Justiça para todos ou Sentimento de Vendetta? Parte I – O menino e a festa:

Everson Pires – (Café Envenenado)

Um menino, aproximadamente 13 ou 15 anos, de pele escura (preto), morador da periferia (favela), sotaque nordestino, sai para dar uma volta de bicicleta na cidade.

Fiquei até chique', diz menino que ganhou bicicleta do Papai Noel na  Capital - Comportamento - Campo Grande News

Estamos em época das Comemorações do Aniversário da cidade, logo, têm umas barraquinhas de cachorro-quente, pipoca, vinho quente, bebida gelada, um parque de diversões e hoje, uma dupla sertaneja aqui da região vai se apresentar.

Tem um “burburinho” acontecendo na cidade.

Final de julho.

Está frio.

Festa do Peão de Americana | Family Log Coberturas

Mas o “rolê” promete.

A entrada para a festa custa R$ 15,00.

O “dogão” custa R$ 8,70 e ainda acompanha um copo de suco.

O menino tem fome. O pai dele é ajudante em um abatedouro avícola da cidade. O salário está há 3 meses atrasado. A empresa ameaça fechar.

É a crise.

O patrão não fala nada (capitalista safadão filho da puta).

O departamento pessoal também não.

Para comprar o básico de alimentos, pagar água e luz, o pai faz bico de “meia colher” na construção civil aos sábados e domingos.

Conheça Raul Coelho, pedreiro de Brusque que atua há mais de 50 anos no  setor

A mãe do menino é doméstica. Evangélica. Teve apenas um menino. Queria um casal.

–  “Vixe mainha, du jeito qui as coisa tá, num dá pra te mais fio não”. – É o que sempre diz a mãe, quando o menino lhe pede uns trocados para ir até o centro.

O menino nunca deu trabalho na escola.

Menino bom.

Empina pipa.

Joga uma pelada “mais ou menos”.

Curte mesmo é pedalar.

Cruza a cidade de bicicleta. Empina, “da zerinho”, pula lombadas, faz acrobacias. Coisas de moleque.

– “Quem nunca pedalou uma bicicleta, pensando ser um piloto de Fórmula 1? ” – diz o assistente social, que vez ou outra, visita as comunidades carentes da cidade.

Chega na porta do Espaço de Festas.

Não dá para entrar. Sem grana.

Fica ali, junto com outros meninos olhando o “movimento”.

O segurança da festa também é um assalariado.

Pegou esse “trampo” para ajudar em casa. A pedido dos organizadores, ele “chega junto na molecada e dá um esporro”.

Segurança Para Festa - Photos | Facebook

– “Tamo aqui de boa só olhando tio”.

– “Tio o escambal moleque! Rala daqui senão chamo os homi”.

Os meninos não saem.

Falam uns palavrões.

Chega à guarda civil. Começa o bate-boca.

Os populares só olham.

O “cara” da barraca de lanche diz que eles atrapalham a freguesia.

A polícia manda circular.

Ação da prefeitura visa a limpeza e a segurança na Praça Takaki na Paulista  – Jornal O Regional

Os meninos saem.

Menos aquele.

Ele não roubou, não matou.

Tem curiosidade. Querem ver as “novinha” que entram e saem.

Os agentes de segurança (particular ou do estado) se exaltam.

Alguém agride alguém.

Foi o pretinho que começou. Desce todo mundo “pra baixo” (delegacia).

– “Tem que prender esses meninos da favela, esses ladrõezinhos”, diz alguém.

– “Amarra no poste, igual eu vi no Datena”, outro retruca.

Até fazer contato com a família do menino, já passa da meia-noite.

A festa acabou.

A freguesia bombou no “dogão”

Dogão da Praça restaurante, São Paulo, R. Serra de Bragança - Avaliações de  restaurantes

A festa foi um sucesso. Muita dança, muito tchaca-tchaca e pancadão.

Os manos pegaram as novinhas. Todo mundo feliz.

Continua…

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