JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - Antes de mais nada, quero registrar um protesto enfático, irritado mesmo contra o maldito cacófato e todos – jornalistas, políticos, médicos, cientistas, até mesmo professores – que se renderam a ele sem a menor resistência. Cacófato evidente, feio, evitável e -- já que aceito, apesar de evitável -- vagabundo, por meio do qual as palavras “por” e “covid”, escritas ou faladas assim, em sequência, evidenciam de forma grosseira a palavra “porco”: “porco vid”.
Como destruir um relacionamento quase perfeito com uma pergunta
JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - Raíssa era tão linda quanto insegura. Vivia a testar André, o namorado, com dúvidas que haviam se tornado como que um joguinho para o casal. – E se eu fosse atropelada e tivesse que amputar as pernas, bem aqui, no alto das coxas: você ainda me amaria?
História de hospital
JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - Se eu fosse raso, poderia supor um diálogo possível e me apegar a ele. Mas a verdade é que qualquer coisa que eu imagine não tem valor nenhum.
Triumpus Cupidinis
LUIZ PIEROTTI (Blog Máquina do Mundo) - Para mim, o amor é uma tarde de outono, de céu azul, sol frio e passos alheios entre folhas secas que dançam pela calçada. Para mim, o amor é a textura do moletom sobre a pele, o cabelo despenteado, a manhã que, acompanhada pelo bocejo dos pássaros, preenche o espaço com uma aquarela perfeita. É o óculos que embaça no primeiro gole de café. As vezes, ele – o Amor – toma forma, tal qual um deus grego que prega peças entre os finitos.
Vovô Elvis
JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - (...) Daquela vez foi diferente. Depois daquela conversa, a monotonia das tardes e manhãs passou a ser interrompida pela voz daquele já alquebrado senhor, sempre engalanada por uma certa impostação que, embora tênue e, como se diz popularmente, “pequena”, fazia mesmo lembrar, ainda que vagamente, o jeito de cantar do rei do rock.
Sofrimento eterno
JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - Um homem morreu e agora se encontra diante de um pórtico de fogo.
A encomenda
JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - "Tá doido? Como posso ficar com um pacote sem saber o que tem dentro? Pode ser um veneno, uma coisa radioativa. Uma bomba caseira, uma maldição, uma jura de morte, um rato morto."
Jornada III: Diante da Lei
LUIZ PIEROTTI (Blog Máquina do Mundo) - Em 1919, Franz Kafka escrevia um pequeno conto em que propunha a ideia de que a Lei era um lugar físico e para ser admitido em tal local, era necessário adentrar uma porta vigiada pelo Guardião da Lei. A dinâmica simples torna-se um exercício de autocrítica ao percebermos que essa admissão se dá como reflexo de nossas próprias escolhas que, por vezes, destoam de nossa noção ética e moral.
A invenção da Humanidade (conto)
JOSÉ CARLOS FINEIS (Blog Conversa de Armazém) - A menina tremeu quando seu pensamento avançou um pouco mais e abarcou a ideia, até então jamais pensada por alguém, de que podia romper com as regras da tribo. Seu coração pulsou forte quando constatou que podia, se quisesse, morrer com aquele homem -- o único, dentre todos, que a cobria de agrados, ora levando-lhe as frutas mais vistosas que conseguia encontrar, ora sorrindo para ela e abraçando-a, ora passando as mãos em seus cabelos.
Vídeo: No caminho com Miguel Torga
PAULO BETTI (Blog do Paulo Cabra) - Antes de vir para Portugal para uma turnê de três meses com minha peça “Autobiografia Autorizada”, resolvi me atracar com autores portugueses: Valter Hugo Mãe, Lobo Antunes, Ricardo Araujo Pereira, Isabela Figueiredo e o pungente “Luanda, Lisboa, Paraíso” de Djaimilia Pereira de Almeida...
