humorístico de hoje foi proposital, afinal amanhã será um dia trágico em nosso país.


6 DE AGOSTO DE 2020

Réquiem de Mozart: 100 mil mortos no ex-país do samba e da alegria

MARCO MERGUIZZO

A cena épica e magistral do filme Amadeus (1984), do diretor Milos Forman

5 DE AGOSTO DE 2020

96.096 brasileiros mortos: o conto do vigário em tempos de Covid-19


4 DE AGOSTO DE 2020

O fascínio da comunicação multimídia bem antes da era digital

MARCO MERGUIZZO

Embora vivamos nos dias de hoje em plena era digital multimídia, e completamente dependentes de computadores e celulares, sobretudo nestes tempos de pandemia, em que diversos meios de comunicação tecnológicos estão interconectados para transmitir mensagens, mesclando texto, som, imagens fixas e animadas, tais recursos não eram bem uma novidade na Itália de 400 anos atrás.

Sim, é vero. Quer um exemplo do que estou dizendo? Dá uma espiada no vídeo, logo abaixo, que eu vi nestes dias na rede mundial de computadores. Engenhosamente surpreendente e poética, a escultura de ondas cinéticas construída pelo americano Ross McSweeny dá a exata noção do balanço de um barquinho deslizando sobre o mar, em meio à dança acrobática de um bando de golfinhos. Simplesmente fascinante.

Mas o impressionante é saber que, no século XVII, Bernardo di Buontalenti (1531-1608) foi o precursor do teatro mecanizado, utilizando dispositivos como este. Em pouquíssimo tempo, esse tipo de recurso cenográfico chegou à ópera: no primeiro teatro construído especificamente para o gênero, o Teatro di San Cassiano, em Veneza, já se encontrava equipado para tais proezas da mecânica.

Os pioneiros da ópera, como Francesco Cavali (1602-1676) e Antônio Cesti (1623-1669), utilizaram estes recursos ao máximo, transformando a ópera em um grande espetáculo multimídia desde aquela época, em um passado já bem, bem distante.


3 DE AGOSTO DE 2020


2 DE AGOSTO DE 2020

Limites do crescimento

FREDERICO MORIARTY

O casal de cientistas Donella e Dennis Meadwos elaborou uma série de gráficos, em 1972, no Massachussets Institute Tecnology, o renomado MIT.

Trabalhando com dados da população mundial, recursos naturais disponíveis, crescimento econômico e poluição atmosférica, eles simularam o futuro até 2100. Para a equipe que tabulou centenas de milhares de dados nos anos 70 o pressuposto inicial era: os recursos naturais são finitos. Dez entre dez economistas criticam a tese por esse motivo. O que nos faz ter mais medo ainda dos economistas. O super-computador simulou o futuro. Os dados são impressionantes:

  1. Entre 2010 e 2020, a temperatura da Terra iria aumentar de 0,5 a 1° C (confirmado).
  2. Por volta de 2035 a população de 8 bilhões começa a regredir (as projeções confirmam tal previsão).
  3. O ano de 2020 será o início do colapso econômico (dito em 1972).
  4. O abandono sucessivo da educação e saúde levará a uma queda brutal na qualidade de vida até 2050.
  5. Em 2072, o PIB será metade do atual. A principal causa de morte será a poluição.
  6. A população em 2100 será de 2 bilhões, a mesma de 1900. Fome, guerra, peste, desigualdade, poluição atmosférica serão os culpados.
  7. O caos mundial ocorrerá entre 2050 e 2070.

Como evitar? Distribuição de renda, uma sociedade de consumo consciente e que abandone os combustíveis fósseis, investimentos massivos em saúde e educação e controle do crescimento populacional. Principal: um desenvolvimento sustentável. Seis meses após o início da pandemia, o otimismo parece impossível.



1 DE AGOSTO DE 2020

Aos ex-amigos, cúmplices da barbárie

Não sei quando tudo isso começou. Quando foi que pessoas que eu gostava, convivia, conversava afetuosamente e, em alguns casos, até admirava pelo exercício talentoso de seus ofícios, se transformaram em seres irracionais, irresponsáveis e levianos, defensores de ideias autoritárias, mesquinhas, rasas , preconceituosas, medievais e, em muitos casos, até fascistas.

