Pouca água no curso do rio já revela as consequências das reduções de vazão ocorridas em Itupararanga


Nota

Após a publicação deste artigo, foi divulgada, em 20 de dezembro de 2021, a oitava redução na vazão de água da represa de Itupararanga para o rio. Nesse mesmo dia, ocorreu uma audiência pública na Câmara Municipal de Sorocaba, com o objetivo de discutir ações que possam conter a crise hídrica. Mais informações: https://www.facebook.com/camarasorocaba/videos/273552581323230


Sandra Nascimento

Sem precisar andar muito, quem percorre apenas um pequeno trecho do passeio às margens do Sorocaba já pode perceber apenas um fino curso d’água seguindo lentamente. Neste período de seca, já considerada a maior da história, as sete reduções de vazão que ocorreram nos últimos meses na represa de Itupararanga, demonstram claramente que o reservatório já atingiu o seu volume morto. Abaixo do índice de 817,45 metros sobre o nível do mar – situação em que se encontra hoje –, a água é considerada imprópria para o consumo.

Curso d’água segue lento

No final da primeira quinzena de dezembro de 2021, a sétima redução defluente na represa baixou sua vazão de 2,25 metros cúbicos por segundo para 2 metros cúbicos por segundo, liberando desta forma menos água ao leito do rio. Considerando que um metro cúbico equivale a mil litros, atualmente apenas dois mil litros de água seguem para o Sorocaba a cada segundo.

Fatores como desmatamentos e a estiagem severa provocada pelas queimadas de 2019/2020/2021 – com consequências catastróficas para a região Sudeste –, mais os plantios para exploração de reflorestamento no entorno da represa, os soterramentos de olhos d’água e a ocupação indevida do território sem a preocupação com os ciclos da natureza, muito colaboraram para conferir agora ao rio Sorocaba essa séria situação de escassez.

Detritos e bancos de areia modificam a paisagem

Não bastasse isso tudo, o caminho das águas vai ganhando uma nova aparência. Há muita sujeira jogada à margem que é varrida para o leito durante uma ou outra chuva. Bancos de areia se espalham por todas as partes, formando pequenas ilhas para aves, plantas e restos. O lodo se acumula nas extremidades e o lixo natural, como árvores tombadas e bichos mortos, obstrui alguns lugares de passagem do curso. Galhos secos deslizam devagar, servindo como depositários de detritos. E, infelizmente, algumas paragens já denotam mau cheiro.    

Galhos secos se tornam depositários de entulho

Fenômenos naturais também afetam regimes de chuvas

Mas não só os fatos provocados pelo ser humano respondem pelos desastres decorrentes da atual crise hídrica. Há fenômenos naturais como o El Niño e La Niña que estão interferindo no ambiente. Esses processos resultam de interações entre o oceano e a atmosfera e muito contribuem para os extremos climáticos em todo o mundo.

Quando acontece o El Niño, sucede um aquecimento anormal das águas de superfície do Oceano Pacífico Tropical. Já o La Niña chega com características opostas e causa o esfriamento anormal nas águas. Ambos alteram o clima regional e global, mudam os padrões do vento e afetam os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. Em época de El Niño as chuvas costumam ser mais fracas. Nos anos de La Niña, as chuvas são intensas.

O fenômeno El Niño ocorre irregularmente em intervalos de 2 a 7 anos, tendo como média de frequência 3 ou 4 anos. Seu tempo de duração costuma ser de 12 a 18 meses.

La Niña ocorre também em intervalos de 2 a 7 anos, mas com duração de 9 a 12 meses. Segundo cientistas, alguns desses eventos persistem por mais de dois anos.

Tempo da crise

Para os pesquisadores, a mais grave crise hídrica da história dos últimos 91 anos poderá se estender no Brasil pelo menos até a próxima primavera. Enquanto isso, racionamentos e apagões, provavelmente, farão parte da rotina de todos.

A situação da Represa de Itupararanga está cada vez mais grave: onde havia água agora cresce o mato.

“A água não é uma doação gratuita da natureza;
ela tem um valor econômico:
precisa-se saber que ela é, algumas vezes,
rara e dispendiosa
e que pode muito bem escassear
em qualquer região do mundo.”

(Declaração Universal dos Direitos da Água. Artigo 6º. Organização das Nações Unidas, em 22/3/1992)


O rio por um fio

Retrato:

Fotos: José Otávio Finessi, Sandra Nascimento.


Referências: infoescola.com/clima/la-nina; agrosmart.com.br/blog/el-nino-e-la-nina-entenda-seus-impactos-no-brasil; agrolink.com.br/noticias; enos.cptec.inpe.br; ecoa.org.br; aguasustentavel.org.br; cebds.org/publicacoes/crise-hidrica-no-brasil; brasil.elpais.com/noticias; Jornal Cruzeiro; Portal Porque.

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