LÚCIA HELENA DE CAMARGO – “Boneca Russa” (“Russian Dool”, Netflix, 2019), que estreou no streaming em fevereiro, é dessas séries cuja premissa provoca a curiosidade. A mulher, Nádia (Natasha Lyonne, conhecida pela atuação em “Orange is the New Black”) morre todos os dias. Ou quase todos. E sempre retorna, após morrer, ao mesmo banheiro da casa da amiga, no dia de sua festa de aniversário.
Classificada como comédia dramática, tem roteiro criado pela própria atriz, juntamente com a comediante Amy Poehler e Leslye Headland. Há certo humor, porque a protagonista é do tipo durona, que não leva desaforo para a casa, responde às gracinhas com verdades que desmoronam seus interlocutores, fuma, bebe e faz sexo com lhe dá na telha. E há o humor negro embutido em cada uma das sequências nas quais ela morre.
A história inclui um gato que escapa, lembranças de infância, frutas podres, possíveis problemas psiquiátricos ou um rasgo em alguma dobra do espaço-tempo que pode alterar a sequência de eventos na vida dessa mulher e também e de pelo menos mais uma pessoa (que não convém contar quem é para os preocupados com spoilers não reclamarem).
Pois bem. A trama é intrigante e os acontecimentos vão somando possíveis pistas, para que se tente desvendar porque diabos ela morre todo dia, qual a explicação para o mistério e o sentido disso tudo.
Boa sorte, se quiser tentar. De minha parte, tenho a dizer que o final foi decepcionante e fraco. Bateu aquele sentimento de que perdi meu tempo vendo os oito episódios (30 minutos cada, portanto quatro horas da minha vida que não voltam mais) da série. As razões apresentadas para algumas ações são pífias, outras de uma breguice contumaz, que não combina com o sarcasmo afiado do começo. A impressão é que um roteirista diferente escreveu somente o último episódio, na tentativa de conferir um desfecho plausível às maluquices antes mostradas. O problema é que ficou desconexo e sem graça. OK, pode ser que manter as teorias em aberto seja proposital, na tentativa de jogar a isca para uma possível segunda temporada. Os produtores podem alegar ainda que a falta de uma conclusão decente vai na linha “deixar a obra aberta à interpretação”. Não compro essa ideia. Ficaram pontas soltas em número grande demais.
Existe uma regra básica nesse negócio: você não pode simplesmente enganar o espectador e esperar que ele continue fiel. Eu me senti enganada.Teriam que ter saído muitas outras bonequinhas menores de dentro da boneca grande para satisfazer minha curiosidade.
Deixe uma resposta