
O sopro da afoiteza
Evandro Affonso Ferreira
Uma das qualidades mais notáveis de um ser humano em segurança é a ousadia…
Pílula do dia
Perguntas insólitas


Histórias de cronópios e de famas, de Julio Cortazar
O leitor e a página em branco
Entrevista: Cristovão Tezza

Romancista, contista, ensaísta. Foi Professor de Língua Portuguesa na UFPR – Universidade Federal do Paraná. Ganhou todos os prêmios literários nacionais de literatura, possíveis-imagináveis. Escreveu muitos livros. Já foi traduzido em vários países, entre eles: China, Estados Unidos, Eslovênia, Inglaterra.
O escritor e a alegria
Evandro Affonso Ferreira – Agora, com o tempo, tenho conseguido polir os avanços com o verniz da parcimônia. E você? Já se afeiçoou aos recuos? É condescendente com os retrocederes?
Cristovão Tezza – Pois nunca pensei nisso. Só vou adiante, mesmo quando volto.
Evandro – É possível rastrear lampejos?
Tezza – Não.

Evandro – Procurar Deus é querer apalpar plenitudes?
Tezza – Ou platitudes. Essa é uma área em que prefiro ficar quieto.
Evandro – Você já ensinou seu próprio olhar a refutar angústias e todos os seus apetrechos melancólicos?
Tezza – Em geral, evito brigar comigo mesmo, porque é inútil. Só vou me prestando atenção.
Evandro – Costumo esbarrar, distraído, tempo quase todo na precipitação. E você?
Tezza – Já fui assim, aqui e ali, para minha desgraça momentânea. Mas a tensão do tempo foi me educando.

Evandro – Você já aprendeu a farejar com antecedência uma rua sem saída?
Tezza – A vida inteira é uma rua sem saída, de modo que eu procuro me distrair com os seus becos internos, sempre interessantes.
Evandro – E quando você pretende empreender tarefa de confeccionar caminhos, mas percebe que seus passos não se adaptam às probabilidades peregrinas?
Tezza – Essa é fácil: mudo o caminho.
Evandro – Você já inventou, para consumo próprio, símbolo gráfico indicativo para ajudá-lo a seguir os próprios instintos?
Tezza – Não; instinto é coisa por inteiro.

Evandro – E as certezas? Vida toda ultrapassamos, se tanto, o pórtico do talvez?
Tezza – Certezas são produtos perecíveis e renováveis, mas que nos deixam em pé no dia a dia.
Evandro – É possível se preparar para as emboscadas do desprezo?
Tezza – Não sei; é um sentimento estranho para mim.
Fragmentos
Vida depois da morte? Era só o que faltava: exigir estreia noutro palco depois de anos seguidos de ensaios patéticos.
Motejos

Livros de minha autoria
1996 – Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000 – Grogotó! (Topbooks)
2002 – Araã! (Hedra)
2004 – Erefuê (Editora 34)
2005 – Zaratempô! (Editora 34)
2006 – Catrâmbias! (Editora 34)
2010 – Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012 – O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014 – Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016 – Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017 – Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018 – Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019 – Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020 – Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021 – Rei Revés (Record)
Foto principal
As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos.
As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)
Capa: Marcelo Girard
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