Quando foi, afinal, que pessoas que tinham uma conduta social equilibrada e pareciam olhar o mundo pela mesma janela que você – cada um à sua maneira, claro – viraram esta coisa esquisita que já não reconheço como próxima de alguma civilidade?

(Reprodução do texto de José Eduardo Rodrigues publicado originalmente no Facebook)


31 DE JULHO DE 2020

Seria um filme de horror

Foto: Arquivo

CARLOS ARAÚJO

A Cinemateca Brasileira, um patrimônio do audiovisual e da nossa cultura, pede socorro e não acontece nada. Se a história de abandono da Cinemateca fosse traduzido em roteiro, daria um filme de horror em virtude do descaso do governo federal com o patrimônio público e cultural brasileiro. E o pior é que nada acontece, como se o Brasil estivesse entregue ao nada.

A situação dramática da instituição foi matéria de reportagem exibida nesta sexta-feira (31) na edição do jornal Bom Dia São Paulo da Rede Globo. Na reportagem, o professor da USP Carlos Augusto Calil descreve a gravidade do problema: “A situação é gravíssima. Desde o início do ano a situação ficou fora do controle, as contas e serviços não são pagas, a conta de luz, a conta de manutenção elétrica, a empresa de segurança, os salários dos funcionários estão sem cobertura desde abril. Então a situação é de colapso iminente.”

Na mesma reportagem, o procurador geral da República, Gustavo Torres, informa: “O Ministério Público Federal tentou esperar que a União apresentasse soluções emergenciais para um problema que vem se arrastando pelo menos desde o começo deste ano, mas a União demorou, a União parece não se preocupar em deixar a Cinemateca numa situação de semi-abandono.

A Cinemateca precisa de medidas que pelo menos a resguardem de incêndio, de degradação, de furtos. Então o Ministério Público precisou pedir ao Judiciário medidas judiciais enquanto uma solução de longo prazo e sustentável não se impõe.”

A Cinemateca Brasileira é órgão de responsabilidade do governo federal. Obteve grande visibilidade na mídia quando neste ano a atriz Regina Duarte, ao deixar o seu cargo na “cultura” do governo federal, achou que ia dirigir a Cinemateca e o plano ficou frustrado.

E pensar que o embrião da Cinemateca foi idealizado na década de 1940 por iniciativas dos intelectuais Paulo Emilio Saulo Gomes, Décio de Almeida Prado e Antonio Cândido de Melo e Souza, personalidades que cravaram seus nomes e suas obras como símbolos da história e da memória cultural do Brasil.

O site da Cinemateca informa que a instituição é responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira. Tem o maior acervo da América do Sul, formado por cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de um milhão de documentos relacionados ao cinema, como fotos, roteiros, cartazes e livros, entre outros.

O histórico da Cinemateca já registra a ocorrência de três incêndios em épocas passadas. E acrescenta que de 2008 a 2013 o órgão passou por grande impulso na preservação e difusão de acervos, bem como da infraestrutura, “graças a recursos investidos pelo antigo Ministério da Cultura, em parceria com a Sociedade Amigos da Cinemateca”. Esse registro mostra que a atenção ao órgão é possível desde que haja vontade e atuação responsável.

Será que o governo federal aguarda o momento de assumir de fato a obrigação de socorrer a Cinemateca somente quando isso não for mais possível? Será que a Cinemateca vai merecer a atenção do governo federal somente se ela tiver o mesmo fim do Museu Nacional do Rio, destruído por um grande incêndio em 2018?

E a sociedade brasileira, por que se limita a lamentar a situação e a assistir passivamente ao abandono da Cinemateca como quem se dá por satisfeito com os sentimentos de indignação e as notas de repúdio? A inércia e a covardia de grande parte da sociedade brasileira também compõem a tragédia que explica a destruição da cultura e de outras áreas prioritárias no abismo e no desastre em que o Brasil se transformou atualmente.

