Hoje, entrevista com Pedro Muriel

Ah, é doloroso receber um Não…

Evandro Affonso Ferreira

Se você aí do outro lado é escritor, escritora, sabe como é doloroso receber um não de uma editora…

Pílula do dia

Poemas, de Saint-John Perse

Nasceu em 1887, em Pointe-à-Pitre, Guadalupe, morreu em 1975. Nobel de Literatura. Diplomata. Antônio Houais: Há na poética de Saint-John Perse um acúmulo de denotações e conotações que a situam no extremo limite do ato de pensação extra-racional, extra-discursiva (e, ironicamente, forjada com enormes recursos discursivos), mas, inequivocamente, tangenciante daquilo que se deve ser a razão de ser poético como forma outra de mentar.

Trechos desta obra:

E ao meio-dia, quando a árvore jujubeira faz estalar a base dos túmulos, o homem cerra suas pálpebras e refresca sua nuca nas idades… Cavalarias do sonho do lugar das poeiras mortas, ó estradas vãs que até nós um sopro desgrenha. Onde encontrar, onde encontrar os guerreiros que guardarão os rios em suas núpcias?

* * *

E depois vieram as neves, as primeiras neves da ausência, sobre os grandes tecidos do sonho e do real; e, perdoada toda pena aos homens de memória, houve um frescor de linho em nossas têmporas. E foi pela manhã sob o sal cinzento da madrugada, um pouco antes da sexta hora, como numa abra de fortuna, um lugar de graça e de mercê onde licenciar o enxame das grandes odes do silêncio.

Entrevista: Pedro Muriel Bertolini

Poeta, formado em Relações Internacionais. Mineiro, nasceu em Belo Horizonte, 1987. Pedro Muriel, disse o escritor Afonso Borges, quando a gente acha que ele foi, já está voltando nos contagiando com seu bom humor. Não perde nunca, jamais, a luta pela vida se ancorando nas palavras, no seu inconfundível vocábulo poético, encantador. Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-Minas. Entre trabalhos solos, parcerias e outros projetos, tem cinco livros publicados, entre eles: Proesia e Numa esquina dos trópicos. Tem dado palestras sobre autonomia, literatura e acessibilidade. Acredita na poesia, no sonho e nas gentilezas cotidianas. Beijos, meu Poeta Pedro.

Evandro Affonso Ferreira – Difícil desvendar os meandros esperançosos que se camuflam no subsolo da utopia?
Pedro Muriel Bertolini – Depende do interesse do detetive, talvez o melhor seja ter esperança sem esperar demais por qualquer utopia.

Evandro – Você também, feito eu, é Quixote moderno querendo a todo custo criar, dia qualquer, moinho-malabarista capaz de manipular com destreza futuros ventos-contrários?
Pedro – Não sei dizer, minha vida inteira briguei com ventos-contrários, os coloquei como se fossem metas e chegadas. Hoje vejo que não é nada disso, só quero ser Quixote para não ser herói de coisa alguma.

Evandro – E a solidão? É aquele invisível, acocorado ali no canto, carente de apalpamentos?
Pedro – A grande solidão é ter a falsa sensação de que se encontrou e deixar de procurar.

Evandro – É possível farejar as voluptuosidades do eventual, as luxúrias do acaso, o desejo de cooptar o imprevisível?
Pedro – É sempre possível, mas é necessário ter nos olhos uma espécie de telescópio/microscópico. Que aí você não perde as estrelas nem as joaninhas.

Evandro – E os contratempos? Catalogá-los na volumosa pasta dos percalços?
Pedro – Fizeram tanto por mim. Acho importante porque me ajudaram a me organizar. Mundo sem graça, com certeza seria uma linha reta, uma vida linear.

Evandro – E quando o afago se descamba para a obliquidade? Como consertar as empenas do telhado do fraterno?
Pedro – Com paciência e geometria.

Evandro – Com o tempo, é possível farejar, com certa antecedência, uma rua sem saída?
Pedro – Só se você aprender com o tempo dos outros. Acredito que ruas sem saídas são importantes para percebermos que o concreto também tem fronteira.

Evandro – E esse nosso daqui-a-pouco, esses nosso logo-mais querendo se antecipar procurando desesperado a intuição?
Pedro – Aí é o medo nos dizendo que temos que intuir sempre sobre tudo. E a intuição é um palpite, nunca uma probabilidade – posso estar errado.

Evandro – Você acredita que se quiser encontrar, a todo custo, a Verdade, poderá ser internado algures num hospital especializado numa doença crônica, cujo nome é Arrepsia?
Pedro – Existem expectativas, o agora e o contexto. A gente embola tudo e tenta se aproximar da verdade, essa coisa indefinida. Eu coloco uma interrogação na frente de tudo e não sou grego.

Evandro – E aquele possível amor que desaba de repente a poucos passos do quase-acontecendo?
Pedro – São gostosos até que aconteçam; depois, vira confusão total. Amor é também estado de demência – demência boa com sorvete e lua de mel.

Conheça a obra de Pedro Muriel em videopoema por Áquila Emanuelle

Fragmentos

Poderia farejar as voluptuosidades do eventual, as luxúrias do acaso, as propiciações do sagrado desejo de cooptar o imprevisível. Poderia chegar a pressentir os incógnitos e os impresumíveis com seu olfato metafísico. Poderia aprender a adestrar uma dezena de mistérios com seu chicote incognoscível. Para isso, dizem, precisaria adquirir o dom da existência.

Livro de minha autoria

Foto principal

(As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos).

As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)

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