Davi Deamatis
(Blogueiro convidado)
Eu não resisto aos olhos dela, os quais me atraem como um ímã, e me colam ao seu corpo, felino, de finas garras que me sangram com doloridos carinhos.

Ela me cura das feridas recolhendo as folhas que caíram durante o outono de sua ausência. Pois é com elas que me faz os devidos curativos. Sim, para feridas de amor, as flores são plantas milagrosas. E são o aroma do perdão. Elas devolvem a alegria para aqueles que de tristeza já se achavam sem vida, e trazem à luz aqueles que se achavam soterrados pelo desânimo.
Diante dela, atado a ela, entrego-me à fantasia. E então ela me remove do mundo para a nuvem da inteira felicidade.
E assim, na nuvem, tenho a ilusão de reinar sobre o mundo, dominado pela fera que me caça, que me arrebata de um jeito assim tão grande que não sei traduzir em palavras.
Talvez esse amor felino não caiba mesmo na floresta das palavras!

Davi Deamatis, jornalista há 40 anos, agora é um feliz brasileiro aposentado que vive de livros e de ilusões. Por isso escreve, não mais por obrigação, mas por prazer – e exercita-se: é pós-graduado em Língua Portuguesa e em Literatura Brasileira. Nas letras, diz que que está na adolescência (tempos em que sonhava ser poeta). E é feliz por novamente ouvir o canto da sereia, de quem ainda não ganhou o beijo. Nem sabe se ganhará. Mas vai em frente, mesmo diante do espanto de sua mãe que, já anjo, do céu o alerta: “cuidado, menino!”
Ilustração do alto: Júlio Veredas
Ilustração central: Theia Stramandinoli Deamatis
Deixe uma resposta