Para quem despreza o cinema, a cultura, as artes de forma geral, basta lembrar que Shakespeare e Cervantes representam mais para a humanidade e a memória do mundo do que qualquer governo. Que Machado de Assis e Guimarães Rosa, assim como o Cinema Novo e a Bossa Nova, fazem muito mais pela imagem do Brasil no mundo do que qualquer política externa de qualquer governo.

Que o cinema é um dos pilares de construção da identidade dos povos. Que a arte, além de sua importância social, política, econômica, turística, é tão importante para o sentido da vida quanto o ar que respiramos. Abraçar a causa da Cinemateca somente depois que ela for destruída por um incêndio ou coisa parecida será a nossa confissão de culpa. Vibramos com as selfies diante de museus na Europa e nos Estados Unidos, mas desprezamos os nossos patrimônios culturais aqui no Brasil. E quando eles são destruídos nos incêndios e viram cinzas, então vertemos lágrimas sobre as chamas, tarde demais.

Por enquanto, o roteiro da história de abandono da Cinemateca Brasileira vinculado a um filme poderia ser inspirado em “Esperando Godot” de Samuel Beckett: espera-se uma solução, mas não se sabe como ela virá, nem se virá, nem quando. E Joseph Conrad encerraria melhor o roteiro do abandono da Cinemateca com a sua famosa descrição: “O horror!, o horror!”


30 DE JULHO DE 2020

O trenzinho de Villa-Lobos e a viagem de um pequeno caipira

MARCO MERGUIZZO

Foto: Arquivo Pessoal

Os trens da antiga Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) fizeram parte da vida de muita gente na região de Sorocaba (não por acaso ganhou este nome de batismo) e da minha, em especial.

Como numa viagem no tempo, relembrei com nostalgia os bons tempos da minha infância, nos já longínquos anos 1970, em que embarcava feliz, vez ou outra, rumo a São Paulo com o meu pai, que diariamente seguia até a capital para trabalhar no excelente Hospital Sorocabana, no bairro da Lapa, hoje infelizmente fechado como muitos hospitais públicos por todo o país, a bordo dos confortáveis vagões de passageiros da EFS.

Tudo veio à minha mente quando reouvi no Youtube o Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos (1887-1959), composição memorável interpretada pela Orquestra da Osesp, cujo vídeo reúne os músicos, nestes tempos de isolamento social, gravados em suas próprias casas.

O maior compositor clássico brasileiro compôs o ciclo de nove “Bachianas Brasileiras” nas décadas de 1930 e 1940. Ele mesmo dizia que sua intenção era “universalizar a música de Bach através do folclore”. Muitas delas se tornaram parte incontornável do repertório.

Desenho / Crédito: Baptistão

Em boa medida, elas definem o que pode ser a música brasileira de concerto – aos olhos do mundo e de nós mesmos. O Trenzinho do Caipira, das “Bachianas nº 2”, toca num nervo de nossa identidade mais funda. Ao mesmo tempo arcaica (o caipira) e moderna (o trem), nos faz vibrar com a ideia de uma cultura brasileira, calcada na tradição e no conhecimento, mas também na experiência popular.

Villa-Lobos, desde sempre, tem sido um mestre-pai-irmão-amigo de todos nós. Sua música faz parte da história da Osesp, jamais deixará de estar presente nos concertos. E não dá para tocar essa música sem lembrar que estamos na antiga Estação Sorocabana, hoje Sala São Paulo, e ao lado da Estação Júlio Prestes.

O “Trenzinho” é um verdadeiro emblema sonoro da Orquestra e da Sala SP. Interpretado pelos músicos da Casa, cada um na sua casa, regidos à distância por Thierry Fischer, ele vai aqui, em especial, para todos os profissionais na linha de frente do combate à Covid-19 e, também, como expressão de solidariedade e conforto, para todos que sofrem a angústia de ter parentes e amigos isolados em tratamento hospitalar, e todos que perderam entes queridos durante a pandemia.

É isso, também, o que nos diz a música de Villa-Lobos, ressoando como nunca no coração de cada um de nós. Como tudo, a tragédia do coronavírus também passará. Que todos nós tenhamos muita força e fé enquanto essa hora não chega.