Zé Muleque, o leva e traz (conto). Parte 3 (final): Nada que um bolo não resolva
JOSÉ CARLOS FINEIS (Conversa de Armazém) - "Ora, quem diria. O filho do velho boticário meu amigo bancando jagunço de novela. Seu pai era um grande homem e deve estar lá no Céu, morrendo de vergonha de você, seu corno manso. Quem mais está aí? Venham aqui para a frente. Sejam homens, saiam das sombras. Vamos conversar e resolver a situação com saliva, pois com chumbo, não sei se vocês perceberam, alguém certamente não vai dormir em sua cama esta noite."
Zé Muleque, o leva e traz (conto). Parte 2: Uma cabeça prestes a rolar
JOSÉ CARLOS FINEIS (Conversa de Armazém) - Às vezes me esqueço que agora sou contista, e não mais um escrevinhador de notícias policiais. A cabeça decepada que no noticiário sensacionalista aparece logo no título pode, na narrativa literária, ser cortada aos poucos, ou na última linha, ou, se o texto for uma obra aberta, até mesmo permanecer como uma sugestão ou um mistério, para que o leitor tire livremente suas conclusões do que pode ter ocorrido e a quem.
Larissa e Joana (conto). Parte 2 (final): O amor verdadeiro vai encontrar você
JOSÉ CARLOS FINEIS (Conversa de Armazém) - Nos dias seguintes ao primeiro encontro (creio que foi numa quarta ou quinta-feira), Larissa e Joana pensaram muito no trato que haviam feito. A bem da verdade, refletiram sobre o assunto de maneira quase obsessiva, talvez porque as intrigasse uma ideia que ocorreu a ambas – a de que pudessem ter sido levadas por algum motivo desconhecido por elas mesmas, alguma intenção não consciente que não fosse apenas a de reunir-se para conversar.
Larissa e Joana (conto). Parte 2 (final): O amor verdadeiro
JOSÉ CARLOS FINEIS (Conversa de Armazém) - Nos dias seguintes ao primeiro encontro (creio que foi numa quarta ou quinta-feira), Larissa e Joana pensaram muito no trato que haviam feito. A bem da verdade, refletiram sobre o assunto de maneira quase obsessiva, talvez porque as intrigasse uma ideia que ocorreu a ambas – a de que pudessem ter sido levadas por algum motivo desconhecido por elas mesmas, alguma intenção não consciente que não fosse apenas a de reunir-se para conversar.
A sedução do abismo (conto). Parte 2: A arte de construir sobre o vazio
JOSÉ CARLOS FINEIS - Um murmúrio subiu desde a multidão quando, lenta e cuidadosamente, passei a perna esquerda por sobre o peitoril e fiquei sentado lado a lado com Regina, os pés apenas recostados no concreto pelos calcanhares, sem poder contar com uma saliência, um ponto de apoio para as pernas. Eu tinha uma desvantagem, que era de não conhecer Regina nem saber o que a levara a cogitar o suicídio.
A sedução do abismo (conto). Parte 1: Uma executiva na janela
JOSÉ CARLOS FINEIS - "Então vamos fazer assim. Em vez de eu falar sobre mim, você fala. Mas pelo amor de Deus, não quero ouvir essas máximas idiotas que as pessoas publicam nas redes sociais. Você tem até as seis para dizer tudo o que puder para me fazer mudar de ideia. Eu prometo ouvi-lo e considerá-lo. Antes disso não vou pular, a menos que algum idiota tente me tirar à força daqui."
