FREDERICO MORIARTY – Woody Allen inventou Zelig em 1983. Talvez o mais genial dos seus filmes. Usando técnicas (hoje pré-históricas) de chroma key (fundo verde), ele botou seu personagem quase real nos anos 1920/30. Na foto, vemos Zelig em reunião com Al Capone. Zelig é um cidadão médio inexpressivo. Porém tem um dom/doença: transmuta-se instantaneamente em quem o cerca.
O escritor Francis Scott Fitzgerald é o primeiro a observá-lo. Um homem da nobreza, voz empolada, discutindo aristocraticamente numa festa entre ricos. Minutos depois o autor de O Grande Gatsby o vê entre os serviçais discutindo política e criticando a porca burguesia. Zelig é um camaleão. Adquire as falas e comportamentos de quem está próximo num átimo. Aos poucos vemos que não são só os trejeitos e a cultura que Zelig adquire, mas também a fisionomia do personagem copiado. Zelig chega até a virar negro e índio.
A mídia o descobre, o que o torna famoso, uma celebridade. Passa por terapias. O mundo precisa explicar Zelig. Vira um Freud e passa a ditar conselhos. Mas logo cai em desgraça. O homem zero, o homem sem identidade, o homem sem personalidade, desaparece tão rapidamente quanto surgiu. Zelig foge desesperadamente para a Alemanha. Claro, vira nazista.
Não me irritam os Gatsbies muito menos os garçons da aristocracia. Quem nos mata são esses batalhões de Zeligs que povoam nossos dias. Aquelas figuras insossas, noturnas, que tem sempre uma desculpa para as escolhas pessoais sem firmeza. Aqueles que apenas acompanham a maré. Nunca serão alguém. Podem até ter sucesso, grana, fama, mas apenas passarão pela vida, dando desgosto a tantos, trazendo tanto desamor. E o que é pior, em dias de hoje, governar o país. São estes homens e mulheres zero que têm a capacidade de nos jogar no abismo.
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Obrigado Luh, minha musa
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