
O Poeta sistemático
Evandro Affonso Ferreira
Hoje acordei me lembrando de uma historinha que o poeta Mário Chamie me contava…
Pílula do dia

Fado Alexandrino, de António Lobo Antunes
Escritor português (Lisboa). Formado em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Ganhou inúmeros prêmios. Exemplos: Prêmio Europeu de Literatura, Prêmio Camões e Prêmio Jerusalém de Literatura. Escreveu dezenas de livros, entre eles: Memória de Elefante, Tratado das Paixões da Alma, O Manual dos Inquisidores e Exortação aos crocodilos.
Trecho do livro:
Eu sou o cão daquele rebanho de palavras, sempre a fugirem do papel e eu a trazê-las outra vez: não se pode ladrar às palavras: tem de se lhes correr à volta.
Entrevista: Alcir Pécora
O professor e o sacramento

Crítico literário, professor livre-docente da Universidade de Campinas. Editou e organizou as obras completas de Hilda Hilst, Roberto Piva e Plínio Marcos. Foi diretor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. É membro da Academia Ambrosiana de Milão. Escreveu Teatro do Sacramento, Máquina de Gêneros e Rudimentos da Vida Coletiva.
O professor que rouba vírgulas
Evandro Affonso Ferreira – Costumo dizer que sou muito afetivo, pegajoso, motivo pelo qual gostaria que Deus fosse palpável. Afinal, procurar Deus é querer apalpar plenitudes?
Alcir Pécora – Apalpar é obscenidade apropriada a desejos palpitantes, como são os divinos.
Evandro – Agora, depois de velho, tenho conseguido polir os avanços com o verniz da parcimônia. E você? Já se afeiçoou aos recuos? É condescendente com os retrocederes?
Pécora – Sou condescendente com tudo a que estou obrigado.
Evandro – É possível rastrear lampejos?
Pécora – Claro, a memória não passa disso: rastreamento de lampejos.

Evandro – É aconselhável, vez em quando, se refugiar, resignante, nos estupefatos?
Pécora – Não mesmo: entregar-se a loucura é como dormir e acordar num pesadelo pior.
Evandro – Você já ensinou seu próprio olhar a refutar angústias e todos os seus apetrechos melancólicos?
Pécora – O que se refuta aqui, renasce ali, pior e mais concentrado.
Evandro – Costumo esbarrar, distraído, tempo quase todo na precipitação. E você?
Pécora – Bem ao contrário: sofro de inércia, isto é, de fazer apenas o mesmo sempre.
Evandro – Você já aprendeu a farejar com antecedência uma rua sem saída?
Pécora – Quando você aprende a farejar realmente bem, percebe que nenhuma rua tem saída.
Evandro – E quando você pretende empreender tarefa de confeccionar caminhos, mas percebe que seus passos não se adaptam às probabilidades peregrinas?
Pécora – É aí que você percebe que o seu tamanho real é bem menor que o seu amor-próprio lhe prometia.
Evandro – Você já inventou, para consumo próprio, símbolo gráfico indicativo para ajudá-lo a seguir os próprios instintos?
Pécora – Meus instintos são ágrafos.
Evandro – E as certezas? Vida toda ultrapassamos, se tanto, o pórtico do talvez?
Pécora – Certeza mesmo, só uma, aquela que não se pode viver.
Fragmentos
Seus titubeios cotidianos engendram reiterados tropeços – quase nunca vê pela frente montículos de terra atafulhados de sementes de percepção.
Jactâncias

Livros de minha autoria
1996 – Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000 – Grogotó! (Topbooks)
2002 – Araã! (Hedra)
2004 – Erefuê (Editora 34)
2005 – Zaratempô! (Editora 34)
2006 – Catrâmbias! (Editora 34)
2010 – Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012 – O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014 – Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016 – Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017 – Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018 – Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019 – Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020 – Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021 – Rei Revés (Record)
Foto principal
As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos.
As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)
Capa: Marcelo Girard
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