Hoje, entrevista com Reinaldo Moraes


Rei Revés

Evandro Affonso Ferreira

Eu tenho uma novidade: meu novo livro pela Editora Record, cujo título é Rei Revés...


Pílula do dia


Perguntas insólitas


Nove estórias, de J. D. Salinger

Alcir Pécora comenta:


Entrevista: Reinaldo Moraes

Escritor, cronista, tradutor, roteirista – paulista. Graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas. Já traduziu William S. Burroughs, Charles Bukowski, Thomas Pynchon, Jean Cocteau, entre outros. Fez roteiros para filmes, novelas. Escreveu-publicou um bocado de livros geniais.


O escritor devastador e o crítico idem, idem


Evandro Affonso Ferreira – Costumo dizer que sou muito afetivo, pegajoso, motivo pelo qual gostaria que Deus fosse palpável. Afinal, procurar Deus é querer apalpar plenitudes?
Reinaldo Moraes – Prefiro a Gertrudes a quaisquer plenitudes. Conhece a palpabilíssima Gertrudes? Se pedir, ela te manda uns nudes em diversas latitudes e longitudes.

Evandro – Agora, com o passar do tempo, tenho conseguido polir os avanços com o verniz da parcimônia. E você? Já se afeiçoou aos recuos? É condescendente com os retrocederes?
Reinaldo – Sou como Minas Gerais: um passo pra frente, cinquenta pra trás.

Evandro – E as certezas? Vida toda ultrapassamos, se tanto, o pórtico do talvez?
Reinaldo – Quizás! Quizás! Quizás!

Evandro – Você já ensinou seu próprio olhar a refutar angústias e todos os seus apetrechos melancólicos?
Reinaldo – Entrego essa nobre função às drogas e ao álcool.

Evandro – Costumo esbarrar, distraído, tempo quase todo na precipitação. E você?
Reinaldo – Lá em Salvador, tem um restaurante com uma tabuleta: “A pressa é inimiga da refeição.” Quem se precipita é precipício visto do alto.

Evandro – Você já foi o etecetera da frase de alguém?
Reinaldo – Sim, já me senti incluído em etcétaras, assemelhados e que tais. Nada de muito honroso.

Evandro – E quando você pretende empreender tarefa de confeccionar caminhos, mas percebe que seus passos não se adaptam às probabilidades peregrinas?
Reinaldo – Aí calço as sandália franciscanas da humildade. Tenho um par em casa pra qualquer eventualidade.

Evandro – Você já inventou, para consumo próprio, símbolo gráfico indicativo para ajudá-lo a seguir os próprios instintos?
Reinaldo – sim: o dedo médio espetado no ar.

Evandro – E a solidão? É aquele invisível, ali, carente de apalpamentos?
Reinaldo – Só encontro boa companhia na solidão. Como diz o Bukowski, não tenho nada contra os outros. Só prefiro que fiquem longe de mim.

Evandro – É possível rastrear lampejos?
Reinaldo – Imagino que sim. Consta que é possível até fabricar um lança-lampejos com um isqueiro e uns bons peidos.

Evandro – E a verdade? Procurá-la seria tentar praticar acrobacias com poção de éter que sempre foge ao controle da tampa do frasco?
Reinaldo – Meu querido Evandro, verdade verdadeira só há uma única nesta vida. Mas acabo de esquecer qual é. Mas acho que tem algo a ver com forno crematório.


Fragmentos

Nossa ontológica personagem esquadrinhou dia desses quantidade exagerada de antepassados — descobriu que sua árvore genealógica carece de ramagens viçosas.


Motejos


Livros de minha autoria

1996Bombons Recheados de Cicuta (Paulicéia)
2000Grogotó! (Topbooks)
2002Araã! (Hedra)
2004Erefuê (Editora 34)
2005Zaratempô! (Editora 34)
2006Catrâmbias! (Editora 34)
2010Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus (Record)
2012O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record)
2014Os Piores Dias de Minha Vida Foram Todos (Record)
2016Não Tive Nenhum Prazer em Conhecê-los (Record)
2017Nunca Houve tanto Fim como Agora (Record)
2018Epigramas Recheados de Cicuta – com Juliano Garcia Pessanha ((Sesi Editora)
2019Moça Quase-viva Enrodilhada numa Amoreira Quase-morta (Editora Nós)
2019 – (Plaquetes) – Levaram Tudo dele, Inclusive Alguns Pressentimentos, Certos Seres Chuvosos não Facilitam a Própria Estiagem e Anatomia do Inimaginável.
2020Ontologias Mínimas (Editora Faria e Silva)
2021Rei Revés (Record)


Foto principal

As fotos que abrem este blog pertencem ao meu futuro livro, Ruínas. Passei um ano fotografando paredes carcomidas pelos becos, veredas, ruas do centro, e de alguns bairros paulistanos.

As imagens apresentam uma concretude pobre e miserável, de ruína mesmo, que na sua própria deterioração encontra rasgos inesperados de um refinado expressionismo abstrato – força das paredes arruinadas e das tintas expressivas do tempo. (Alcir Pécora)

Capa: Marcelo Girard

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