Direção Artística e Executiva: Arthur Nestrovski e Marcelo Lopes

29 DE JULHO DE 2020

A triste e incômoda posição do Brasil na tragédia da Covid

MARCO MERGUIZZO

Fonte: Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC)

Além do estudo acima elaborado pelo ECDC, a Universidade Johns Hopkins, em Maryland, nos EUA, é a principal referência no mundo quando o assunto é contabilização dos casos de coronavírus. A instituição também disponibiliza em seu site um mapa mundi que atualiza, em tempo real, os novos casos confirmados da covid-19, e as mortes.

Na lateral esquerda do site, há uma barra em que você pode clicar no país que deseja para entender qual a realidade específica dele naquele momento. Essa barra mostra o número total de casos confirmados (confirmed cases) do novo coronavírus em cada país.

A lateral direita mostra o número total de mortes (total deaths), o número total de pessoas curadas (total recovered) e um gráfico com a curva de progressão da contaminação por Covid-19. Clique aqui, para conferir os números atualizados no mundo todo.


28 DE JULHO DE 2020

Pandemia amplia abismo social

MARCO MERGUIZZO

Além da tragédia humana do coronavírus, que já levou a vida de quase 90 mil brasileiros, a concentração de renda e o abismo social no país se acentuaram nesses cerca de quatro meses de restrições da atividade econômica e isolamento social.

É o que afirma o documento publicado nesta segunda-feira (27/7) pelo portal da ONG Oxfam Brasil, entidade voltada a identificar e a combater as desigualdades sociais no Brasil. A conclusão faz parte do relatório “Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid-19 na América Latina e Caribe”, divulgado pela entidade.

Com base em dados do ranking de bilionários da revista Forbes, a Oxfam relata que o patrimônio líquido dos brasileiros mais ricos subiu de US$ 123,1 bilhões, em março, para US$ 157,1 bilhões, agora, em julho. Ou seja, houve um crescimento cumulativo de US$ 34 bilhões durante a pandemia, seguindo a mesma tendência dos bilionários latino-americanos. Ao todo, 73 super ricos da região aumentaram suas fortunas em US$ 48,2 bilhões, entre março e junho, de acordo com o levantamento da ONG.

Vivendo em outro planeta
Desenho / Crédito: Angel Boligán

“A Covid não é igual para todos. Enquanto a maioria da população se arrisca a ser contaminada para não perder emprego ou para comprar o alimento da sua família no dia seguinte, os bilionários não têm com o que se preocupar. Eles estão em outro mundo, o dos privilégios e das fortunas que seguem crescendo em meio à, talvez, maior crise econômica, social e de saúde do planeta no último século”, ressaltou Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

Desde o início das medidas de isolamento social, oito novos bilionários surgiram no País – ou um novo bilionário a cada duas semanas. A entidade estima que até 52 milhões de brasileiros entraram na linha de pobreza. E, para piorar, cerca de 40 milhões podem perder seus empregos até o final 2020, crescendo o índice de fragilidade social e miserabilidade no país.

Ou seja: ninguém além dos ricos de verdade ganham com a atual política econômica excludente e voltada aos interesses do capital que elegeu o governo Bolsonaro. O ministro “neoliberal” Paulo Guedes, de “Posto Ipiranga sabe-tudo” passou a ser chamado de “Imposto Ipiranga”, ao defender nas últimas semanas a volta da CPMF.

Trocando em miúdos: a concentração de renda cada vez maior é o único projeto do neoliberalismo bolsonarista. Enganados pelo canto da sereia neoliberal e pelo mantra do Estado mínimo, a classe média brasileira, os pequenos empresários e os chamados “pobres de direita” vão no final, como sempre, pagar a conta – e o pato.

Como se vê, o Brasil, país que ostenta o nada honroso segundo lugar no ranking entre as piores distribuições de renda do mundo, segundo a ONU, concentrando 1/3 das riquezas do pais nas mãos dos mais ricos, continua para poucos. E, desde sempre, só para os muito ricos.


