
Uma novidade
Evandro Affonso Ferreira
Eu tenho uma novidade. Em janeiro, sai meu novo romance pela editora Record…
Pílula do dia
Perguntas insólitas


A morte vem buscar o arcebispo, de Willa Carter
Escritora americana (1873-1947). Uma das mais significativas escritoras da literatura norte-americana do século XX. (Um crítico definiu lapidarmente A morte vem buscar o arcebispo quando o comparou a “um cálice de prata, lavrado a mão, de linhas puras e severas, cheio até a borda com o límpido e essencial vinho do amor – o amor do homem pelo homem, o amor de Deus pelo homem, e o amor do homem por Deus”.)
Trecho do livro de Willa Carter
Entrevista: Adriana Lisboa

Carioca, vive hoje nos Estados Unidos. Bacharel em música pela Uni-Rio. Doutora em Literatura Comparada na UFRJ. Escritora e tradutora. Traduziu livros de Cormac McCarthy, Margaret Atwood, Robert Louis Stevenson, entre outros. Escreveu vários livros e foi traduzida no Japão, na Inglaterra, na França, na Alemanha, Suécia, Itália. Ganhou os prêmios Moinho Santista e Prêmio Saramago.
Adriana é o poema
Evandro Affonso Ferreira – A transcendência é o último andar do mistério?
Adriana Lisboa – Acho que o mistério é o último andar da transcendência – cobertura de luxo.
Evandro – Você desconfia que já foi o etecetera da frase de alguém?
Adriana – Espero que sim.
Evandro – Quem nos compensará do frio da existência?
Adriana – Nós mesmos, no calor da existência.
Evandro – E a verdade? Trancada a sete chaves num baú dentro de porão qualquer numa cidadezinha que se chama Alhures, cuja capital é Algures?
Adriana – A verdade, suponho, é um mito. Às vezes empunha armas.

Evandro – E o corte no outro? Cicatriza rápido em você?
Adriana – O corte no outro é algo que devia doer mais na gente. Estranha a condição humana, essa mania de si.
Evandro – E o fogo de Prometeu? Deu em água de barrela?
Adriana – A gente podia voltar lá atrás e recomeçar. Uma fogueirinha para aquecer a tribo já bastava.
Evandro – Para você, hem? Só o que tem nome existe?
Adriana – Nomear as coisas facilita. Mas muitas não têm nome mesmo não.
Evandro – E Deus? Que diabo é isso?
Adriana – Saber mesmo eu não sei, mas desconfio que seja algo diametralmente oposto daquilo que há tempos vem sendo feito em seu nome.
Evandro – Você vive tentando se precaver contra as próprias contradições?
Adriana – A gente se envergonha das próprias contradições até perceber que essa é só mais uma vaidadezinha tola.
Evandro – Você já se acostumou com os solavancos do imprevisível?
Adriana – Acho que já me acostumei a saber que eles ocorrem, não importa qual a minha atitude.
Evandro – Você, vez em quando, transita pelos obscuros becos do destrambelho?
Adriana – O destrambelho às vezes é um beco obscuro, mas às vezes é uma campina ensolarada.
Evandro – É possível farejar as voluptuosidades do Eventual, as luxúrias do Acaso?
Adriana – Na verdade as voluptuosidades talvez estejam no constante, no previsível, no sistemático.
Evandro – E os contratempos? Catalogá-los na volumosa pasta dos percalços?
Adriana – O contratempo é o que marca o compasso da estrada, não?
Fragmentos
Acredita-se que um dia ela, nossa ontológica personagem, vai descobrir que a existência é uma metáfora dela mesma, ou melhor, sua própria interjeição: Puxa vida!
Motejos

Livros de minha autoria
1996 – Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000 – Grogotó! (Topbooks)
2002 – Araã! (Hedra)
2004 – Erefuê (Editora 34)
2005 – Zaratempô! (Editora 34)
2006 – Catrâmbias! (Editora 34)
2010 – Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012 – O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014 – Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016 – Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017 – Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018 – Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019 – Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020 – Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021 – Rei Revés (Record)
Foto principal
As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos.
As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)
Capa: Marcelo Girard
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