
Magistral Vicente Huidobro…
Evandro Affonso Ferreira
Hoje me deu vontade de ler um trecho de um poema de Vicente Huidobro, poeta chileno maravilhoso…
Pílula do dia

Fragmentos, de Novalis


Nasceu em 1772, morreu em 1801. Viveu pouco, vida pouca, mas intensa: nos tempos de sua estadia na Universidade de Jena, e mais tarde em Leipzig, lidou de perto com os poetas e filósofos do Romantismo, ou idealistas, e foi por eles bastante influenciado. Lista extensa: Schiller, Goethe, Herder, entre outros. Sua linguagem é limpa, cristalina. Escreveu, entre outros, Hinos à noite e Heirich von Ofterdingen.
Trechos de livro:
Eu tenho por Sophie religião – não amor. Um amor absoluto, independente do coração, fundado na fé, é religião.
…………
Ao acreditar que Sophie está à volta de mim e que pode aparecer, ao agir em conformidade com esta crença, então ela está, também, à volta de mim – e decerto me aparecerá, por fim – precisamente aí onde eu não supunha – em mim, como minha alma, talvez, etc. e, justamente por isso, verdadeiramente fora de mim – porque o verdadeiro exterior não pode agir em mim, sobre mim, senão através de mim – e em circunstâncias encantadoras.
Entrevista: Ondjaki

O poeta e a sombra
Poeta angolano, nasceu em Luanda. Interessa-se pela interpretação teatral e pela pintura (duas exposições individuais, em Angola e no Brasil). Licenciado em Sociologia. Menção honrosa no Prêmio Antônio Jacinto (Angola), ganhou o Grande Prêmio de Conto Camilo Castelo Branco (Portugal), Prêmio Jabuti (Brasil), Prêmio Grinzane (Etiópia) e Prêmio Literário José Saramago (Portugal). Escreveu vários livros, entre eles Bom dia camaradas, O livro dos deslembramentos e Momentos de aqui.
Evandro Affonso Ferreira – Costumo dizer que sou muito afetivo, pegajoso, motivo pelo qual gostaria que Deus fosse palpável? Afinal, procurar Deus é querer apalpar plenitudes?
Ondjaki – Eu creio que o fundo do poço é mais embaixo: há que descobrir um Deus que nos sirva. Como sapato, sandália, piso. Descobrir Deus fora de nós é quase fácil, o pior é o dentromente… Exige revisão. Re-visão também.
Evandro – Agora, depois de velho, tenho conseguido polir os avanços com o verniz da parcimônia. E você? Já se afeiçoou aos recuos? É condescendente com os retrocederes?
Ondjaki – Sou um retrocedentista militante, de acordo o mais-velho Odorico. Segundo uma das minhas 17 avós, eu nasci velho. A minha esperança é morrer novinho ou parecido com isso. (Aprendi ainda no tai chi a recuar mais do que avançar. É uma espécie de equilíbrio e de delicadeza. a gente vai inventando e sendo.)
Evandro – É possível rastrear lampejos?
Ondjaki – É mais possível farejar o olhar do peixe quando chora fora de água. O meu avô pescador dizia que difícil mesmo é saber escutar o vento antes da tempestade. Ou isso, ou as pegadas no céu das nuvens. O que é pressentido pela invenção é de grande sabedoria também.

Evandro – É aconselhável, vez em quando, se refugiar, resignante, nos estupefatos?
Ondjaki – E na poesia também. Ser pisado pelo barro, pelo Barros. O amor costuma vir às escondidas, o prazer nem tanto. Uma vez era criança e tentei rebocar um porco de marcha ré. E ele deixou. As marcas no chão fizeram desenhos de flor. E ele comeu o chão. Aos poucos. A tia Maria pensou que o porco estava maluco. Eu ainda avisei: eu acho que isso é só ele a dar marcha-a-frente.
Evandro – Você já ensinou seu próprio olhar a refutar angústias e todos os seus apetrechos melancólicos?
Ondjaki – Uma vez inventei para mim um certo espanador de tristezas. Gaguejava ao fim da tarde. Espertava pela madrugada. Tinha uma luz inclinada para pirilampo. Mas arrumado entre certas mãos, dá candura aos momentos difíceis.
Evandro – Costumo esbarrar, distraído, tempo quase todo na precipitação. E você?
Ondjaki – Eu costumo chover por dentro. De resto, tento passar despercebido perto dos hospitais e das casas que amarram os loucos. Uma vez um camponês do Sul de Angola disse que “os níveis pluviométricos andavam muito baixos”. E eu gostei daquelas palavras dançantes.
Evandro – Você já aprendeu a farejar com antecedência uma rua sem saída?
Ondjaki – Eu cresci perto de um lago sem saída, mas que dava para um córrego escondido e árvores verde-escuras. Habituei-me assim a descobrir passagem nos não lugares. Depois encontrei também a poesia e me salvei do resto.
Evandro – E quando você pretende empreender tarefa de confeccionar caminhos, mas percebe que seus passos não se adaptam às probabilidades peregrinas?
Ondjaki – Aí sim, há que farejar. Às vezes a viagem está no bom abraço dos amigos. Às vezes na margem de um poema. Eu viajo muito pelas mãos de outros alguéns, pelos seus olhares, até os trejeitos. Uma vez vi uma lesma atravessar o quintal e fiquei mais cansado do que ela.
Evandro – Você já inventou, para consumo próprio, símbolo gráfico indicativo para ajudá-lo a seguir os próprios instintos?
Ondjaki – Nunca nem ainda. Aguardo uma pintura rupestre que ilustre todo esse lado do instinto. Desconfio que certas plantas verdes podem virar bússola da sensibilidade. Louvado seja o Bob. O marley.
Evandro – E as certezas? Vida toda ultrapassamos, se tanto, o pórtico do talvez?
Ondjaki – A avó da Ana (uma amiga) disse que desconfiava que no fim dos seus dias ia morrer. Um pescador também me disse que tinha quase certeza que depois de todo o mar, vinha ainda mais mar. O Fernando pessoas brincava de ser vários. Riobaldo nunca bem soube, mas Diadorim sabia muito bem. Quem nasceu primeiro: o rio ou a margem…? Esperto foi o caranguejo que começou a andar pelas beiradas.
Desenho: Ondjaki Desenho: Ondjaki
Fragmentos
Dias seguidos caminhando manhãs inteiras em volta do mesmo quarteirão pensando nas bem-aventuranças passadas – hoje cedo reconheceu no chão próprias pegadas pretéritas impressas pela saudade.
Jactâncias

Livros de minha autoria
1996 – Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000 – Grogotó! (Topbooks)
2002 – Araã! (Hedra)
2004 – Erefuê (Editora 34)
2005 – Zaratempô! (Editora 34)
2006 – Catrâmbias! (Editora 34)
2010 – Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012 – O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014 – Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016 – Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017 – Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018 – Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019 – Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020 – Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021 – Rei Revés (Record)
Foto principal
(As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos).
As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)
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