Poquermania

Rubens Nogueira

Pode parecer que estou perdido no tempo. Havana não é mais o quintal dos americanos. Fidel Castro – quem se lembra dele?

Os antecessores de Fidel, ditadores espertos, acolheram os jogadores, profissionais ou não, e a pequena Cuba tornou-se um paraíso do vício – de todos os quilates — por muitos anos proibido aos americanos.

O pôquer tornou-se mania mundial. Aqui nos trópicos os profissionais da jogatina se cruzavam.

Em Sorocaba, o Hotel Vicente, o melhor da cidade por anos e anos, recebia cariocas vestidos de branco, mãos tratadas por excelentes manicures. Eram profissionais muito simpáticos, bons fregueses das frutas que meu pai vendia como vizinho do hotel na Souza Pereira, em frente à Praça do Canhão (ali existia um monumento, um canhão, apontando para a estrada para São Paulo, lembrando que em 1842 aquela máquina de guerra defendera a Convenção de Itú, episódio da história nacional).

Cariocas e carioquinhas muito elegantes chegavam todo fim de semana. As sessões de pôquer no Sorocaba Clube começavam no almoço de sexta-feira e iam até a tarde de domingo, em salas reservadas. Quantos bailes semanais e festas de formaturas se realizavam em espaços preservados no ainda belo edifício da Praça Coronel Fernando Prestes.

Era uma época na qual a esposa do Dutra ainda não estreara como presidente adjunta.

Assim, os mestres do carteado percorriam o país de norte a sul.

No Rio de Janeiro, minha sogra, dona Carlota, quando não recebia em seu apartamento, ia a casa de amigos. Seu parceiro de mesa era o prefeito Mendes de Moraes, também conhecido como colecionador de muitas dezenas de relógios.


Samuel Wainer

Vanderlino Nunes devia ter motivos políticos para providenciar visita de solidariedade a Samuel Wainer, preso no quartel da polícia militar no Centro do Rio. Daí ter-me escolhido para visitar o jornalista. Samuel Wainer recebeu-me simpaticamente — não nos conhecíamos até então. Após as apresentações, procuramos nos identificar como colegas. Ele já era veterano, mas estava longe de alcançar a projeção que Getúlio lhe deu, quando autorizou o Banco do Brasil a emprestar o necessário para a construção da sede da “Última Hora”, na avenida que tinha o nome presidencial, pouco adiante da Central do Brasil.

Foi uma revolução na imprensa carioca.

As máquinas, os técnicos trazidos da Argentina, novas técnicas de paginação, cores e fotos em abundância. O desenhista Lan, recentemente falecido, fez parte da equipe importada. O dinheiro – do Banco do Brasil.

Getúlio foi eleito, Lacerda jurou destruir o concorrente. (Lacerda para sempre será perseguido pela caricatura “o corvo” – reproduzida na biografia de Samuel Wainer).

Imagem principal: Rudy e Peter Skitterians do Pixabay

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