
Nunca houve tanto fim como agora…
Evandro Affonso Ferreira
Como todo mundo sabe, todo escritor tem lá seus momentos de excessivas jactâncias…
Pílula do dia
Perguntas insólitas


E pelas praças não terá nome, de James Baldwin

Escritor americano. Neto de escravo, Baldwin nasceu em 1924 num hospital do Harlem, Nova Iorque. Poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e ativista. Escreveu vários livros, entre eles O quarto de Giovanni e Numa terra estranha.
O Poeta e a liberdade e o ódio
Entrevista: Itamar Vieira Junior

Itamar Vieira Junior nasceu em Salvador. Formou-se em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, doutor em estudos étnicos e africanos pela mesma Universidade com estudo sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do nordeste brasileiro. Em 2018 venceu o Prêmio Leya, com o romance Torto arado. Escreveu também Dias e Oração do carrasco (Prêmio Humberto de Campos da UBE (Seção Rio de Janeiro).
O escritor e seu arsenal de resistências

Evandro Affonso Ferreira – Procurar a verdade é querer estudar a anatomia do inimaginável, debulhar as cascas do incognoscível?
Itamar Vieira Junior – Procurar a verdade é ter a consciência de que ela também é relativa: muda com o tempo, muda quando nos confrontamos com outras verdades.
Evandro – E quando você se sente refém das ciladas da afoiteza? Sim: quando percebe que está transgredindo os preceitos da precaução?
Itamar – Respiro fundo e dou vazão a minha natureza de gato: contemplo a afoiteza, reverencio a parcimônia.
Evandro – Como tanger com destreza o próprio rebanho de inquietudes?
Itamar – Nem sempre é aconselhável tanger nossas inquietudes. Devemos mergulhar nelas de vez em quando para encontrar os nossos próprios limites.
Evandro – E quando seus passos não se adaptam jeito nenhum às probabilidades peregrinas?
Itamar – Escolho uma bifurcação e procuro por caminhos que se adaptam aos meus passos.

Evandro – Às vezes, nem sempre, estoico, consigo trocar a penúltima vogal pela primeira: ao invés de odiar, adiar. E você?
Itamar – Eu prefiro viver as palavras inteiras: odiar quando for tempo de odiar, adiar quando for tempo de adiar.
Evandro – Você tem o hábito de jogar sementes de conformismo sobre seu terreno baldio?
Itamar – Para muitas coisas a semente do conformismo e da mudança eu as lanço no terreno à procura de respostas.
Evandro – Existe nele, seu baú invisível, uma penca de irrealizações?
Itamar – Existe. E pretendo mantê-las porque as irrealizações movimentam a vida na esperança de realizá-las.
Evandro – E quando as mágoas se embrenham nas suas entranhas? Como se livrar dos urros do rancor?
Itamar – A vida e o tempo se encarregam delas, sem pressa e aflição.
Evandro – Você já se viu, alguma vez, diante do espelho praticando lisuras?
Itamar – Diante do espelho eu só vejo a minha máscara.

Evandro – É possível se precaver tempo todo contra as próprias contradições?
Itamar – Não. Impossível. Mas as contradições nos dão a dimensão de nossa humanidade. Não preciso me precaver delas.
Evandro – Viver? É possível se preparar para esta emboscada?
Itamar – Não é possível porque só sabemos sobre o viver enquanto vivemos.
Evandro – Agora, com o passar do tempo, tenho conseguido polir os avanços com o verniz do recuo. E você? Já se afeiçoou aos recuos? É condescendente com os retrocederes?
Itamar – Recuar é o movimento dos sábios. Do xadrez às guerras, é preciso saber que há tempo de avançar e tempo de retroceder.
Fragmentos
Quando diz que é propícia aos precipícios, não podemos jamais esquadrar nossa ontológica personagem no catálogo da imensa-inumerável turba dos desencantados: está apenas exercendo, lúdica, suas dissimuladas aliterações. Ludibrio estilístico.
Jactâncias

Livros de minha autoria
1996 – Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000 – Grogotó! (Topbooks)
2002 – Araã! (Hedra)
2004 – Erefuê (Editora 34)
2005 – Zaratempô! (Editora 34)
2006 – Catrâmbias! (Editora 34)
2010 – Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012 – O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014 – Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016 – Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017 – Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018 – Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019 – Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020 – Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021 – Rei Revés (Record)
Foto principal
As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos.
As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)
Capa: Marcelo Girard
Deixe uma resposta