27 DE JULHO DE 2020

O velho normal

FREDERICO MORIARTY

Passados 130 dias da primeira morte no Brasil por Covid, o saldo é trágico: mais de 86.000 famílias perderam entes querido e quase 2,5 milhões de pessoas tiveram a gripe mais letal desds 1918.

Vemos histórias de superações, solidariedade, fraternidade, todos os dias. A maioria dos brasileiros levou a doença e as recomendações científicas e médicas a sério. Cumpriram a quarentena, mantiveram o isolamento social, mudaram hábitos. Colaboraram para um ” achatamento” na curva de contágio até metade de maio.

Nessa época, o Brasil do atraso, do negacionismo, dos interesses econômicos e políticos mais perversos, agiu contra a vida e a inteligência. Liderados pelo presidente facínora, governadores amigos, prefeitos criminosos, abriram as chaves do inferno. Milhões de brasileiros foram às ruas como se a pandemia não existisse. Espalharam o vírus, contaminaram pessoas em cadeia, deram alimento para uma doença que estava muito perto de ser enfrentada com sabedoria. O resultado: temos hoje o dobro de óbitos e casos do que teríamos se essa parte egoísta, sem empatia, sem respeito ao próximo não tivesse jogado todo o esforço fora.

Hoje é um dia triste. Dentro de duas semanas passaremos dos 100 mil falecidos e não temos a mínima ideia de quando esses números irão baixar. Pra colaborar, muitas cidades querem botar os 35 milhões de estudantes em sala de aula a partir de agosto. Qual o sentido desse genocídio?

O velho normal venceu.


26 DE JULHO DE 2020

Enquanto houver sol

ENQUANTO HOUVER SOL

(Música e Letra: Titãs)

Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma ideia vale uma vida

Quando não houver esperança
Quando não restar nem ilusão
Ainda há de haver esperança
Em cada um de nós

Algo de uma criança
Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol
Ainda haverá

Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol

Quando não houver caminho
Mesmo sem amor, sem direção
A sós ninguém está sozinho
É caminhando
Que se faz o caminho

Quando não houver desejo
Quando não restar nem mesmo dor
Ainda há de haver desejo
Em cada um de nós
Aonde Deus colocou

Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol
Ainda haverá
Enquanto houver Sol

Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol
Ainda haverá
Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol

Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol
Ainda haverá
Enquanto houver Sol
Enquanto houver Sol


25 DE JULHO DE 2020

Desventuras domésticas de um sobrevivente da Covid-19

MARCO MERGUIZZO

O cartaz iconoclasta do filme E La Nave Va (1983), de Federico Fellini

Já cozinhei de tudo e bebi quase toda a minha adega.

Assei pão fitness, fiz nhoque, picadinho de frango orgânico, bolo de amendoim do Fineis.

Aspirei pó (o da casa), cantei no chuveiro, faxinei o lar doce lar em todos os pontos cardeais.

Fui lavar minhas meias e cuecas e manchei duas camisas da patroa com cândida.

Já vi série, filme, novela, li uma biblioteca de livros,

assisti lives, participei de calls e de happy hours virtuais no “Zoom”.

Tomei sol no quintal, cochilei no sofá, competi comigo na esteira,

parei de me pesar na balança, deixei o cabelo crescer…

E la nave? La nave Va!

CV: fluente em francês, analfabeto social

Charge: Ribs

Lute como uma ema

Crédito: Jornalistas Pela Democracia

24 DE JULHO DE 2020

A dor da despedida e a empatia viralizadas na rede

MARCO MERGUIZZO

Foto: Arquivo (Agências internacionais)

Sob a atmosfera apocalíptica da pandemia, que até agora já vitimou 640 mil pessoas, uma estatística trágica que corresponde à atual população de Sorocaba, e afligindo de quebra milhares de famílias, a imagem acima correu o planeta, viralizada pela rede mundial de computadores.

Após a imprensa israelense publicar a foto que congela o olhar e a dor pungentes de Jihad Al-Suwaiti, de 30 anos, empoleirado perigosamente na beira de uma janela de hospital na cidade de Hebron, na Cisjordânia, a vigília e a história de amor deste palestino de 30 anos pela mãe tocou o coração de milhões, despertando a empatia e o verdadeiro sentimento de humanidade diante da tragédia do coronavírus.

