Existem algumas leis básicas da boa gastronomia:
1. Jamais. Isso mesmo, jamais peça uma fritura num boteco de esquina ( de ovo então, são criminosos);

2. Em Pizzarias desconhecidas peça a velha e boa muçarela. Em nenhuma hipótese escolha uma que traga muitos ingredientes. “Da Casa” apenas se quiser morrer mais cedo;
3. Bacalhau é o oitavo pecado capital

No tempo do LP conheci uma moça. Quase 3 meses de namoro e fui convidado para um almoço de domingo em família. Era jovem, não conhecia os riscos de tal aventura.Quando cheguei à rua do apartamento da garota, ela me esperava uma quadra antes. ” Deve gostar de mim”, pensei.
– O almoço não está pronto – informou-me
– Estou com fome
– Calma. É um prato especial que minha mãe faz. Vc irá adorar.
– Lasanha?
– Não
– Parmegiana?
– Não
– Porpetoni?
– Não!!!
– Arroz com suan?
– Que saco! Espere pra ver – voz estridente
Este foi o primeiro sinal. Temos de ficar atentos aos sinais. Algo não ia bem entre nós.
Meia hora depois subimos ao imóvel.
– Este é meu irmão.
Cara daquela cerveja preta de garrafinha
– Oi
– Esta é minha irmã mais velha
Nem me olhou
– Bob Pai
Pior não podia ser…
– E esta é minha mãe querida!
Lenço de cozinha na cabeça, avental, brincos imensos da cor esmeralda.
– Prazer – eu arrisquei
– É todo meu!
– Tá quase pronto o almoço. Você vai adorar! Continuou a mamis
– Que bom. Ela e a filha voltaram para a cozinha; eu sentei-me a sala.
Mais meia hora de saia justa entre os familiares de plantão. Fórmula 1 na TV. Eu me esforçando pra ser um rapaz responsável. Eis que a garota volta:
– Almoço servido
Na mesa uma travessa de salada, um imenso recepiente de arroz soltinho e duas imensas assadeiras de…
Bacalhau gratinado!!!
Procurei picanha, procurei carne, procurei frango, sola de sapato, qualquer coisa que evitasse eu colocar no prato o terrível peixe.
A mulher me serviu umas dez portentosas porções. As tiras do fétido peixe se destacavam. Imaginei-me deitado numa praça pública, a instantes da descida da guilhotina. Rezei por uma luz. Tive esperança. Nada. Só a colher cheia do peixe sem cabeça. Enfiei na boca em desespero, fingi mastigar com gosto, engoli em meio ás lágrimas. Os 5 me olhavam com atenção redobrada.
– Gostou? Que achou? Tá salgado? Minha mãe não é o máximo?
– Sim. Balbuciei
Olhei para o lado e iluminou-se meu caminho: Coca Cola. Tomei um copo cheio em apenas um gole.

– Mais!
E foi assim, entre garfadas do prato das profundezeas e goles monumentais de Coca Cola que não morri naquele almoço.
– Nossa, não faz mal beber tanto refrigerante?
– Tenho um pouco de diabetes. Não fico sem açúcar.
Almoço terminado, corri ao banheiro. A vontade era vomitar tudo, mas me segurei. Meti a goela na torneira e tomei uns 3 litros de água. Não, o gosto maldito não passara. O bacalhau estava grudado em minha garganta.
– Sobremesa! Gritou a namoradinha
Saí animado do banheiro. Quem sabe um bolo de chocolate. Um mussezinho qualquer.
– Especialidade da mamis! Torta de limão!
Terminei o namoro após o almoço. O bacalhau era o segundo sinal. Agora torta de limão pra finalizar trazia a certeza de que o destino jamais me colocaria ao lado dela.

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