Ademar Guerra, ainda à espera de uma homenagem à altura em sua cidade natal

“De longe tem uma boa distância.”
(Adilson Barros)

Paulo Betti

Sorocaba tem uma praça dedicada ao grande diretor teatral Ademar Guerra. Fica perto da Igreja do Bom Jesus do Bomfim da Água Vermelha, erigida por João de Camargo, o grande taumaturgo, na avenida Barão de Tatuí, hoje um dos lugares distintos da cidade.

Pena que no local não exista nenhuma identificação nem placa que se refira ao homenageado. Valeria a pena reivindicar isso da secretaria de cultura da cidade. Que se colocasse placa informativa. E havia no local uma estátua de cimento, representava as máscaras teatrais do riso e da tragédia. Essa obra de arte foi vandalizada poucos meses após a inauguração por alguém munido com uma picareta! Vejam que vem de longe esse ovo de serpente que estamos vendo prosperar na intolerância.

Até Sonia Braga assinou o pedido da praça aceito pela prefeitura!  No dia da inauguração, houve banda musical e a presença de autoridades e artistas, entre eles Osvaldo Mendes, autor, ator, diretor, biógrafo do Ademar, além de amigo do mesmo. Também presente a grande bailarina Marika Gidali.

Ademar dirigiu diversas vezes a famosa Cia de Ballet Stagium. Participei do movimento para que essa praça existisse, reverenciando aquele que foi o mais importante homem do teatro sorocabano e um dos maiores do nosso país.

Não tive oportunidade de conviver com ele, nem mesmo o privilégio de fazer parte de algum de seus grandes trabalhos como diretor. Assisti deslumbrado, depois de viagem de ônibus, quatro horas ida e volta, Sorocaba–São Paulo, teatro Aquarius (Aquarius!!!!) a antológica montagem do musical Hair, versão brasileira, excepcional!



“Deixe o sol entrar”

Foi Ademar que dirigiu aquele elenco! Aracy Balananian, Neusa Borges, Laerte Morrone, Armando Bogus, Paulo Cesar Pereio, Ney Latorraca, Ivone Hoffmann, Nuno Leal Maia.

A peça era também um protesto contra a guerra do Vietnam, mas eu só me lembro da cena em que o elenco todo ficava nu. Procurar a Sonia Braga nua no meio daquela floresta de penis expostos foi um exercício quase impossível. A cena era delicada e muito significativa, falava de se despojar dos bens materiais, e abraçar a vida mais natural, de acordo com a filosofia hippie.

As traduções das letras das canções foram da poeta Renata Pallotini, que está completando seus 90 anos.

“Deixe o sol entrar!”, dizia a canção. O espetáculo era irradiante! Fiquei empolgado, decidi que queria fazer teatro. Mas não sabia que o diretor era o conterrâneo Ademar.

Ele dirigiu muitas outras obras geniais, mas pra mim nem precisava, tamanho o impacto imensurável de Hair.

Uma vez viajei com ele no famoso Trem de Prata, que saía de São Paulo às 23 horas e chegava no Rio às 8 da manhã. Devo ter alugado o grande mestre falando excessivamente sobre o projeto no qual estava envolvido e que viria a ser a peça Na Carrera do Divino. Lembro dele ter estimulado muito a idéia de abordar o tema caipira.

Bão, então essa é a primeira proposta pra área da cultura do município, ou seja: estimular a memória, divulgar,  incentivar o estudo da obra do grande Ademar Guerra, revitalizando e nomeando a sua já existente praça e, através desse gesto, criar pontes com os que fazem cultura na cidade.

Ademar Guerra nasceu em 10/09/1933 e morreu em 19/02/1993.

Um registro histórico

A versão nacional do musical Hair, dirigida nos palcos por Ademar Guerra, ficou registrada em um LP de 1969, cantado pelo elenco original, com letras de Renata Pallotini. As canções desse disco raro podem ser ouvidas no canal do YouTube Sou da Paz.

São Benedito

Outra reivindicação pra secretaria, junto à Catedral: que se abra um concurso pra contratar um artista plástico com objetivo de fazer a pintura de uma paisagem, como pano de fundo para a imagem de São Benedito, a única que não tem essa distinção na belíssima catedral de nossa cidade.

Talvez seja interessante manter o mesmo padrão das pinturas já existentes para preservar um padrão estético.

Foto principal: o terreno na esquina da rua Cuiabá com a avenida Barão de Tatuí onde deveria estar a praça Ademar Guerra não lembra nem de longe uma praça. Hoje o local não passa de uma esquina com chão de terra e mato alto sob o qual se escondem alguns restos de paralelepípedos enterrados, que lembram um calçamento circular. Ao ser inaugurada, além do monumento destruído, a praça tinha ajardinamento e bancos. (Foto: José Carlos Fineis)

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