Com a matriarca isolada no quarto do hospital, Jihad escalou durante cinco dias consecutivos os seis andares da parte externa do prédio para ver Rasmi Suwaiti, de 73 anos, proibida de receber visitas, e que seriam desafortunadamente os seus últimos dias de vida. Uma imagem dramática e tocante de uma dor imensurável. Universais, a empatia e a solidariedade humanas não têm fronteiras, cor, religião ou raça.


23 DE JULHO DE 2020

De quem é a culpa?

FREDERICO MORIARTY

17 de abril: Mandetta é demitido.
18 de abril: Com 4.000 mortos por Covid, Bolsonaro diz que não é coveiro.
19 a 22 de abril: Em diversos eventos, Bolsonaro anda em meio à multidão e – sempre sem máscara -, abraça correligionários.
23 de abril: Moro é demitido.
24 de abril: Bolsonaro fala 1h20 em cadeia nacional sobre Moro e o R.G. falso da sogra.
25 de abril: Frente aos mais de 5.000 óbitos, Bolsonaro exclama: ” – E daí?”
26 de abril: Sites, páginas do feice, zap começam a compartilhar vídeos e mensagens afirmando que a Covid não existe. Imagens com caixões vazios. Correligionários espancam médicos e enfermeiros nas ruas.
27 de abril: Brasil completa 40 dias da 1° morte. A curva de óbitos segue a da Alemanha (gráfico abaixo). A quarentena e o isolamento mostraram-se eficientes e “achatamos” a curva.
28 de abril: Apoiadores do presidente saem às ruas pedir fim da “farsa da quarentena”.
Maio: Cidades, estados e muitas pessoas abandonam as restrições e passam a defender a reabertura econômica já!! Os casos começam a crescer exponencialmente.
Junho. A quarentena persiste nas escolas apenas. Trocaram o isolamento por máscara e álcool em gel. O presidente continua sem ministro da Saúde desde 13 de Maio.
Julho: A pandemia faz parte do passado para muitos brasileiros. Basta tomar cloroquina, água tônica, alho e esperar a vacina.
23 de julho: 82.000 mortos e há cinco semanas numa média de mais de 1.000 mortos/dia (vide de novo o gráfico). São 70 dias sem ministro da Saúde.


22 DE JULHO DE 2020

Arte e oportunismo

MARCO MERGUIZZO

A partir do icônico quadro a série inspiradíssima de Adão Iturrusgarai

A discussão não é nova: a linha conflitante entre arte, copismo intelectual (cópia daquela) e falsificação. Coloco ainda a minha azeitona nessa empada a fim de ampliar esse debate: o oportunismo.

Tudo porque veio à baila nesta semana um processo de direitos autorais perpetrado pelos herdeiros da grande artista brasileira Tarsila do Amaral, uma das figuras centrais do movimento modernista de 1922, contra o talentosíssimo cartunista, o veterano Adão, cujos desenhos já foram republicados pelo Fora da Margem, e bastante curtidos por quem acompanha o nosso canal de humor. A neta, Tarsilinha, representante dos mais de 40 herdeiros da artista, comanda o espólio e licencia os direitos para filmes, roupas e chinelos.

Um dos mais respeitados craques das artes gráficas e do cartum nacionais, Adão Iturrusgarai fez uma série memorável tendo como tema o mais icônico dos quadros da pintora paulista, que é natural da vizinha Capivari – Apaboru –, numa espécie de tributo e reverência ao talento dela. Assim como as fotos emblemáticas de Frida Kahlo e Che Guevara, a obra de Tarsila ostenta fama e projeção internacionais e, portanto, enorme prestígio global. Por extensão, ela também é uma das mais valorizadas artistas brasileiras e latino-americanas lá fora.