A felicidade possível passou por aqui (conto). Parte 2 (final)
JOSÉ CARLOS FINEIS - A deserção de Bebeto não ocorreu do dia para a noite. Os sinais de que ele não estava disposto a assumir o casamento estavam presentes desde os primeiros dias. Mesmo assim, a maneira como pulou fora surpreendeu muitas pessoas – Paula, inclusive –, à vista das quais ele amava a esposa,... Continuar Lendo →
O sonho emprestado (conto). Parte 3 (final): Até onde minha música chegar, você estará comigo e será parte dela
JOSÉ CARLOS FINEIS - No dia seguinte, logo cedo, Quim procurou os pais de Clara no bar onde trabalhavam e teve com eles uma conversa confusa, entrecortada pelo atendimento aos clientes. Não que eles não entendessem o idioma. Não entendiam exatamente o que esse tal de Francisco queria com a filha deles. Quim gaguejou várias... Continuar Lendo →
O sonho emprestado (conto). Parte 2: O triste refúgio à prova de vida de Francisco, o solitário
JOSÉ CARLOS FINEIS - Francisco não era infeliz com a vida que escolhera para si. Ao menos, não antes de o som da flauta virar seu mundo de ponta-cabeça. Pelo contrário. Era lá, em seu bunker superprotegido por grades, cadeados, correntes, vidros blindados, câmeras e sistemas de alarme com sensor de presença que ele se... Continuar Lendo →
O sonho emprestado (conto). Parte 1: Sobre homens, flautas e parafusos
JOSÉ CARLOS FINEIS - É curioso notar como detalhes insignificantes, coisas aparentemente sem importância, podem ter grandes repercussões para indivíduos, países e até para a humanidade. Sabe aquele parafuso que o mecânico esquece de apertar ao recolocar a tampa da caixa de não sei o quê na fuselagem do avião, antes de liberá-lo para o... Continuar Lendo →
O incrível golpe da máquina de fazer dinheiro (conto). Parte 2 (final): Liberdade, abre as asas sobre nós!
JOSÉ CARLOS FINEIS - Almofadinha tinha uma resposta convincente para tudo. E uma qualidade que só os mentirosos profissionais dominam: a de responder olhando nos olhos, por mais absurda e improvável que fosse a resposta. Pelos dias em que a “família” começou a se reunir e a elaborar o golpe, Bacuri, Bernardo e madame Chevalier... Continuar Lendo →
O incrível golpe da máquina de fazer dinheiro (conto). Parte 1: Da arte de pescar lambaris
JOSÉ CARLOS FINEIS - Quem os visse lado a lado jamais imaginaria que poderiam ter algum relacionamento entre si e, mais que isso, ser amigos e sócios num dos negócios mais lucrativos do alvorecer do século XX (depois, é claro, dos bancos e da política): a aplicação de golpes em pessoas bobas, mas que se... Continuar Lendo →
Incontáveis existências, infinitos universos (conto)
JOSÉ CARLOS FINEIS - Não vale a pena me aprofundar em detalhes sobre como eu morri. Basta dizer que, num momento, eu acelerava a moto para abrir caminho no frio noturno e, no instante seguinte, eu e a moto flutuávamos a mais de dois metros do chão, catapultados por uma lombada mal sinalizada. Nosso voo... Continuar Lendo →
A caça ao monstro (conto). Parte 2 (final): Nunca use uma arma sem estar pronto para morrer também
JOSÉ CARLOS FINEIS - Depois do suicídio do velho Ezequiel, nós todos da aldeia nos esforçamos por pensar mais no trabalho e menos na tragédia, até porque não se pode deixar as criações e a lavoura ao deus-dará. Nem bem o velho baixou à cova, cada qual retomou sua rotina, que só foi alterada no... Continuar Lendo →
O amor acabou. Devo me separar? (final)
JOSÉ CARLOS FINEIS - Priscilla terminou de responder ao questionário numa tarde de céu limpo e pássaros no jardim, cuja beleza ela admirava da varanda mas não conseguia sentir. Quando começou o teste, ela achava que estava preparada para confrontar-se com seus sentimentos e emoções, mas não estava. Dia após dia, noite após noite, foi... Continuar Lendo →
O amor acabou. Devo me separar? (conto) – Parte 2 (final)
JOSÉ CARLOS FINEIS - Priscilla terminou de responder ao questionário numa tarde de céu limpo e pássaros no jardim, cuja beleza ela admirava da varanda mas não conseguia sentir. Para ler a primeira parte deste conto, clique aqui. Quando começou o teste, ela achava que estava preparada para confrontar-se com seus sentimentos e emoções, mas... Continuar Lendo →