FREDERICO MORIARTY – Passei por agora em frente ao hospício. Uma das casas de loucos que me tio viveu. Está abandonada. Muros pichados, portão alquebrado e ao fundo se consegue ver o prédio central em ruínas. O prédio hoje é uma metáfora do que fizeram com meu tio e outros doidos varridos: cérebros fritados, corpos dilacerados, existência apagada. O ônibus se afastou e vi a bela área ao redor. O hospício era uma imensa chácara arborizada

Passou-me à cabeca: precisava de uma temporada ali. Aos poucos começou a rodar o filme da minha vida atual. A insanidade da vida, do trabalho e dos afetos. Sair todo dia de casa e encontrar pessoas oficialmente sãs de quem não gosto, dialogar com surdos, esperar algo dos que me cercam e nunca acrescem. Tudo para trazer o sustento para o meu teto. Deixo de lado as horas, dias, meses e os sonhos. Enterro na gaveta do fim do mundo aquilo que nunca farei. Abandono minhas filhas em busca do ouro e torro meu cérebro pra conseguir o capital necessário. Uma troca injusta, uma escolha descabida. Tudo que me é caro e prazeroso se desfaz nas esquinas cheias de carros e fumaça. Não, eu realmente não preciso entrar num hospício. Preciso é sair do meu hospício.

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