Em 2019, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) levou Tarsila do Amaral (1886-1973) para um novo patamar da arte internacional ao arrematar a obra A lua, pintura feita em 1928, durante a fase parisiense da pintora. Em termos de status e valores financeiros envolvidos, pode-se afirmar que Tarsila passou, a partir de então, a estar lado a lado com Pablo Picasso e Henri Matisse, sem exageros.

A Lua (1928), de Tarsila do Amaral

O museu norte-americano investiu à época US$ 20 milhões (R$ 75 milhões) no quadro. Foi a maior quantia já paga por uma obra de arte de um artista latino-americano. Nem Frida Kahlo atingiu esse valor. Quando vendido para o colecionador argentino Eduardo Constantini, em 1995, o Abaporu, também de Tarsila, custou US$ 2,5 milhões. Com tantos milhões em jogo, não por acaso o cartunista Adão, no papel de David do cartum, terá que lutar pela liberdade de trabalhar e expressar-se diante desse novo e poderoso Golias das artes plásticas e dos deuses insaciáveis do capitalismo e do vil metal.


21 DE JULHO DE 2020

Luto pelo Brasil

Charge da capa / Crédito: Gilmar

20 DE JULHO DE 2020

Das escolhas e curvas que elegemos

FREDERICO MORIARTY

Na segunda passada o Jornal Nacional publicou 4 gráficos com a evolução da média diária de contaminados. Três países conseguiram “achatar” a curva da Covid. Cumpriram a quarentena, fizeram o isolamento, testaram muitos e mapearam os focos da doença e estabeleceram uma estratégia unificada e racional de combate à pandemia. Nós, ao contrário, contamos com um presidente negacionista que boicotou todas as medidas de saúde. E parte da população colaborou, desrespeitando toda e qualquer regra.

Resultado da balbúrdia: entramos na 5° semana seguida com média de 1.000 mortos diários e estamos com 2,1 milhões de infectados. Não temos a mínima ideia de quando entraremos na fase de declínio. A Itália que foi a primeira nação em que enxergamos a tragédia, terminou o dia 19 com apenas 3 mortos. Detalhe: eles tiveram o primeiro óbito em 23 de fevereiro, exatos 24 dias antes da primeira morte no Brasil. Em 13 de agosto (daqui 24 dias) estaremos ainda com quase mil mortes diárias e um total acima de 100 mil falecidos, quase o triplo da ‘Bota’. A nossa tragédia não foi acaso, foi fruto da política genocida de um país que está sem ministro da saúde há 64 dias. São consequências das malditas escolhas, como diz Atila, influenciador científico na postagem abaixo:


19 DE JULHO DE 2020

A excrescência no futebol brasileiro

FREDERICO MORIARTY

A articulação pelo retorno do Campeonato Carioca durante a pandemia que já matou mais de 79 mil brasileiros e o decreto sobre direitos de transmissão estreitam laços entre Bolsonaro e diretoria do Flamengo. A estratégia ainda contou com a transmissão da partida final pelo SBT. O canal é do velho Silvio Santos que proibiu seus jornalistas de falar mal do governo e demitiu outros tantos.

O Flamengo conquistou o seu 36º Campeonato Carioca. O título, num Maracanã sem público, mas com um hospital de campanha anexo ainda cheio, teve sabor especial para o presidente Jair Bolsonaro, que divulgou foto assistindo à final com o uniforme rubro-negro. O presidente da República se engajou pessoalmente pelo retorno “solo” do torneio, concretizado em meados de junho, mesmo com a Pandemia fora de controle no Rio. O torneio acabou apelidado pelos cariocas de Covidão 2020.

O presidente ainda piorou as relações espúrias entre dirigentes esportivos e governo. Supostamente em tratamento da Covid e em meio a 2 milhões de infectados e 79.000 óbitos, Bolsonaro teve tempo para posar com várias camisas de clubes como o Inter, Sport, Atlético, Palmeiras, Cascável. Um doente grave pode interagir com redes sociais e até brincar com a richa com o Corinthians.

Tudo isso em meio à liberação de mais duas parcelas do auxílio emergencial. É uma verdadeira política do Panis et circensis.

Para acessar todos os posts de 1/6 a 24/7/2020, clique em cima da imagem abaixo

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